A arqueóloga Niède Guidon morreu nesta quarta-feira (4), aos 92 anos, em São Raimundo Nonato (PI), mas viveu em Pirajuí, interior de São Paulo, durante a adolescência.
O local de sua morte foi, justamente, onde dedicou grande parte da vida à preservação e pesquisa da Serra da Capivara — que ajudou a transformar em Patrimônio Mundial da Humanidade.
Reconhecida internacionalmente por contestar a teoria clássica do povoamento das Américas com evidências de ocupações humanas de até 32 mil anos no Brasil, Guidon deixa um legado científico e cultural inestimável para o país e para o mundo.
Este artigo reúne uma miscelânea de informações, excertos e relatos que tratam da passagem da arqueóloga pelo município.
A passagem de Niède Guidon em Pirajuí
Apesar de ter nascido em Jaú (SP), em 1933, após o falecimento de sua mãe, Cândida, de forma precoce, depois de dar à luz ao irmão mais novo, Cândido Henrique, a pequena Niède mudou-se para Pirajuí, depois que seu pai, Ernesto Guidon, se casou novamente. Da segunda união nasceram mais dois irmãos, Ernesto e Antônio. Sem citações de datas específicas, supõem-se que essa movimentação ocorreu no decorrer dos anos 1940.
É importante ressaltar que na biografia de um ícone, de renome internacional, e nonagenária, os trechos de parte de sua infância e adolescência não são tão simples de ser encontrados ou, mesmo, citados em pesquisas e entrevistas.
Estamos falando de fatos que se desenrolaram há quase um século!
Ainda assim, é possível notar a citação de Pirajuí em alguns relatos de Guidon, como nessa entrevista, do Museu da Pessoa, no YouTube:
“Eu comecei a estudar em Jaú, a fazer o grupo escolar lá, como se chamava naquela época. Depois meu pai foi e, minha mãe faleceu eu tinha seis anos, meu pai se casou de novo e depois ele foi transferido para Pirajuí. E daí então eu fui pra Pirajuí com a família e lá eu terminei o curso primário, depois fiz secundário, ginásio como se chamava. E depois eu fui fazer o científico em Campinas”.
O conterrâneo Paulo Miranda replica as frases de sua tia, Thereza Celina. “Lembro de um testemunho direto da minha tia, que estudou com a Niède, filha do Dr. Guidon – a família morou por muito tempo na cidade. Ela contava que minha avó dizia a ela: ‘Thereza! Vá fazer suas tarefas com a Niède. Ela é muito inteligente!'”
Vitor Pereira Eça relembra o inesquecível professor e diretor Olavo. “Meu pai sempre falava dela”. A escola onde “Olavão” foi diretor por muitos anos foi a que recebeu a arqueóloga.
A diretora da hoje E. E. Alfredo Pujol, Andréa Porcino de Souza, confirma que há registros dela no local, ainda da época que se chamava Instituto Educacional Dr. Alfredo Pujol (Iedap).
A pirajuiense Célia Regina Ramos Siqueira chegou a visitar pessoalmente a Dra. Niède. “Fui à Serra da Capivara para conhecer esse lugar incrível com a agência Ambiental. A pessoa que me recebeu, Rosa, é o braço direito da arqueóloga. Então, contei que eu era de Pirajuí, que minha mãe tinha estudado com a Dra. Niède e que eu gostaria de conhecê-la. Foi incrível, ela não recebia ninguém, pois estava adoentada. Mas resolveu abrir uma exceção. Comprei uma cerâmica de presente, coloquei máscara e fui recebida – ela me contou sua vida em meia hora. Me senti muito privilegiada”, relata.
A tão saudosa Neuza Vilela, fez um relato que une a história de Guidon à da minha própria família. “Marcelinho, meu pai dizia que Niéde Guidon morou na casa que ele comprou alguns anos depois e que vendi para seu tio, o professor Jorge Marques. Acredito que seja verdade, que meu pai não estava brincando”!
Durante a ditadura militar no Brasil, exilou-se na França, onde desenvolveu uma carreira acadêmica de destaque. Em 1973, retornou ao Brasil liderando uma missão arqueológica franco-brasileira na região de São Raimundo Nonato, no Piauí.
De Pirajuí, literalmente, para o mundo.