Nos anos 1980, alguns funcionários da recém-inaugurada Penitenciária de Pirajuí (P1) presenciaram uma cena inusitada com o saudoso Nico Loko.
Sem saber muito bem do que se tratava aquela situação, o popular charreteiro acabava de levar visitantes dos presos até a localidade prisional, que fica a 3 km da área urbana. Ao se deparar com detentos do regime semi-aberto, o condutor da carroça percebeu que, no tempo frio, eles estavam trabalhando à beira da estrada com vestes não tão grossas.
Nico Loko não pensou duas vezes. Teimoso, começou a tirar sua blusa e seus calçados, querendo entregar para os presidiários – o que, por razões óbvias, não foi permitido. Não estava aguentando ver aqueles homens, mesmo se tratando reeducandos, passar frio.
Essa cena mostra bem o tipo de pirajuiense que foi Antonio Pereira, que quase nunca era chamado assim, mas sempre pelo diminutivo Nico e o apelido que, inclusive, passou a seus filhos, “Loko”.
Chegada à região
Nascido em 1924, na cidade de São José do Rio Pardo (SP), terra onde o jornalista e escritor Euclides da Cunha escreveu seu livro Os Sertões, Pereira passou a adolescência e juventude em Presidente Alves.
Viria para Pirajuí na década de 1950, onde passaria a exercer a profissão que o deixou conhecido em toda região.
Nico Loko e o ponto de charretes
Apesar de ter existido em outros locais da cidade, o ponto de charretes mais famoso de Pirajuí era o localizado ao lado do então Mercado Municipal, próximo à Rodoviária e hoje comércio Barão das Tintas.
Ali era a concentração das charretes, dos animais e seus inesquecíveis bebedouros, além, é claro, da figura dos cocheiros urbanos profissionais – esse era o nome do registro desses condutores.
Vejam só que relíquia, o documento do cocheiro José Zago, que não chegou a trabalhar no ponto, mas que tinha habilitação para isso!
O ponto de charretes teve ainda mudanças de local, mas o avanço dos meios de transporte acabou por, naturalmente, diminuir o uso desse meio de transporte. Uma tendência que se expandiu por todo país – hoje em dia, até as atividades mais turísticas estão sendo extintas, por legislações de proteção aos animais.
Em Pirajuí, os últimos anos do ponto de carroças foram ainda entre as décadas de 1990 e 2000. Tinha até o telefone do ponto na lista telefônica.
Assumir a profissão de charreteiro foi uma evolução natural para Nico Loko. Afinal, era um apaixonado por cavalos e, durante toda a vida, cuidou e se interessou por qualquer coisa relacionada a esse tema.
Como lembra o filho Mario Loko, que por sinal foi quem forneceu todo o material para este artigo, foi do ponto de charretes que, desde os anos 1950, Nico Loko tirou o sustento de toda a família. Ao lado da esposa Vanda, falecida em 2017, criou três filhos, com o dinheiro que recebia das incontáveis corridas efetuadas.
O preço era único. Aliás, o preço para a cidade de Pirajuí era único. Isso mesmo que você acabou de ler: o charreteiro até se cansou de tanto fazer viagens intermunicipais de carroça! Ia para Reginópolis, Presidente Alves e Guarantã – sempre por caminhos alternativos, é claro.
Em 1997, o coração bondoso de Nico Loko, que mal cabia na sua charrete, parou de bater, após um mal súbito. Foi o fim de uma história de vida em cima da carroça e o início de tantas outras, causadas pelas boas lembranças desse personagem inesquecível da história de Pirajuí!
Izilda Machado
23/05/2021 — 14:17
Andamos muito na charrete do Nico Loko! Saudades da minha infância em Pirajuí. Grande Nico Loko!