Não vale responder: cagando, hein?
O Roots do Sepultura foi o sexto álbum da banda e comemorou 20 anos de existência no último dia 20 de Fevereiro. Na minha opinião é um disco totalmente avassalador que, com certeza, funcionou como uma MARRETADA DE FRIGORÍFICO na minha cabeça e mudou os rumos daquilo que eu imaginava que era música à época – basicamente a primeira formação do Só Pra Contrariar e o Elimar Santos.
Sobre esse tema, fui convidado pelo site Noisey a conversar com uma galera envolvida na produção do famoso disco com a capa do índio – que por sinal traz uma imagem extraída da nota de mil cruzeiros (vocês são muito novos para lembrar dessa moeda corrente). Falei com o Andreas Kisser, o Toninho Iron (do fã-clube do Sepultura), com Carlinhos Brown e o Ross Robinson. Esse último sujeito aí é o pé do baralho. Esse homem fez até chover no estúdio com essas bandas de hardcore / nu metal.
Leia a reportagem completa do Noisey AQUI Ó.
Bão, mas vamos ao meu relato pessoal.
Eu não ouvi o Roots em 1996, mas em 1997. Posso estar completamente enganado mas acredito que o disco que eu peguei emprestado era de um amigo Ronelito de Oliveira. Aliás, grande parte do “catecismo” de thrash e black metal pirajuiense vieram desse figura que mudou-se para o município com uma boa bagagem de discos.
O CD Roots do Sepultura veio parar em minhas mãos numa daquelas caixinhas de acrílico transparente. Assim que o peguei, percebi que o disco estava “sambando” no interior da embalagem. Quando eu abri, dito e feito, os “dentes” do centro da caixa estavam todos quebrados – isso dava uma raiva mortal, vocês lembram?
Geralmente, quando isso acontecia você já tinha que correr atrás da pessoa que te emprestou e avisar: “Ô meu amigo, aqui ó, os dentinhos foram para o vinagre”. Isso era uma garantia importante, ou tinha o risco do cara vir te cobrar depois: “Pô quebrou a caixinha”, “eita, tem doce de leite na capa de fundo”, “cacete, você enferrujou o grampo do encarte, o CD ficou perto de umidade”?
Pombal
Morei durante a infância e adolescência em um bairro de Pirajuí chamado Vila Esperança. Criado na década de 70 para abrigar funcionários públicos, essa Cohab, assim como tantas outras por aí, recebe o apelido de Pombal, tendo em vista a proximidade entre uma casa e outra. Outra alcunha menos carinhosa é a de Vila do Sapo, já que fica próxima a um rio e é comum a visita de seres coaxantes.
Ainda assim é um nome mais carinhoso que, por exemplo, um outro bairro mais novo que foi apelidado de Pega Ricardão, pelo fato de as casas terem sido entregues com apenas uma porta.
Enfim, com o Roots nas mãos, cheguei correndo em casa após o colégio, doido para saber o que tanto falavam desse som. Se por um lado os mais ou menos 20 rockeiros de Pirajuí estavam curtindo bastante Nirvana e essa rapaziada de Seattle, essa gritaria do thrash metal não tinha tanta preferência – a opção mais usada era sempre Black Sabbath, Led, Iron Maiden e esse povo todo que recebe cachê em libra esterlina.
As casas da vila eram coladinhas e a janela de meu quarto era virada exatamente para a casa da vizinha, Dona Irene. Um muro de placa fazia a divisão entre os terrenos, mas era muito baixo, ou seja, minha janela era uma saída direta de som para a pobre senhora e seus familiares.
Eu tinha (aliás, ainda tenho) um aparelho de som Pioneer dos brutos. Eu demorei um pouco para ter aparelho de CD, mas quando chegou esse 3 em 1, veio um bem invocado. Esse som era tão ignorante que a única equalização eram dois botões (tipo volume): um para treble e outro para bass. Era uma máquina de lavar.
Girei o carrossel de CDs, tirei o Sabbath Bloody Sabbath que não saía da gaveta e sequer toquei no Amazônia, do Roberto Carlos, que também era proibido de ser removido por meus familiares.
Apertei o play. Ouvi os grilos do início do disco e fiz a besteira de subir o volume para ouvir melhor… Pelo amor de Deus, o Ross Robinson já programou largou aquele primeiro acorde de Roots Bloody Roots PANAN-PA-PANAN!!!. Cacete… Lembro de minha mãe surgir cabreira na janela e gesticular e mexer os lábios enquanto o som ecoava nas paredes do meu quarto e vazava em direção à casa da vizinha.
