Orlando Jaime Zanirato tinha toda autoridade para falar de segurança pública. Foi o que fez durante praticamente toda sua vida, atuando nos quadros da Polícia Militar desde os anos 1960 – a maior parte da carreira, em Pirajuí.

Nasceu em Ribeirão Preto, em 1946, e chegou em Pirajuí nos anos 1970 para atuar nas forças policiais do município.

Nos deixou há mais de dez anos, em 2007, com a patente de Tenente Zanirato. No início dos anos 2000, ele me recebeu em sua residência para uma entrevista, para uma série de reportagens que produzi à época para o extinto site Pirajui.com.

Zanirato foi muito atencioso e também mostrou muita lucidez ao falar sobre segurança, os riscos do trabalho policial, a importância do esporte e a educação no Brasil.

Zanirato durante condecoração de atirador do Tiro de Guerra

Uma entrevista com Zanirato

O ano era 1968, e o então jovem soldado Orlando Zanirato foi chamado para uma ocorrência às duas horas da manhã na escura madrugada de São Paulo.

Se a Pirajuí dessa época ainda era pacata e com muita população rural, a capital já era cheia de riscos e ocorrências típicas das mazelas sociais dos dias de hoje.

Era um assalto em uma padaria.

Zanirato entrou em ação e deparou-se com uma situação extremamente perigosa. A ocorrência foi atendida, mas um disparo de arma de fogo foi ouvido.

A bala atingiu a coxa do soldado. Cicatriz que carregou acima do joelho e que fez questão de levantar o short e mostrar durante a entrevista.

Esse foi o momento mais chocante de toda sua carreira? Perguntei.

Não foi. Emocionado, respondeu: “certa vez tive de atender a um acidente envolvendo um caminhão de bóias-frias, que resultou em mais de 40 mortos”.

Companhia da Polícia Militar em desfile cívico em frente ao Fórum de Pirajuí. Zanirato é o segundo da fileira do meio

Na época de nossa entrevista, o Brasil todo ainda se recuperava do susto ao acompanhar, ao vivo, o sequestro do apresentador Silvio Santos, que mobilizou forças policiais e opinião pública.

Perguntei a Zanirato qual seria sua atitude diante de um caso tão delicado.

“É uma coisa que só Deus sabe. Creio que a melhor atitude também seria vencer o sequestrador pela canseira. O que realmente interessa é a vida humana”, disse.

Paixão pela corrida

Durante nossa conversa, Zanirato falou, algumas vezes, sobre sua prática esportiva favorita: a corrida.

Seja o leve cooper que fazia religiosamente, seja a época em que encarava os trajetos mais intensos, num período em que foi corredor de longas distantes.

Curiosamente, ainda na minha adolescência, pude praticar esportes sob a supervisão de sua filha, Cintia Zanirato, professora de educação física, especializada no segmento de personal trainer.

Cintia também era uma grande incentivadora da prática esportiva, bem como da disciplina e dos fundamentos nessas atividades.

Integrando o corpo de segurança do lendário show de Roberto Carlos em Pirajuí, em 1974

Na reserva desde 1992, o policial disse que, já naquela época, a forma de atuar nas ruas havia mudado muito. “Acredito que hoje em dia a maior polícia na vida de um jovem está na figura dos próprios pais”, garante.

Lembro de algo que me marcou muito. Como o tema da conversa era sobre educação, Zanirato finalizou nosso bate-papo com uma fala muito lúcida e que ainda pode ser aplicada à sociedade nos dias de hoje.

“As autoridades e os governantes tinham de pensar no Brasil como se fosse a própria casa. Basear-se na família para cuidar do território”, explica.

“O Estado deve construir mais universidades ao invés de presídios”, conclui.

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