Foi você quem me fez assim

Conheça Coquimbo: o cão uruguaio embalsamado

Quem alguma vez clicou na seção A RESPEITO DE do blog Homem Benigno já deve ter lido que a ideia original do site era preservar alguns fatos interessantes ou engraçados e eterniza-los na forma de posts neste espaço. No texto, exemplifico a iniciativa com uma fala do saudoso Doriel Gonçalves, farmacêutico e diretor de Saúde da cidade de Pirajuí, que certa vez brincou que quando um cachorro da família morresse, queria embalsamá-lo, de tanto que gostava do animal de estimação. No Uruguai, um ex-presidente teve a mesma ideia e a concretizou, deixando para a eternidade seu fiel companheiro.

O ano era 1863, época em que o líder radical Venancio Flores (1808-1868) inicia um levante contra o então governo uruguaio. Ele já havia sido presidente (foi deposto em 1855) e voltaria a governar o país anos depois. No entanto, foi na data que inicia o parágrafo, durante uma sangrenta batalha às margens de um riacho chamado Coquimbo, que os aliados de Flores (em menor número) venceram as tropas governistas.

No meio da confusão, surge um cachorro ao melhor estilo “tomba-lata” e, automaticamente, já se posiciona ao lado do general Flores, reconhecendo-o como chefe. Recebeu um nome que lembra o local da luta: Coquimbo.

Pois o cachorro passou a ser mais um integrante do exército. Venceu batalhas e batalhas ao lado do grupo, que se fortalecia. O bichinho foi chamado de “voluntário enigmático” e “herói misterioso”.

As campanhas foram tão vitoriosas que o dog foi parar na capital, em Montevidéu, ao lado do agora novamente presidente. Acompanhava os jantares de gala e reuniões. À noite, dormia com um olho aberto vigiando a família presidencial.

Um certo dia, nos braços do presidente, Coquimbo deu seu último suspiro. Sua importância foi tão grande que o líder uruguaio ordenou que fosse imediatamente embalsamado.

O embalsamamento é a técnica milenar que preserva o corpo e impede a putrefação.

Já empalhado, Coquimbo acompanhou a morte do seu dono (assassinado) e, por desejo do próprio, foi entregue ao jovem Julio Herrera y Obes (1841-1912), que tinha acompanhado Flores e, portanto, conhecia seu perro.

Acreditem vocês que Herrera y Obes assume a presidência do Uruguai em 1890 e Coquimbo, pela segunda vez, ocupa a residência oficial. Durante seu governo, chegou a perder grande parte de sua fortuna, se desfez de bens – mas o cão embalsamado permaneceu intocado.

Hoje em dia é possível visitar Coquimbo no Museo Casa de Gobierno, no centro de Montevidéu. Lá está, deitadinho em uma caixa de vidro, com aquele ar maroto que só quem teve um cão companheiro sabe reconhecer.

Coquimbo, no sossego, em exposição (imagem: funcionário Marcelo)
Coquimbo, no sossego, em exposição (imagem: funcionário Marcelo)

 

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