Eu estava indo a pé para a academia hoje, umas 9 horas, um friozinho mais ou menos, tempo nublado, tanto que botei um agasalho. Umas ruas para cima vejo um carro de polícia parado meio na diagonal. Fiquei um pouco desconfiado e comecei a andar mais devagar, só fitando os policiais. Nisso, chega um baita caminhão dos bombeiros, fizeram a curva correndo e já estacionaram. Opa, ali tinha algum problema acontecendo. Sofro de uma mania besta de me envolver com as situações de forma pró-ativa. Se vejo um carro sendo empurrado, ou um pessoal puxando uma corda, descendo piano de prédio, lá vou eu ajudar, ou sinalizar para segurar o trânsito, etc. Isso é algo muito meu. De abrigo de academia, shorts e tênis amarelo me aproximei da situação. Era uma casa antiga, de muro baixo, ao lado de um pequeno predinho de três andares. Para acessar a varanda era preciso descer uma escada de uns cinco degraus. Mão para trás, cabeça em posição de curiosidade. E aí, chefia, bom dia. Bom dia, responderam os policiais. Alguma ocorrência aí? Então, até o momento está sem novidade, o pessoal do grupamento desceu ali na residência para ver o que está acontecendo. Nisso olho para trás e já tinha uns curiosos se aproximando. Como eu já estava informado, fui até eles e contive a movimentação. Pessoal, pessoal, vamos ficar calmos aí, os homens dos bombeiros já estão avaliando a situação. Mas o que está acontecendo ali embaixo senhor?, me perguntou uma comerciante, um tanto encafifada por estar questionando justo a mim que, ali, não era ninguém. Eu ainda não posso confirmar nada, minha senhora, vamos manter a calma e a paciência. Senhor, senhor, o da bicicleta, isso o senhor mesmo, aí não é permitido ficar, está muito perto do muro, vamos deixar o pessoal trabalhar, vamos. O PM me olhou com um semblante de gratidão. Dei uns passos ao redor da “cena do crime”, enquanto a turma não voltava da casa com notícias. Quando atravessava a frente de um boteco, ouvi o dono do bar reclamar atrás do balcão sobre a falta de sinal telefônico para passar a maquininha do cartão de crédito. Pode desistir, querido, desligaram o telefone. Como assim, o que está acontecendo?, me indagou o barman. Xi, rapaz, tá um salseiro ali na esquina, polícia, bombeiro, é coisa grave pelo jeito. Ai minha Nossa Senhora, disse a mulher que estava no caixa. Gente, vamos ficar tranquilos que nós estamos fazendo o possível para contornar a situação. Percebi uma movimentação lá na muvuca, e pelo jeito um dos bombeiros ia sair na varanda. Já cortei a frente do povo. Uma licencinha minha senhora, uma licencinha por favor, estamos aí no suporte da rapaziada aqui. O bombeiro saiu assustado, olhos arregalados. Qual é a situação chefia?, que procedimento a gente toma? Não é para tomar procedimento nenhum, disse-me o oficial, todo paramentado, com tubo de oxigênio e tudo. Soldado, faz favor de evacuar e interditar a rua inteirinha: tamo com um vazamento de gás – e dos grandes! Ohhhhhh… A multidão ficou assustada. Mas logo tranquilizei a turma, indo em direção ao PM para ajudar na interdição da rua. Calma pessoal, nós vamos conduzir um procedimento de segurança aqui e tudo vai ficar bem – isso é a nossa rotina. Nisso o bombeiro voltou, meio puto. Ah! E soldado, tira fora daqui também esse doidão de shorts metido a polícia.