Foi você quem me fez assim

Morre Paulinho Cunha: autor do Hino de Pirajuí

Sim, ele foi o autor do Hino de Pirajuí. Mas, mais que isso, Paulo Alcestre Teixeira da Cunha, ou Paulinho Cunha, ou, ainda, o “Piatã” era um apaixonado, um loucamente fanático pela cidade. Como já citei mais que uma vez por aí: era um “Pirajuimaníaco”.

Sua partida pegou uma nação de amigos de surpresa no dia de hoje, aos 78 anos, de uma forma difícil de aceitar – Cunha era muito cheio de vida. Um verdadeiro furacão de entusiasmo e realizações.

Mente brilhante. Enciclopédica. Lembrava, em detalhes, de histórias de 50, 60 anos atrás.

Humor afiado, aliás, refinado. Era capaz de enxergar boas sacadas em praticamente tudo o que lhe dissessem.

Viagens e mais viagens: Cunha conheceu – a trabalho e lazer – praticamente o mundo inteiro

Ele era gigante. Inesquecível – e que jamais esquecia de alguém. Era capaz de memorizar nome das pessoas e saber detalhes da vida dela, fazendo com que se sentisse valorizada.

Não há homenagens suficientes para uma figura como o Paulinho Cunha. Muito além do autor do Hino de Pirajuí, foi um homem que espalhou o nome da nossa cidade para o mundo.

Cidadão do mundo

Tive o privilégio de visitar, algumas vezes, a casa do autor do Hino de Pirajuí. Por sinal, morava numa chácara onde provavelmente deve ter nascido, na rua que leva o nome de seu pai: José Teixeira da Cunha, nos limites da cidade, na Vila Araújo.

Em tempos onde viajar para o exterior ainda era um privilégio de pouquíssimas pessoas, Piatã tinha um mural fotográfico inacreditável na parede. Ali havia seus registros nos lugares mais distintos do planeta Terra. Das ruínas gregas às pirâmides do Egito. Da América Latina ao continente africano.

Jovial, no casamento do compadre Lauro Franzé de Moraes, anos 1980

Seu amor pelo mundo também tinha vínculos profissionais. Além da profissão de engenheiro, junto com a família, atuou em grandes companhias turísticas, que marcaram época na história desse segmento no país.

E detalhe: em cada canto dessas viagens internacionais, Paulinho Cunha fazia questão de lembrar, divulgar e amar sua terra natal, Pirajuí.

Em 1983, ao lado do grupo Amigos de Pirajuí, em São Paulo, que foi um dos criadores e grande incentivador

A história do Hino de Pirajuí

Engraçado notar que a ideia de escolher um hino de Pirajuí partiu de uma pessoa nascida em Avaí (SP), não é mesmo?

Apesar de avaiense, o saudoso comunicador Jota Rodrigues (clique aqui para conhecer sua história) tinha o coração tatuado pelo amor de nossa cidade. À época, final dos anos 1970 e início dos anos 1980, muito bem relacionado com a Rádio Pirajuí e os jornais locais, além de ter influência na Câmara, onde foi vereador, ele teve a ideia de concretizar essa escolha por meio de um concurso cultural.

O amor que Paulinho Cunha tinha por Pirajuí também se divida por sua paixão pela música, os arranjos e as composições. Não deu outra: sua declaração de amor pela terra natal nasceu de seus versos poéticos. Simples e belos. Marcantes (grudentos, vai, aquele trecho do “Pradínia, Estiva e Corredeira” é demais!) e solenes.

Com uma viola acompanhando, caneta e papel, Piatã escreveu:

Rio do Peixe Dourado, cidade de paz e de luz…

Hino de Pirajuí

A partir daí ele narra a história da cidade, suas características geográficas e econômicas. Para finalizar no refrão cravado em nosso peito:

Pirajuí, Pirajuí, pra você, por você eu nasci!

Hino de Pirajuí

A canção foi a vencedora. Nos anos 1980, a versão em voz e viola, gravada em uma fita cassete, foi substituída pela sua roupagem mais conhecida.

A gravação veio de um grupo musical e cultural que efervescia naquele momento: a Krsna’s Land Band. Os artistas, talentosíssimos, reverenciavam à crescente filosofia Hare Krishna – sim, meus amigos, Pirajuí foi uma pioneira nacional do vaishnavismo (mas essa é outra história).

O Hino de Pirajuí foi gravado pela Krsna’s Land Band – aos fundos, o baixista Claudinho Antônio Cândido

A música que nós ouvíamos nas escolas e eventos foi gravada por grandes músicos locais: Jay Gokula (Batista, grande liderança no movimento Hare Krishna brasileiro), o guitar hero Ramildo Zancam (Razza), na bateria o reverendo Helder Leal Lopes, Gopesvara, Rama Putra, Anuradha (Angélica Zacari), participação Luisinho Vieira e Marcel Ritchman.

No centenário de Pirajuí, Piatã regravou essa versão e ainda fez uma específica para os 100 anos de Pirajuí.

Compor sempre foi algo que fluiu naturalmente em sua trajetória. Compôs músicas temáticas para o E.E. Alfredo Pujol, para o Semanário O Alfinete, quando do falecimento do editor Marcelo Pavanato, fez música em Cordel para a Cemei Primeiros Passos e até para o Coral Viva Voz.

Com sua família e Tito Madi, em 2002, quando sua chácara serviu de hospedagem ao músico

Piatã e Tito Madi

O autor do Hino de Pirajuí foi um ferrenho admirador e incentivador de Tito Madi em território pirajuiense. Sempre fez questão de exaltar o conterrâneo e, no início do século, no celebrado retorno de Tito à Pirajuí, sua chácara serviu de hospedagem ao ídolo.

O engenheiro viveu muitas décadas em São Paulo. Na Capital, foi um dos organizadores do grupo dos Amigos de Pirajuí, onde promoviam encontros e jantares, sempre com o objetivo de manter vivo o amor por sua terra.

Paulinho Cunha amou Pirajuí intensamente.

Hoje, só podemos lhe agradecer por tanto carinho e dedicação pela cidade. Como você sabiamente um dia escreveu: “seu povo é o amor que conduz”.

Obrigado, Piatã.

Aqui está sua obra magnífica: o Hino de Pirajuí!

Outras homenagens feitas por Paulinho Cunha

Abaixo, o Hino do Centenário de Pirajuí.

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Participação ativa na Cemei Primeiros Passos, com a composição de cordel para a criançada
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