Acho que faz uns cinco anos que aconteceu essa fita, estávamos na zona norte de São Paulo, dando um rolé à noite pelo bairro de Santana. Perambulando entre um boteco e outro, passávamos a pé por uma rua bem estreita quando um Palio Weekend escuro, com os vidros filmados, virou com tudo em uma curva fechada e quase fomos atropelados.
“Corno, infeliz”, gritei. No que meu camarada emendou “filho de puta, tua mãe está na zona?” Não entendi muito bem essa colocação e achei até um tanto ofensiva à profissão dessas mulheres, mas isso não vem ao caso. O ponto alto da história aconteceu em seguida. O carro chegou até a metade da rua, brecou seco. Perplexos diante do veículo – na real, nós xingamos pensando que ele ia vazar fora -, vimos o pior acontecer: a luz de ré do Palio acendeu e, em alta velocidade, ele começou a vir em nossa direção, na contramão mesmo.
“Vaaaazaaa”, gritei aos meus comparsas, que já estavam lá na frente correndo, antes mesmo do meu alerta. Corri como se não houvesse amanhã. Nessa hora só se pensa no pior, já que, tarde da noite e na quebrada, o filho chora e a mãe não vê – porque tem astigmatismo causado pela idade.
Enquanto corríamos em direção à rua mais larga, para daí podermos efetivamente fugir em ziguezague do motorista misterioso, algo ainda mais inesperado rolou. O terceiro de nós, correndo lá na frente, ficou tão confiante na fuga que tropeçou, mas, antes mesmo de entrar em choque diante da queda, deu a volta por cima e, acredite, correu os próximos dez metros de quatro, feito um animal.
Minutos depois, já protegidos da ira do nosso potencial atropelador, perguntei ao amigo porque diabos ele tinha corrido daquele jeito, com tamanha desenvoltura. E ele: “rapaz, é que estou sem trabalho por esses dias e passo o tempo todo assistindo esses documentários sobre a vida animal. Naquele momento eu só pude pensar que era um guepardo fugindo de uma situação de perigo”.
Mundo animal
Que coisa rica da natureza são esses documentários sobre o reino animal, hein? Mas eu gosto daqueles que têm só os bichos e um narradorzão das antigas, com voz de fumante. Não sou muito fã desses que tem o figura desbravador da natureza que interage com as feras, fica enfiando o dedo em ninho de beija-flor, lambendo sapo, etc.
Outra coisa que ninguém mexe é passarinho, né? Já que vai fazer vida selvagem mostra leão, hipopótamo, serpentes do deserto… Passarinho a gente vê em casa, pô.
Sem falar daquele filme do Herzog lá, o tal de Homem Urso, que o sujeito se achava o invencível, o cabra sem medo, até que virou marmita de urso. E isso nem é contar o final, porque esse é o mote da coisa toda. É um bom filme, viu. Mas nesse negócio de urso o Kung Fu Panda ainda é o imperdível, vai por mim.
Deve ser um sufoco fazer essas filmagens hein, ficar embrenhado em matagal dois, três anos, puro pernilongo, carrapicho, sem falar que você está à mercê das feras, pô! Diz que teve um exímio cabo man que tava fazendo uma filmagem no meio do Pantanal e o câmera pediu “Ô fulano, me vê mais fio aí”, sem pensar muito ele puxou de baixo uns 2,5 metros de cabo e deu na mão dele. Só aí ele percebeu que tinha, na verdade, entregado é uma Urutu Cruzeiro.
BBC Earth
Para quem gosta dessas paradas pintou um canal novo na área, dessa vez um braço da britânica BBC voltado a esses documentários: o BBC Earth. Ele vem somar com os Discovery Channel e National Geographic da vida quando o assunto é ficar vendo a savana ao invés de ir pro Villa Country.
O canal britânico estreou no Brasil pela Net, OiTV e NEOTV no começo de Setembro. E já começou a programação com um especial sobre tubarões, todos os tipos, habitats, preferências alimentares e manequins. Deixa eles quieto na tela da televisão mesmo, se é loko que eu vou me envolver com tubarão uma hora dessas.
(Fotos: BBC Earth)