Foi você quem me fez assim

Dona Páscoa: uma Mãe de muitos filhos

Há quase dez anos, falecia Dona Páscoa, uma senhora simpática, de cabelo branquinho curto, de sorrisos e ombros largos, que pareciam prontos para dar um abraço acolhedor em quem lhe cumprimentava em sua casa de muro baixo, localizada entre o Centro e o início da Vila Ortiz.

Com sua morte, Pirajuí virava ali uma página de um aprendizado muito rico para sua formação como cidade e comunidade. Dona Páscoa viveu, de forma intensa, durante absolutamente todos os dias de sua vida, a caridade.

Não, vocês não estão entendendo. Não se trata de ajudar alguém aqui e ali, ou dar uma força em campanha de igreja. Nada disso. Páscoa canalizava suas energias, as ideias e até a sua força física, pelo amor ao próximo.

Os muros baixos de sua casa pareciam ser um sinal dessa bondade. Ali batiam palmas crianças, idosos, famílias inteiras! Sabiam que daquela senhora que sairia na porta, viria algum tipo de conforto para a situação difícil que estavam vivendo: fome, frio, febre.

Dona Páscoa
Família inteira reunida. Foto do acervo pessoal do Lucião Bini

Ajudar, ajudar, ajudar

A oração e a fé funcionavam como a base para os ideais de assistencialismo de Dona Páscoa. Por 40 anos, foi integrante e fundadora da Legião de Maria em Pirajuí.

Ir às missas também significava ter sua presença simpática como Ministra da Eucaristia, entregando hóstias para a comunidade, na hora da Comunhão.

Foi via igreja que Dona Páscoa começou um projeto ousado e revolucionário de amor ao próximo na cidade.

Os dotes culinários e os braços fortes para cozinhar para a família numerosa foram direcionados a outras bocas: a de crianças carentes. Passou a ser voluntária da chamada Cantina Padre João Schur.

Essa obra que levava alegria e muita comida boa, fundamental para a formação e desenvolvimento de tantos pequeninos (hoje homens barbados), funcionou inicialmente na Creche Menino Jesus.

Passados os anos, diante de algumas mudanças, a ajuda não podia parar: a Cantina foi transferida, literalmente, para a garagem da Dona Páscoa! Dá para acreditar?

Recentemente, Gilmar Segato Martinez, o Gil, escreveu na internet que foi uma campanha de Dona Páscoa que serviu como embrião para a fundação do hoje conhecido e fundamental SOS Câncer.

Dona Páscoa
Já bastante debilitada, mas ainda preocupada com a venda de pães para ajudar os mais necessitados

Pão da vida

Farinha, fermento, água, açúcar, sal e uma técnica passada de geração para geração. O resultado: um pão caseiro fofinho, saboroso e de casca dourada, outra marca registrada da vontade de Dona Páscoa em ajudar os outros.

Durante décadas, esse pão foi feito, doado, repartido e vendido – sempre com a intenção de angariar fundos.

Em depoimento de sua neta Camila na internet, ela comenta que, nos últimos momentos da vida, a preocupação de Páscoa era que o pão continuasse a ser produzido – ela precisava ter algum trocado à mão caso alguém pedisse ajuda na sua porta.

E além dos bens fundamentais como matar a fome e cuidar da saúde, outras causas sociais também receberam a atenção da garagem de Dona Páscoa. A construção da hoje sólida e tradicional Capela de São José, na Vila Ortiz, teve ajuda de “tardes de quitutes”, deliciosos, que rapidamente eram comprados ali mesmo na frente de sua casa.

Em 2015, autoridades municipais inauguraram o CREAS de Pirajuí com o nome de Dona Páscoa

Mãe de toda uma comunidade

Páscoa Mascetra Bini nasceu em Monte Alto (SP), em 1931. Nos deixou em agosto de 2009. O sobrenome Bini veio do marido Baldessare, com quem se casou em 1950.

É mãe de Ana Lúcia, Camilo de Lellis, Daisy Maria, Eugênio Vitor e José Lúcio. Avó e bisavó.

Seus filhos e netos – talvez por influência dela – também são muito populares em Pirajuí. Daisy, que hoje é vereadora, mas que foi primeira-dama por duas vezes na cidade, também incorporou a “veia” da assistência social da mãe.

Lembro de minha avó Amélia viver uma vida de gratidão à então chefe da Assistência Social por um remédio caro que Daisy havia, prontamente, lhe conseguido – isso ainda nos anos 1980.

Enfim, Dona Páscoa também era conhecida como Mãe da Ana da Santa Casa, Mãe da Daisy, Mãe do Lucião, Avó da Camila, Avó do Serratinho, muitos outros nomes… Mas sua figura era muito maior que seus laços familiares.

Por alimentar quem teve fome; confortar quem passava frio; proporcionar a tantas crianças a garantia de, pelo menos, uma refeição digna e deliciosa por dia.

Por tudo isso, Dona Páscoa foi MÃE, com letras maiúsculas. Mãe de muitos, aqui em Pirajuí, que hoje, olhando para o céu, lhes desejam parabéns pelo seu dia. Feliz Dia das Mães!

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