Cena 01

Estou em um estádio de futebol (o único) na cidade de Reginópolis (SP) acompanhado de dois amigos que não vem ao caso. O gramado está coberto de água e lama – as chuvas haviam sido impiedosas naquele domingo.

É dia de rodeio do aniversário da cidade mas, curiosamente, não lembro de ter enxergado uma arena ou sequer algum animal bovino ou cavalar.

Um locutor de rodeio sobe ao palco e a microfonia rasga o ambiente fazendo com que todos fizessem caretas instantâneas de aflição.

Meu amigo xaveca uma garota que está com a calça jeans branca com respingos de barro até os joelhos – mas que carregava uma faixa que a diferenciava das demais mortais, ela havia sido a rainha do rodeio na edição anterior e, como prega o protocolo, ela faria a entrega oficial da faixa para a nova monarca.

As luzes do palco se apagam todas para que, alternadamente, acendam em spots de tons coloridos para introduzir os donos da noite, eles mesmos: Gian & Giovani.

 

Cena 02

Um renomado antropólogo e sua então esposa estão em pesquisa em uma reserva indígena na cidade de Tupã (SP). Cansados após uma primeira rodada de anotações, deixam a tribo para a pernoite na cidade.

Em um dos hotéis do município, pedem pelo melhor quarto na recepção. Toda simpática, a atendente agiliza a papelada do check in ao notar que eles estão precisando do merecido descanso.

Ao entregar as chaves ao professor, antes de soltá-las, orgulhosa, faz uma observação:

– Vocês estão com sorte hoje. Sabia que nessa suíte já dormiram Gian & Giovani?

 

*

Eu não quero saber o que aconteceu. Não quero mesmo, sei que teve rolo de fofoca, de mulher de não sei quem cornetando. Sem falar que essa dupla tem passado por dramas pessoais faz um tempo.

Quero tentar entender o fim da dupla Gian & Giovani não enquanto Marcelo e Aparecido, mas enquanto artistas, cantores – que, afinal, é apenas até aí que podemos e devemos zurumbetar. Se não fôssemos tão sedentos pelo material privado desses nomes do mundo artístico, talvez ainda estivéssemos entre nós a querida Diana e o meu estimado Dodi Al Fayed.

Curiosamente, assim como a princesa e seu namorado morreram em Pont de l’Alma, na França, a dupla viria a se formar em Franca (SP).

Gian & Giovani eram a terceira via da revolução sertaneja que nasceu na década de 80. Bons moços, com cabelo de coroinha, aquele timbre da primeira voz meio forçado, como que de um jovem que liga na casa da namorada tentando impressionar seu pai policial militar aposentado.

Não sei porque vocês resolveram se separar. Devem ter seus motivos. Para nós, brasileiros, fica aquele vazio. Aquela perda irreparável que vai ficar para sempre em nossas memórias. Lá para frente vocês até podem se reunir novamente, ao lado do Serginho Groissman, dividindo palco com algum lutador de UFC e alguma atriz gostosa do momento. Mas esse 10/10/2014 vai ficar em nossa memória. Durante gerações ainda estaremos nos perguntando uns aos outros: o que vocês estava fazendo quando a dupla Gian & Giovani se separou?

 

*Esse relato é um oferecimento a essa guerreira que é a @problematizando