Nesses poucos anos que temos nosso Homem Benigno, poucas personagens de Pirajuí foram tão lembradas quanto a figura de Miguel Mourão, após seu falecimento, no dia 24 de agosto deste ano – muitos leitores pediam uma homenagem.
Diante do tamanho e do peso de sua biografia, levamos um tempo pesquisando o material que hoje abaixo divulgamos aos amantes dos capítulos pirajuienses.
Miguel Mourão foi o mais longevo diretor de escola da história de Pirajuí.
Na ata do ano letivo de 1950, na então escola de Cursos Práticos de Ensino Profissional, criada em 1948, o nome de Miguel de Souza Mourão já aparecia como docente, do curso de Ajustagem Mecânica.
Em 1956, Miguel Mourão era designado diretor da então denominada Escola Artesanal. Posteriormente, ela passaria a ser chamada de Escola Industrial e só depois receberia o nome da Professora Maria Angélica Marcondes – que mantém até hoje.
Deixou o posto de diretor da Industrial no início dos anos 2000. Façam as contas – por quase 50 anos. Meio século. Miguel Mourão foi uma liderança na gestão tanto daquela unidade, quanto na educação de Pirajuí e região.
A aposentadoria se deu pouco tempo antes de completar 70 anos, ocasião em que teria de deixar a posição compulsoriamente, de acordo com a legislação vigente.
Miguel Mourão: testemunha ocular dos tempos
Lembro de ouvir minha mãe comentar: nossa, na minha época de escola, o Professor Miguel Mourão já era um senhor de idade.
E é mais ou menos essa impressão que temos da figura onipresente de Mourão na história de Pirajuí. Ele foi uma das últimas pessoas públicas a testemunhar e atuar na etapa final da chamada “era de ouro” da cidade.
Época em que havia ainda certo dinheiro da agricultura rondando por Pirajuí. Das famílias tradicionais, dos lendários bailes do Parque Clube, das corridas automobilísticas de Primo Rico.
Uma fase em que as pessoas, como vemos nas imagens, saíam as ruas da cidade vestindo terno escuro, com cabelo engomado e o quase obrigatório bigode.
Mas sua atenção era outra. Nascido em Araras (SP), dedicou a vida à educação.
Vou refazer a frase anterior. Dedicou toda sua vida a educação em Pirajuí.
Fechem os olhos por um instante e tentem lembrar como era uma quarta-feira à noite há uns 25, 30 anos nas proximidades da então Escola Industrial. A rua 13 de maio era totalmente preenchida com ônibus de estudantes de toda região. Quem se lembra?
Desde os tempos da Escola Artesanal, esteve nas mãos de Miguel Mourão lutar pela permanência dessa instituição. Com ensino técnico de qualidade em vários cursos, da mecânica à marcenaria, da cozinha ao artesanato, da contabilidade ao magistério, datilografia, etc.
Homem público
Apesar de pouco ter conversado com o professor Miguel Mourão, lembro de sua figura muito viva em praticamente todos os eventos da cidade.
Era convidado de honra. Estava sempre sentado à mesa dos cerimoniais. Fosse um evento estudantil, político ou solene. Lá estava o homem público.
Em algumas das fotografias históricas, aparece ladeado do então governador do Estado, Laudo Natel.
Já em outras imagens, aparece sempre bem relacionado com autoridades que vão além da política, como é o caso dos ex-prefeitos e funcionários, mas também religiosas, como a amizade do saudoso e popular Padre Godofredo Shepeers (que faleceu em 2013).
No meio escolar, cultivou amizades e verdadeiros discípulos e seguidores dos tempos de escola – entre professores, assistentes e funcionários das mais diversas esferas.
Minha família e Miguel Mourão
Curiosamente, a história de minha família se cruza com a de Miguel Mourão em vários aspectos – acredito que a de muitos pirajuienses também.
Meus pais estudaram na Industrial e, na juventude, estiveram sob sua gestão na diretoria.
