EXCLUSIVO: Não entrevistamos o Mohamad do #MasterChefBR

No inverno americano de 1965 um jovem repórter Gay Talese desembarcou em Los Angeles com a missão de entrevistar ninguém menos que Frank Sinatra, lendário cantor, ator, símbolo de sucesso de toda uma era. A reportagem com o astro seria para a revista Esquire mas, rapaz, quando o escritor chegou lá esse Sinatra tava dando azia em Sonrisal™. O homem estava gripado e parecendo uma íngua, nada estava bom, um mau humor de acabar com tudo e na hora que viu o pobre cronista ali com o caderninho só faltou virar um bicho. Ou seja, não ia falar nem pelo Cristo.

Mal sabia o Sr. Olhos Azuis que o Talese naquela época já embaralhava bem as teclas da máquina de escrever. Espertinho que só, ao invés de voltar pra casa com a negativa, ele acompanhou cada movimento do mala e, em seguida, escreveu o aclamado perfil “Frank Sinatra Está Resfriado”, a famosa não-entrevista com o ídolo. Aliás, caso você ainda não tenha lido, por favor, leia – vê se sai um pouco da frente desse League of Legends que isso aí vai acabar te levando pro caixão. No entanto, se você cursa ou pretende cursar Jornalismo, pode ficar tranquilo que vão acabar dando ele em forma de trabalhinho para você fazer em alguma emenda de feriado.

Mas antes ainda, na década de 50, em terras brasileiras, foi a vez do gigante do jornalismo brasileiro Audálio Dantas, na Folha da Manhã, ser deslocado para cobrir o lançamento de Grande Sertão: Veredas. Rapaz, vou te contar que aquele dia o Guimarães Rosa também estava meio do avesso e, advinhe, não quis falar para o jovem jornalista vindo de Tanque D’Arca (AL).

Tem essa conversa que o Kiss usa a máscara por causa dos Secos & Molhados né? Pois o Audálio Dantas ficou ali de canto, escorado na mesa de autógrafos do mestre Guimarães Rosa e, acreditem vocês, colheu todas as impressões e respostas dadas aos leitores. Resultou em uma não-entrevista premiada. Eu vi até uma foto dessa cobertura esses tempos, acho que na Folha de S. Paulo, sei lá, ando meio esquecido. Sabe quando você está com a imagem na cabeça mas não vem a data? Será que é bom vitamina E para isso?

O Chefe Mestre

Terça-feira à noite não tem luar, tem MasterChef Brasil. Faz mais de mês que o programa tem plugado todo mundo na tela da tevê e, principalmente, na chamada segunda tela – ou, como eu prefiro chamar, cientificamente, o touch engordurado do celular. Nunca fui muito ligado a esses lances de gastronomia, culinária, vinho, mas é uma delícia ver esse povo fritando as coisa e batendo panela no reality show, tudo sob a supervisão de chefs severos e com a pitada da elegância de Ana Paula Padrão, que faz às vezes de uma ansiosa guia da Tia Augusta durante uma visita à Disney.

Garoava numa recente quinta-feira na região dos Médios de Pinheiros, em São Paulo, quando o jovial aspirante a chef Mohamad entrou no mesmo boteco em que eu estava. Nascido no ABC mas já em terras paulistanas faz um certo tempo, poucos programas foram suficientes para que o cidadão caísse nas graças o público brasileiro, que passou a apoiar o jovem como o fizeram com Tony Ramos, Neymar (Filho) e a Constituição de 1988.

O jeito moleque-estabanado-descabelado-boné-bandana de Mohamad colide com a severidade do júri do programa. Tem o Henrique Fogaça chef tatuadão, bravão, cujo visual lembra bastante o músico Badauí, do Conjunto CPM22, associação que fez com que a música Regina Let’s Go voltasse para ao topo dos charts no iTunes, juntamente com aquela música da Enya por causa da propaganda do Van Damme em cima dos caminhões.

O gordinho Erick Jacquin (pronuncia-se Lacan) é uma figura. Tem um sotaque puxado para o francês e tem uma conversa aí que foi ele quem trouxe a sobremesa petit gateau para o Brasil, numa bagagem de mão. Ele tem a função de ser o carrascão do programa, mas tem o coração mole e acaba se transformando naquele gerente bonzinho, que empresta a casa em Bertioga (SP) para os funcionários fazerem o amigo secreto de fim de ano.

E tem a Paola Carosella, uma chef argentinona bonitona. Aoooooww argentinona. Um beijo do Homem Benigno para você. Continue assim, menina.

Os demais participantes também têm suas particularidades e o conjunto da obra resulta em um programa divertido e emocionante, que mexe com a audiência e os internautas, que passam a andar com a hashtag #MasterChefBr embaixo do braço.

Bom, é isso aí então.

O quê? Entrevista com o Mohamed? Ah não, parece que eles não podem falar porque o programa ainda esta no ar. E outra, estava lá no bar com a galera, não ia mexer com entrevista, né? Tira aí umas duas fotinhos que já está de bom tamanho.