Rapaz, como é difícil ser Neymar

“Podemos de vez em quando suportar o fato de que nem sempre somos curtidos, pois existe uma gama infinita de pessoas que, potencialmente, podem nos curtir. Mas nos expormos por inteiro em nossa invidividualidade, e não apenas a superfície curtível, e sermos rejeitados, é algo que pode ser insuportavelmente doloroso”.

Jonathan Franzen em A dor não nos matará (2011)

Estão putos com Neymar. O filho, o Neymar Pai eu nem sei quem é. Parece que após a final da Champions League ele mandou uma faixa de cetim na testa com as inscrições JESUS CRISTO REI DOS JUDEUS (que no hebraico ficaria INRI). Mentira, estava escrito 100% Jesus.

Caíram de pau, falaram que a maior parte da galera que joga FIFA é de outra religião não-cristã, que hoje ele já não é mais um ser humano, mas um emblema, etc etc.

Sei lá se ele está certo ou errado de botar um 100% Jesus na testa. Eu prefiro isso que 100% Mocotó com Maconha, por exemplo. Acho que faz mais sentido. O fato é que, mano, é muito difícil ser Neymar.

Raciocina comigo. Todo mundo sempre fez tatuagem. Busque na memória um rolé em Caraguatatuba (SP) em 2001, todo mundo com aquelas letras japonesas escritas dentro de um pergaminho no antebraço. Não sei quem inventou aquilo. Se a Yakuza visse mandava arrancar o antebraço e ainda metralhava quem estivesse no quiosque de raspadinha. Um conhecido tatuou o nome da ex, daí arranjou outra, fez um dragão em cima e escreveu o nome dela, voltou com a ex daí fez uma plaquinha branca em cima da outra homenagem e reescreveu o da pioneira. E ainda comemorou: “agora com essa plaquinha branca é só ir mudando, se for o caso”.

Até aí tudo bem. Agora vai Neymá. Nasceu seu primogênito, David Lucca. Pronto. O mundo caiu por causa da tatuagem com o nome do garoto que o então santista fez no braço. Claro que fizeram um textão sobre o tema.

TEXTÃO: “Seria o momento de tatuarmos os nomes de nossos filhos nos braços?”

Por falar em Santos FC. Lá estava o menino da Vila Belmiro. Alegre, saltitante, um novo respiro ao futebol brasileiro que já despontava desde seus sei lá 15, 16 anos? Não sei direito, aqui é o Homem Benigno™ e não o Trivela.

O menino dia após dia levanta a torcida, logo, no time principal, começa a recolher uma sacolada de títulos. Agora sim né, não tem do que a sociedade reclamar sobre a nova joia do Santos… Ops… Tinha sim. Pois não é que me desenterraram um vídeo de quando o moleque tinha uns 9, 10 anos de idade em que ele confessa ser Palmeirense?

TEXTÃO: “Estariam nossos craques preparados para esquecer suas equipes do coração quando num novo clube?”

Neymar tirou carta. Ufa! Finalmente… A prova da baliza foi transmitida ao vivo. Uma perfeição. A arte imita a vida – e as leis de trânsito. Qual o primeiro carro do menino? Um Fiat Palio? Claro que não… Ele já era uma das maiores promessas da história do nosso esporte ao lado de nomes como Pelé, Ayrton Senna, Silvio Santos e Rogério Ceni. É claro que ele montou em um carrão: um Volvo™ e, nas ruas, o modelo passou a ser carinhosamente chamado de Volvo Neymar.

TEXTÃO: “Estariam nossos filhos prontos para ter como primeiro carro um Volvo Neymar?”

Garrincha (1933-1983) driblava hein. Não sei te dizer como era ali no vamo vê com a Elza Soares, mas no campo esse homem esmerilhava. Driblava, passava para um lado, esticava para o outro e quando o zagueiro percebia ele já estava na metade do copo de uísque.

E quando exibem esses vídeos de arquivo, que são rapidinhos quenem filme antigo, parece que o Garrincha era ainda mais matreiro, provocador. É o futebol arte, é o nosso símbolo, viva a malandragem da bola! Viva Brasil! Axé Salvador, Axé Capoeira!

Neymar Junior entra em campo e começa ter mais atenção das câmeras em cima dele. Entre o zagueiro, a bola e ele, havia um drible tão seco e sagaz que dali o defensor já tinha que tirar uma guia da Unimed direto para a fisio.

Pronto. Acabou o respeito no futebol. Estamos criando atletas ou monstros da zombaria? Onde já se viu em um esporte como o futebol a pessoa executar o drible?

TEXTÃO: “O que os dribles zombeteiros de Neymar dizem sobre os rumos do nosso país?”

E para finalizar, solteiro, molecão, amigo do Thiaguinho Ex-Exalta, voando, prestes a cravar seu nome na história do Clube de Regatas Barcelona, nosso atleta de Cristo começa dar uns pega no fenômeno Bruna Marquezine, atriz que, desde recém-nascida coleciona papéis de destaque nas novelas da TV Globo – para ser mais exato seu primeiro close foi ainda no oitavo mês de gestação durante um Globo Repórter com o tema maternidade.

Casal perfeito. Ela linda. Ele, o que não brilhava na beleza, esbanjava ousadia na carreira, na malandragem e no comercial da Nextel. Jovens, baladeiros, presentes na mídia. Largaram, voltaram, ao melhor estilo da música Suíte 14. E reataram bem perto da Copa. Quando ferido por uma joelhada no lombago durante o jogo contra a Colômbia, o foco da câmera fez de Marquezine nossa Jacqueline Kennedy, em prantos nas arquibancadas, sob o desespero do Brasil.

Emocionante, não? Claro que não. Foram impiedosos. O que a BM estava fazendo ao lado desse rapaz, da farra, que levava 16 amigos para fazer um churrasco na mansão em Barcelona (e os caras ainda levaram uns fardos de Itaipava quente no avião)? O que ela estava fazendo com a carreira dela – como ela seria uma nova Fernanda Montenegro?

TEXTÃO: “Minha filha não será Marquezine. Vai namorar um médico formado (ou no último ano) ou alguém dessas áreas novas de informática que têm puff colorido nos escritórios”.

Coitados. Acabaram com o namoro deles.

É Neymar, você é o cara. Saiu do nada, do seu mundinho, para uma dimensão maior que o mundo em si. Você é foda tru. Sou seu fã. Mas a turma fica muito no seu pé, man. Não deixam brecha para nada.

Chego a chorar quando penso nisso.