Meu tio Jorge Marques, professor de Educação Física e atual diretor da E. E. Cel Joaquim de Toledo Piza e Almeida, teve em Miguel Mourão um mentor. Entrou praticamente menino na Escola Industrial e passou grande parte de sua carreira no ensino lecionando e administrando a instituição.
Aliás, o inacreditável material fotográfico deste artigo foi cedido por Marques.
Minha tia Neuza Isabel Daniel, por duas décadas, foi inspetora de aluno na mesma escola – por muitos anos teve Mourão como diretor.
Minha prima Karina Gomes, por alguns anos, lecionou na instituição de ensino, na disciplina de Língua Portuguesa. Meu primo, Leonardo Cipriani, por curto período ali foi secretário de escola.
Hoje, a atual diretora, Maria Aparecida de Oliveira Pagliacci, é uma grade amiga de minha família, mãe de meus amigos de infância.
O legado eterno de um grande educador
Lembrar da atuação de Miguel Mourão no colégio e na vida pública é, muitas vezes, pensar em um diretor rígido mas, ao mesmo tempo, paternal.
Dos longos anos em que viveu na residência ao lado da Praça Dr. Pedro da Rocha Braga, coração de Pirajuí, é fácil recordar de seus passeios com seu cachorro magrelo pelos trajetos circulares do nosso jardim.
Morreu em Bauru, aos 87 anos, após alguns anos já fora da cidade.
Seu falecimento deixou uma marca única na história de Pirajuí: A lembrança de um educador nato.
De uma pessoa que veio para nossa cidade com a determinação de fazer a diferença na formação dos jovens alunos. Oferecendo-lhes educação de qualidade e um ofício para crescer na vida.
Veio determinado e conseguiu.
Obrigado, Diretor!
Sebastiana Nakanishi
21/07/2019 — 18:01
Amei ver as homenagens póstumas do meu ídolo como diretor: Miguel Morão. .
Aprendi muito com ele,e passei para meus alunos tudo de bom que ele e seu corpo discente me ensinaram quando estudei desde a quinta série até me formar professora de primeira a quarta séries, com mais um ano de especialização na pré-escola.
Obrigada Jesus por eu ter tido essa felicidade…
Depois fiz faculdade de Pedagogia e voltei a ministrar aulas na Indústria, que depois passou a ser EE “Prof Maria Ângelica Marcondes”.
Que Deus abençoe esse Sr aonde ele estiver!!!
funcionário Marcelo
22/07/2019 — 20:36
E que bom que a Senhora fez todo esse caminho – já que foi minha primeira e amada Professora que tive na vida! 🙂
Vitor
03/10/2019 — 19:13
Boa tarde meu amigo! Me chamo Vitor Ribeiro, nascido e criado em Pirajuí. Entre outras coisas sou escritor e estou a terminar minha graduação em história. Em meios aos muitos compromisso tenho dedicado tempo ao preparo de meu TCC que versa sobre a Lei n. 5.692/71 a profissionalização do Ensino Médio, durante o governo militar no Brasil. Em minhas pesquisas em busca de escolas que nesse período foram transformadas em centros de ensino técnico me deparei com a Escola Mara Angelica Marcondes – Industrial, onde meu irmão, enquanto morávamos em Pirajuí teve o privilégio de estudar.
Em poucas palavras me encantei pelo texto e história apresentado acima e gostaria de saber se há ainda outra informações sobre o histórico dessa escola, em especial no período militar. Se houver e puder disponibilizar ficarei muito grato.
Parabéns pelo excelente trabalho e continue trazendo as novas gerações histórias de personagens tão importantes dessa grande cidade.
Att
Vitor Ribeiro
funcionário Marcelo
16/10/2019 — 22:07
Vitor! Obrigado pelas palavras.
Grande parte do conteúdo deste artigo vem de uma espécie de autobiografia do Professor Miguel Mourão. Um livro editado no início dos anos 2000. Tenho certeza que a biblioteca da E.E. Profª Maria Angélica Marcondes pode disponibilizá-lo. No entanto, acredito que apenas em versão física, e não digital. Obriagdo pela leitura. Qual sua idadE? Onde vive hoje?