Foi você quem me fez assim

Fatos reais: Leitor encontra o Guia de turismo apocalíptico e escapa da morte

Quando decidi, em 1976, que colocaria meus pensamentos e relatos neste espaço chamado Homem Benigno, sempre tive como norteadora a questã da ‘busca pela felicidade’. E nesse âmbito, é claro, está a total preocupação com a saúde e a integridade física de nossos estimados leitores. Principalmente quando o assunto é turismo.

No início do mês, centenas de pessoas se emocionaram com meu relato sobre o Guia de turismo apocalíptico, de Maceió. Encumbido de levar excursões a paraísos naturais do maravilhoso litoral de Alagoas, esse homem passava grande parte do tempo alertando para as chances de morrer, se afogar, se esfolar ou ser consumido por caranguejos fascínoras.

Acreditem vocês que este blog recebeu uma epístola, num primeiro momento, apócrifa, mas que, por um descuido de seu autor, acabou identificada – ele esqueceu seu documento RG dentro do envelope.

Acompanhem com atenção trechos do relato desse homem, agora renascido, que teve a (in)felicidade de se deparar com o mesmo profissional turístico – e foi salvo pelas orientações da nossa página.

Depoimento de turismo do leitor Fernando “Ademir da Guia” Folhe:

 

Neste carnaval, fomos pra Maceió. Adoramos!

Algumas dicas para se dar bem lá: Leve protetor solar, ande de boné, se hidrate bastante, use o serviço de taxi na cidade (bom e barato). Principalmente, nunca fale mal de Djavan (a relação do alagoano com Djavan é a mesma do gaúcho com Engenheiros de Avaí, região noroeste de SP).

Por ironia do destino, em nosso primeiro passeio, quem era o guia? Quem? Quem? Quem? Ele, cujas histórias arrepiam senhoras e criancinhas, turistas nacionais e estrangeiros: o guia de turismo apocalíptico.

Sim! Precisamente descrito pelo funcionário Marcelo, de fato se parece com o humorista do Pânico na Band, o Mendigo. E ele não é, absolutamente, amigo do motorista.

No caminho para praia do Gunga, seu repertório foi o seguinte:

– 10% de curiosidades locais, informações turísticas e históricas;

– 40% mortes/acidentes causados nos passeios sob sua supervisão;

– 40% sobre diarreia, doenças no sistema digestivo, piriris e afins. Ele se referiu à parte inferior do abdomem como região cagal

Observamos, atentamente, a sua palestra animada (algumas vezes aterrorizante) até o destino. Ficou em minha mente um mantra subliminar: “Siga esse cara, vá onde ele referendar, não cague, não morra”.

Chegamos, ficamos de boas, mas os latões de Skol (conteúdo patrocinado) consumidos fizeram-me esquecer do mantra e aguçaram em mim o espírito aventureiro, há muito perdido. Olhei no fundo dos olhos da minha patroa e disparei: Vamos andar de quadriciclo!

Passeio maravilhoso com uma pitada de emoção! Eu e minha cônjuge nos olhávamos com semblantes de surpresa e regozijo. Mas…

Tudo mudou. como alertado pelo arauto do apocalipse, uma cena de terror se apresentou à nossa frente: um veículo revirado e duas mulheres caídas no chão. Uma delas imóvel, não conseguia se mexer! Ficamos sabendo depois que a parte direita do corpo dela ficou paralizada.

O guia que nos conduzia se apressou em nos tirar daquele cenário tenebroso, previsto por nosso herói. Um de nossos companheiros de aventura era médico e permaneceu no local, prestando socorros à vítima (curiosamente, ele trazia um estetoscópio na sunga, para tristeza das solteiras presentes). Mesmo com seu corpo parcialmente paralizado, a acidentada insistia em tentar levantar, dizendo: “Não foi nada, já paguei o passeio de amanhã, foi de oitenta reais, me larga”! Chegamos em segurança ao lugar de partida.

Pudemos observar ainda um espetáculo digno da atração norte-americana Sea World: vindos de uma praia vizinha, um bombeiro em um jetski trazia o salva-vidas numa espécie de bóia-carreto para prestar socorro às vítimas, mais ou menos como os treinadores segurando a barbatana dos grandes mamíferos aquáticos e navegando pelos tanques daquele parque.

Aterrorizados, decidimos partir.

Foi quando cruzamos com ele, preocupado, mas dono da razão. Sim, ele mesmo, o guia de turismo apocalíptico, que dizia: “Eu aviso, falo, mas as pessoas não me ouvem, parece que nunca viram praia. Até parece que estou bradando às montanhas. Eu só penso ‘nas suas’ seguranças”.

Demorei um pouco para dormir nesta noite. Mas o que importa é que estou vivo para dar meu testemunho.

Devo minha vida ao guia apocalíptico e à esse conceituado, para não dizer benigno, blog.

 

(Anônimo. Por favor, não divulgue o meu nome, em hipótese alguma).

Leia também a reportagem original, que alertou o leitor para os perigos desse passeio. Clique aqui!

Foto de capa: magníficas Falésias da Praia do Gunga, Maceió, Alagoas, Brasil, etc.

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