Foi uma porrada na minha alma.
Ao término da faixa 1, antes que começasse a faixa Attitude, que eu também amo de paixão, minha mãe puxou o aparelho da tomada e disse para que eu olhasse na vizinha o estrago que eu tinha feito.
Incrédulo coloquei o corpo para fora da janela e vi o resultado da música do Sepultura na vizinhança. A casa de Dona Irene tinha sido arremessada, com alicerces e tudo, para um outro bairro de Pirajuí. Inclusive está lá até hoje, tiveram que mudar o IPTU e tudo mais.
E agora eu pergunto. E você? Onde estava quando ouviu pela primeira vez o Roots do Sepultura?
Peá Campos
22/02/2016 — 22:43
Funcionário. Muito bonito seu relato, e incrível ver o impacto que atitudes agressivas podem gerar. Eu conheci toda essa gama do metal pesado pelas mãos do meu querido amigo Nelson. Ele faziam parte do grupo dos adolescentes que fumavam e se vestiam de preto na escola, algo totalmente subversivo para nossos padrões, não? A escola toda tinha um pouco de medo daquela galera da pesada, mas eu tentando sempre provar meus limites, tentava uma aproximação. Invariavelmente eu fracassava, exceto com o Nelson, que talvez naquele frágil adolescente que eu era, revivia um passado melancólico onde, talvez quem sabe, o mundo fosse mais simples.
As vezes acompanhava Nelson até sua casa depois da escola, onde pude ter contato com os ases do metal que meu amigo perfomava na sua incrível giannini preta no talo com o overdrive do cubinho Meteoro. Numa dessas visitas ele me mostrou sua mais nova aquisição. Abriu com todo cuidado aquela caixinha de CD com um índio na capa. Puxou a bandeja do seu panasonic e disse “se prepara!”
PAAAAAU! que porrada, funcionário!
Sonzera a mil, uns gritos, gente falando rápido, birimbau, batucada, carlinhos brown no fundo e coração acelerado.
esse foi um dos momentos que mudou a minha vida completamente, pois naquele turbilhão eu pude perceber que os caras de preto que sempre eram julgados pelos outros guardavam um segredo.
O segredo de viver a vida intensamente.
funcionário Marcelo
23/02/2016 — 20:08
maravilhoso depoimento! Obrigado P.A.
funcionário Marcelo
31/03/2016 — 14:48
Clássico demais! Valeu David!!!
Hobsbawn
17/05/2016 — 18:12
Principalmente nas primeiras linhas, parece que copiou minha história!!! kkk
Foi meu primeiro álbum de metal, que descobri só em 1998, depois que vi o vídeo de Ratamahatta. Naquela época minha definição de música era Os Serranos, Art Popular e João Paulo e Daniel. kkk
Juntei meus poucos pilas que guardava e fui na única loja de discos da cidade e pedi pelo Sepultura. Um jovem alemãozinho de 12 anos, gordito, pedindo pelo Sepultura… Isso não ia dar certo… kkk Nunca tinha comprado um CD na vida. Nem sabia como fazer…
O vendedor achou dois. Tinha o Roots e o Against. Como o against era lançamento estava mais caro e meu dinheiro não alcançava. Eu queria levar o Against porque era mais bonito. Sorte a minha que fui “obrigado” a ficar com o Roots! Afinal, fui atrás do álbum por causa da Ratamahatta! kkk
Ouvi o disco no meu microsystem que ganhei de aniversário de dez anos e até a data tinha presenciado apenas CDs do sabadão sertanejo, pagode e música gaucha… kkk
funcionário Marcelo
18/05/2016 — 01:27
hahahaha PLAGIO!!! Que é isso, mano! As histórias do metal se completam!!! \m/
liverpool shirt
29/03/2017 — 10:38
Many thanks for sharing.
ton
21/09/2021 — 19:34
Eu conheço o Rone do tempo que ele morou em Duartina.
Grande pesquisador de som pesado. o Roots eu conheci através dele também.
Ton
Canal Perdidos Achados
funcionário Marcelo
04/11/2021 — 20:25
Figuraça!
Morou em Praia Grande por muitos anos, mas acho que agora está em SP, Zona Leste