No universo distópico, pós-apocalíptico e corintiano, praticamente não há água. A vegetação é escassa e contaminada. Androides, humanoides e aberrações mutantes caminham pela terra devastada. Vocês não fazem ideia do quanto é difícil tirar a segunda via autenticada de um comprovante de residência num planeta nessas condições.
Fallout é isso. O jogo que desde a década de 90 arrebata multidões e, a cada rumor de novo lançamento, balança todo o mercado de games e de produtores de varal para apartamentos, resume-se em como encarar uma vida em um planeta literalmente aos cacos – se é que isso pode ser chamado de vida.
A semana começou quente na E3 (Expo Estância Echaporã), maior quermesse dedicada à indústria de videogames do mundo. Fallout 4 foi anunciado e, junto com ele, um monte de quinquilharia para você gastar seu tempo e dinheiro. Especialistas na saga têm duzentos por aí, então, para não bancar o expert eu vou resumir a história desse título nas versões que considero a espinha dorsal da série.
Fallout (1997)
Esse jogo já arrebentou a boca do balão logo de cara, primeiro, por ser um RPG e, segundo, por não ser ambientado nessas épocas antigas de Game of Thrones (#spoilers), mas no futuro. RPG é a sigla para Role Playing Game, classificação dada para jogos que não são de lutinha, não são de esporte e tem que saber um pouco de inglês para conseguir jogar – isso quando a mula do seu padrinho não te comprava o cartucho em japonês, daí o jogo tinha a mesma função de um aquário.
Era um tesão, cara! Um visual muito louco, aquela cidade toda remendada, uma câmera meio na diagonal, aquele povo falando em inglês nas janelinhas, umas armas muito doidas, foi uma revolução total. Eu tava lendo no Wikipedia que a engine do jogo ia usar o mesmo sistema do finado GURPS™, mas um desentendimento entre os criadores das paradas em uma partida de cacheta cancelou a ideia. Graças a Deus! Tudo o que é relacionado com GURPS nunca vira nada.
Fallout 2 (1998)
Nesse game de guerra em primeira pessoa você assume a vida (e as armas) do Lieutenant (não consigo traduzir essa palavra nem pelo Cristo) Jimmy Patterson em sua missão de detonar nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Com avançadíssimo nível de dificuldade era uma verdadeira Medalha de Honra sair vivo dessa aventura.
Fallout 3 (2008)
Isso é jogo hein, meninada!? O resto pode salvar num HD de um tera e ligar para o Exército da Salvação vir buscar. A impressão que Fallout 3 passa – e é algo que me ocorre, também, com o GTA III – é que os cabeçudos desenvolvedores tinham essa ideia de mundo, de personagem, de sistema de jogo, há muitos anos. O que faltava era a tecnologia para botar isso em prática.
Lançado para PC, Xbox360 e Playstation3, no começo da aventura você simplesmente nasce! Sai do ventre de mamãe, com os médicos vendo e tudo – dá até para perceber uma carteirinha do SUS (o deles lá, pós-apocalíptico, é claro) em algum canto.
Daí você começa a tocar sua vida com o que sobrou da sociedade – o povo fica dentro de um buraco lá, onde a galera vive para se proteger dos efeitos da guerra nuclear. Pra variar, o mundo foi devastado também.
O começo de sua jornada se passa dentro desse esconderijo, chamado Valt 101, e o sistema que rege toda a bagaça tem como logomarca esse mini Gugu Liberato de colants.
Por um motivo que não vem ao caso e me dá raiva só de lembrar, você tem que deixar esse ambiente seguro e ir para o arrego. É que o jogo dependia muito dessa fuga pois, por mim, eu ficava acomodado dentro da Valt, sossegado, já ajeitava uma patroa para mim ali mesmo e tirava meus dias numa boa. Mas não, tem que pegar em arma, tem que ir atrás de armadura, mexer com mutante, ô desgraça. O game imita a nossa existência, não é? Nem sempre a gente pode passar sem sujar as mãos com a gosma de aberrações gigantes.
O sistema de luta de Fallout então é o que mais me fascina. Uma tela paralisada exibe cada parte do corpo do inimigo, inclusive com a porcentagem de life que ela ainda comporta, daí você só escolhe e mete o pau na parte mais fragilizada – isso aí seria bom numa entrevista de emprego ou durante o sexo.
Fallout: New Vegas
Não rodou direito no meu Xbox360. Eu comprei ele destravado e, falar para você, só passei nervoso. Em dois anos com o console, se dez jogos rodaram bem foi muito. Daí mandava atualizar, aí uns falavam que o chip era de um jeito e outros falavam que era diferente… Em fim, passei para a frente e nem vi esse jogo, não sei nem onde se passa – se é realmente em uma Las Vegas destruída pela hecatombe ou se é ambientado em Conselheiro Mairinck, Paraná.
Fallout 4
Então rapaz, parece que anunciaram alguma coisa dele na E3 deste ano, tem um vídeo com uns gráficos bons (só que não pega os Metal Gear da vida, né?). Daí tem um cachorro, um pastor-alemão falando, será que é isso? Não dá para entender nada direito, vocês ficam fazendo piadinha no Twitter, daí mistura povo xingando os spoilers de série e os outros falando de Master Chef, propaganda de boticário, etc. Eu acho que vocês deviam parar um pouco de mexer tanto assim com internet e ver alguma coisa de tricô, pilates, aulas de expressão corporal, arranjar uma dessas máquinas de estampar camiseta a quente – parece que tem gente ganhando dinheiro com isso.
(fotos: Divulgação)
Alessio Esteves
16/06/2015 — 19:55
Que análise, meu companheiro de letras. Faltam pessoas assim no jornalismo de games!
funcionário Marcelo
22/06/2015 — 23:43
Vindo de você, caríssimo, essas palavras merecem ser enquadradas. Melhor! Embalsamadas!!! Obrigado