ilustrações a cargo do magnífico Robson Minghini

FINALISTA Nº 1
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RAUL LEMOS, 34 anos

As últimas lojas da rua Oriente, no início da zona leste de São Paulo, já tinham baixado as portas quando a fita começou. Eram uns dez, 12 caras. Vinham em quatro motos grandes, aquelas com o escapamento serrado, e uma van pretada lotadaça. Desceram e entraram, todos de uma vez em um pequeno corredor entre uma loja de cabides e uma pequena confecção, dessas que só fazem barra de calça e uniforme escolar. Se do lado de fora o corredor parecia uma biqueira, para o lado de dentro, cada vez mais, ele revelava uma faceta escondida daquela região – o luxuoso quartel general dos Prietto.

Os dois irmãos dominam, há meia década, todo o comércio paralelo de sorvetinhos do McDonald´s (que porventura não sejam do McDonald´s). Seus métodos para manter esse monopólio de casquinhas a R$ 1,50 são os mais cruéis possíveis. São paranoicos e nunca saem de seu QG, mas, de lá emitem as mais violentas ordens – apenas uma mensagem de um dos Prietto é suficiente para alterar o volume de calda de ovomaltine em sorvetes em cinco DDDs diferentes.

Para se ter uma ideia do medo que eles possuem de perseguições ou escutas telefônicas, eles emitem suas ordens digitando em um antigo brinquedo Pense Bem, da Tec-Toy. Como são extremamente intolerantes, nenhum de seus cupinchas sequer teve coragem de dizer que as mensagens ali digitadas não chegavam a lugar nenhum. Ao invés disso, Quizomba, um de seus mais fiéis homens, decorava a mensagem e, de um orelhão na esquina, fazia as ordens chegarem até os pontos desejados (geralmente sorveterias e postos de gasolina).

E é até Quizomba que um dos homens da gangue se dirige. “Deu tudo errado, senhor. O patrão não vai gostar nada disso”. O braço direito dos Prietto preocupou-se. A missão que envolveu quase toda a gangue – um pequeno grupo de quatro capangas ficou de fora, pois haviam solicitado uma folga para irem ao Hopi Hari – tinha caído por terra. E cabia a ele, e somente ele, a missão de informar os dois líderes sobre a iminente derrocada: uma nova gangue de sorvetinhos estava florescendo em São Paulo. No entanto, até o momento eles falhavam em segurar a ascensão dos rivais, tudo por culpa de um ingrediente fatal: o sorvete é apenas fachada para eles venderem um produto considerado ouro entre os consumidores desenfreados de casquinhas, o açaí gelado.

Nick Prietto estava no ambiente ao lado da jacuzzi onde fazia sexo desde as 9 horas da manhã. Quizomba resolveu interrompê-lo, inclusive aproveitou para dizer que sua parceira sexual já havia deixado o local fazia três horas. Ainda nu, o chefe da gangue recebeu a notícia que a missão havia falhado.

Sem pensar, Nick jogou um pote de chocolates Confetti no rosto de seu capanga. Vocês não me servem para merda nenhuma mesmo, ele disse, enquanto vestia um roupão estampado com a marca de um de seus maiores rivais, a Sorvetes Esquimel, de Garça-SP.

Pediu que chamassem seu irmão, Osnire Prietto. Trouxeram o homem, que na verdade já está morto desde o verão de 1982, após o estouro de uma panela de pressão. Ele foi parcialmente embalsamado e é mantido sob fortes quantidades de formol e emulsificante para massas de sorvete. Seu corpo é acondicionado em um quiosque móvel de casquinhas.

Começaram uma reunião. O triálogo, regado a uísque do bom, aqueles pepininhos em conserva e cocaína batizada com caramelo e colorida artificialmente, Quizomba, Nick e seu falecido irmão Osnire discutiram um golpe um tanto mais ousado: a execução do homem do açaí. O planejamento correu a madrugada toda. Entre as iscas para o rival, estariam um malote de dinheiro, uma prostituta com dificuldade em fazer contas na hora de fechar o preço do programa e uma passagem para a Disney (sem o ingresso dos parques inclusos). O local do crime, seria a frente do Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi.

