Foi você quem me fez assim

Jota Rodrigues: amor pela Comunicação e por Pirajuí

Poucas pessoas amaram tanto a cidade de Pirajuí quanto o comunicador Jota Rodrigues.

Às vezes me pego pensando: em tantos ambientes diferentes, ele sempre pautou sua atuação pelo amor ao nosso povo e à nossa cidade.

No jornal, no rádio e na política. A trajetória de Jota Rodrigues sempre teve como foco a valorização de Pirajuí e, também, a de sua população.

Sei que muitos pirajuienses importantes, às vezes, não recebem a devida atenção no resgate de sua história ou em homenagens. Jota Rodrigues é um cidadão que muitos não chegaram a conviver (eu mesmo, me recordo muito pouco de sua voz no rádio) e que, certamente, tem uma biografia que merece ser lembrada e compartilhada com as novas gerações.

Jota Rodrigues
Fazendo o que amava – e que fazia muito bem: comentando jogos no Campão pela Rádio Pirajuí (fotos: acervo familiar)

O homem de Avaí

É até irônico imaginar que, diante de tanto amor pela terrinha, em março de 1949, nascia José Rodrigues da Silva… em Avaí (SP)!

No entanto, ainda na juventude, o município vizinho ficaria na história do rapaz, que faria contato muito jovem com a comunicação.

Não havia outro caminho a ser seguido. O José daria lugar a assinatura Jota Rodrigues, uma paixão pela mídia que começaria nos anos 1960, na equipe gráfica de Basílio Altran, a quem chamava de “professor”.

À época, ajudava na composição dos jornais A Folha da Comarca e, em seguida, do Jornal de Pirajuí. Foi neste título, de 1973, onde Jota ganhou a confiança de Altran e se destacou profissionalmente.

Ainda nos anos 1970, teve um olhar mais “comercial” aos produtos jornalísticos e criou o semanário Cine Jornal. Nele, as notícias puramente de Pirajuí davam lugar a fofocas de celebridades e informações do mundo da música e do meio artístico.

Em um tom mais leve, fez sucesso com o entretenimento – imaginem só como eram valiosas essas notícias, numa era pré-internet.

No final da década, no entanto, Jota passa a “batuta” para o substituto Chico Vilela, que por sinal é meu amigo, uma pessoa que conheço a minha vida inteira e tenho grande admiração por seu legado na imprensa local (tanto ele quanto outro Vilela, o saudoso Paulinho).

Raridade: equipe gráfica de A Tribuna de Pirajuí, anos 1960. Jota à esq. e, à dir. Vagareza e o professor Basilio Altran. Por favor, me ajudem a identificar os demais

Em tempo, essas informações sobre a história da imprensa em Pirajuí são da maravilhosa pesquisa do meu amigo e colega jornalista Marcelo Volpato.

Entretanto, o texto e a perspicácia jornalísticas de Rodrigues foram além dos veículos locais. Passou a colaborar com jornais em Bauru e, também, em A Comarca de Lins.

Seu texto foi lido nacionalmente quando assumiu o posto de correspondente de O Estado de S. Paulo, numa época em que, com alguns milhões de pés de café, Pirajuí ainda figurava no interesse estadual e nacional, nos anos 1970.

Na Pirajuí Rádio Clube, que à época se chamava Rádio Pirajuí, Jota Rodrigues começou como voz nos programas sertanejos. “Eeeeee paixão…” era um de seus bordões.

De comunicação fácil e acessível ao público ouvinte, fez sucesso imediato, e da programação musical, foi para o esporte. Constituiu uma sólida carreira no comentário esportivo, fazendo companhia às diversas transmissões do futebol ao lado de Faria Neto (que fez carreira política em Bauru) e Carlos Roberto.

Fotografia durante evento esportivo ao lado do time juvenil do Flamengo de Pirajuí (seria o professor Ditão como técnico, aos fundos?). Jota foi Secretário de Esportes do Município

Jota Rodrigues, o político

É impossível distinguir o Jota Rodrigues amante da comunicação do amante da política.

Desde cedo, percebeu que o caminho para alguns avanços na comunidade era o relacionamento. E, mesmo com a origem humilde, sempre esteve ladeado de grandes líderes, locais, regionais e estaduais.

Nos acervos fotográficos da esposa Marina Zapacosta, são centenas de imagens, como ela recorda, quase todas em eventos, reuniões e atos da política.

Na Câmara dos Vereadores de Pirajuí, ocupou as cadeiras em uma época bastante curiosa – foi a última legislatura (entre 1973 e 1976), quando ainda não se recebia salário para representar o Legislativo da cidade.

(Foi uma lei complementar de 1975 que passou a fixar a remuneração aos vereadores).

Isso é amor por Pirajuí ou não?

Todo na estica, ao lado do então governador de São Paulo, Laudo Natel

Aliás, vale a pena citar alguns nomes que dividiram as cadeiras com Jota Rodrigues: os saudosos Evilácio Martins, Abdias Machado, Wilson Bispo, Raul Foss; e ainda os conterrâneos Helio Gomes, Osmar Gomes, entre outros.

Também foi Secretário de Esportes da Prefeitura Municipal, afinal, com as transmissões esportivas, era figura popular e respirava o assunto.

Dentre os projetos de apelo ao cidadão, o aclamado reconhecimento aos personagens marcantes da cidade: condecorava a mãe mais velha e a mãe com mais filhos. Momentos que trouxeram novidade e emoção ao plenário.

Por fim, contribuiu com a identidade máxima do município, ao propor o concurso para a criação do Hino de Pirajuí.

Graças aos esforços de Jota Rodrigues, hoje todos nós podemos bater no peito e cantar “Pirajuí, Pirajuí: pra você, por você, eu nasci”, refrão maravilhoso que saiu da criatividade do meu amigo Paulo Alcestre Teixeira da Cunha, o “Piatã”.

Voz do povo

Poucas pessoas reuniram tanta popularidade quanto Jota Rodrigues. Era um homem do povo, das ruas, das esquinas.

Conhecidos por todo tipo de cidadão pirajuiense – em especial, os mais pobres. Ele era a voz que trazia o entretenimento às casas, que fazia questão de cumprimentar pelas ruas.

Ouço uma história que, quando estava a pé por aí, era até difícil caminhar tranquilo. Era tão conhecido que ficava parando, de esquina em esquina, sendo requisitado, falando com um e outro.

E foi assim até o fim de sua vida.

Outra raridade: Jota ao lado dos saudosos colegas vereadores. Aos fundos, Wilson Bispo e ao lado, Abdias Machado, que não era muito fã de fotografias

Jota Rodrigues nos deixou precocemente, em dezembro de 1997.

Deixou os filhos Evandro, Daniel, Ramiro e Carla, que é uma amiga querida.

Deixou também um legado muito grande. O menino humilde que nasceu em Avaí passou por nossa cidade e fez muito por ela. A trajetória de Jota está presente em todos os bairros e em cada rua do centro.

É um verdadeiro caso de amor por Pirajuí.

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