Aliás, falando em Morumbi, o finalista do #MasterChefBR da Band, Raul, é são-paulino e, às vezes, vai até o estádio assistir aos jogos de seu time.

 

FINALISTA Nº 2
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IZABEL ALVARES, 31 ANOS

Desde que havia se convertido a YouTuber, Ignes Barbara não mais vivia a sua realidade, mas o espectro projetado na pequena telinha centralizada no monitor de seu computador. Quando o canal Menina Berga atingiu 1 milhão de acessos (isso há longínquos dois anos) ela percebeu que as expressões faciais que ela forçava na tela do vlog eram melhores que as que apresentara durante todos seus 21 anos de vida anteriores. O sorriso de Ignes havia rendido, no máximo, um dois namorados – o primeiro ela sequer chegou a comunicar sobre o relacionamento -, mas a gargalhada berga, do vídeo Como Fazer a Gargalhada Berga? tinha lhe rendido 300 mil novos fãs e um frutífero patrocínio de um creme dental. Em suma, a criatura botou a criadora no bolso, a vlogueira engoliu a mulher.

Com um rendimento anual na casa de R$ 20 milhões, Ignes fez o caminho inverso e, ao invés de conquistar o mundo, fechou-se dentro do próprio universo. Comprou a Mansão Berga, idealizada em vídeos quando ainda morava em um bairro humilde na cidade interiorana que nasceu. E agora é concretizada em um luxuoso imóvel serrano, que pertenceu a um herdeiro dos barões do café e a uma badalada cantora gospel que se entregou ao vício das rinhas de galo.

Na casa com 36 quartos recebia amigos e parceiros comerciais. Hoje, o imóvel foi dividido e Ignes unificou alguns cômodos para fazer uma espécie de bunker. De lá nunca sai – e nem recebe ninguém. Seus alimentos são entregues por meio uma lingueta de cristal. Sua malhação é feita em vídeo, em um dos gigantescos telões de led que ocupam todas as paredes do Estado. Não mais se comunica no mundo dito real, sua voz é ouvida e acessada apenas pela tela do canal do YouTube. As roupas são enviadas pelas patrocinadoras, que filmam todo o processo de entrega das peças, na falida esperança de quem sabe ser recebida por um dedo, ou um olho da musa cibernética.

Há três meses, após receber uma oferta de patrocínio de uma empresa de tecnologia Ignes fez sua escolha mais ousada. Ao invés de pagamento em dinheiro, a vlogueira fechou um contrato que seria pago por meio de um produto desenvolvido pela equipe de desenvolvedores em inovação da marca. Ela quis ali concretizar um sonho de uma vida: encomendou um androide que simulava o visual do ator Fábio Assunção (em período anterior a esse programinha Tapas & Beijos), mas que tivesse a voz do crooner Agnaldo Rayol e o caráter do piloto de Formula 1, Jacques Villeneuve.

O desejo era ousado e logo vazou para a mídia especializada em fofocas. “Miss Frankenstein” foi o nome dado em algumas das manchetes, que levavam em conta o fato de Ignes pedir que utilizassem pele de cordeiro para emular a textura humana e que fosse injetado, ao invés de sangue, essência Très Marchand no autômato. A propaganda negativa saiu pela culatra, o canal Menina Berga agora era o mais acessado das Américas e ficava em terceiro lugar no ranking mundial, perdia apenas para dois sites chineses, especializados em defensivos agrícolas.

As primeiras imagens do Fabio Assunção cibernético vazaram na internet. Sem cabelos e com os circuitos à mostra, a anomalia chocou a opinião pública e obrigou que Ignes Barbara fizesse um vídeo dizendo que, ao final daquele mês, em transmissão mundial, exibiria seu invento. E foi além. Divulgou com exclusividade no vlog que ele seria seu marido. E, futuramente, pai de seus filhos.

A data se aproximava e, com ela, a tensão sobre que tipo de terror estava por vir. O evento foi assunto até fora do Brasil, como foi o caso da Semana da Moda de Nova Iorque (New York Fashion Week), aliás, evento que, por coincidência, já teve trabalhos da produtora Izabel Alvares, finalista do MasterChef Brasil.