Foi você quem me fez assim

Miguel Mourão: a história de um Diretor

Nesses poucos anos que temos nosso Homem Benigno, poucas personagens de Pirajuí foram tão lembradas quanto a figura de Miguel Mourão, após seu falecimento, no dia 24 de agosto deste ano – muitos leitores pediam uma homenagem.

Diante do tamanho e do peso de sua biografia, levamos um tempo pesquisando o material que hoje abaixo divulgamos aos amantes dos capítulos pirajuienses.

Miguel Mourão
Mourão cumprimenta o então prefeito Dr. Dino Miguel Nanni Rinaldi, durante formatura em 1991

Miguel Mourão foi o mais longevo diretor de escola da história de Pirajuí. 

Na ata do ano letivo de 1950, na então escola de Cursos Práticos de Ensino Profissional, criada em 1948, o nome de Miguel de Souza Mourão já aparecia como docente, do curso de Ajustagem Mecânica.  

Em 1956, Miguel Mourão era designado diretor da então denominada Escola Artesanal. Posteriormente, ela passaria a ser chamada de Escola Industrial e só depois receberia o nome da Professora Maria Angélica Marcondes – que mantém até hoje. 

Deixou o posto de diretor da Industrial no início dos anos 2000. Façam as contas – por quase 50 anos. Meio século. Miguel Mourão foi uma liderança na gestão tanto daquela unidade, quanto na educação de Pirajuí e região. 

A aposentadoria se deu pouco tempo antes de completar 70 anos, ocasião em que teria de deixar a posição compulsoriamente, de acordo com a legislação vigente. 

Akio Kanto, Padre Godofredo, Mourão e Dirceu Castiglioni em churrasco de formatura em 1979

Miguel Mourão: testemunha ocular dos tempos

Lembro de ouvir minha mãe comentar: nossa, na minha época de escola, o Professor Miguel Mourão já era um senhor de idade.

E é mais ou menos essa impressão que temos da figura onipresente de Mourão na história de Pirajuí. Ele foi uma das últimas pessoas públicas a testemunhar e atuar na etapa final da chamada “era de ouro” da cidade.

Em 1957: Felisberto Zini (diretor do Bilac), Mourão, Tenente Mario Thiozo (TG), Walter Lerner (diretor do Pujol), Lauro Alves (Juiz) e o lendário Anibal Haman (prefeito) – aniversário de 42 anos de Pirajuí

Época em que havia ainda certo dinheiro da agricultura rondando por Pirajuí. Das famílias tradicionais, dos lendários bailes do Parque Clube, das corridas automobilísticas de Primo Rico. 

Uma fase em que as pessoas, como vemos nas imagens, saíam as ruas da cidade vestindo terno escuro, com cabelo engomado e o quase obrigatório bigode.

Mas sua atenção era outra. Nascido em Araras (SP), dedicou a vida à educação.

Vou refazer a frase anterior. Dedicou toda sua vida a educação em Pirajuí. 

Fechem os olhos por um instante e tentem lembrar como era uma quarta-feira à noite há uns 25, 30 anos nas proximidades da então Escola Industrial. A rua 13 de maio era totalmente preenchida com ônibus de estudantes de toda região. Quem se lembra?

Tempos áureos do ensino profissionalizante

Desde os tempos da Escola Artesanal, esteve nas mãos de Miguel Mourão lutar pela permanência dessa instituição. Com ensino técnico de qualidade em vários cursos, da mecânica à marcenaria, da cozinha ao artesanato, da contabilidade ao magistério, datilografia, etc.

Homem público

Capa do Correio de Pirajuí (1972) quando da visita do governador Laudo Natel

Apesar de pouco ter conversado com o professor Miguel Mourão, lembro de sua figura muito viva em praticamente todos os eventos da cidade.

Era convidado de honra. Estava sempre sentado à mesa dos cerimoniais. Fosse um evento estudantil, político ou solene. Lá estava o homem público.

Em algumas das fotografias históricas, aparece ladeado do então governador do Estado, Laudo Natel. 

Já em outras imagens, aparece sempre bem relacionado com autoridades que vão além da política, como é o caso dos ex-prefeitos e funcionários, mas também religiosas, como a amizade do saudoso e popular Padre Godofredo Shepeers (que faleceu em 2013). 

Personalidades que deixaram sua marca na nossa história: Padre Godofredo, Mourão e Doriel Gonçalves

No meio escolar, cultivou amizades e verdadeiros discípulos e seguidores dos tempos de escola – entre professores, assistentes e funcionários das mais diversas esferas. 

Minha família e Miguel Mourão

Curiosamente, a história de minha família se cruza com a de Miguel Mourão em vários aspectos – acredito que a de muitos pirajuienses também.

Meus pais estudaram na Industrial e, na juventude, estiveram sob sua gestão na diretoria. 

Cursos profissionalizantes nos anos 1950 na Escola Industrial

Meu tio Jorge Marques, professor de Educação Física e atual diretor da E. E. Cel Joaquim de Toledo Piza e Almeida, teve em Miguel Mourão um mentor. Entrou praticamente menino na Escola Industrial e passou grande parte de sua carreira no ensino lecionando e administrando a instituição. 

Aliás, o inacreditável material fotográfico deste artigo foi cedido por Marques.

Minha tia Neuza Isabel Daniel, por duas décadas, foi inspetora de aluno na mesma escola – por muitos anos teve Mourão como diretor.

Minha prima Karina Gomes, por alguns anos, lecionou na instituição de ensino, na disciplina de Língua Portuguesa. Meu primo, Leonardo Cipriani, por curto período ali foi secretário de escola.

Hoje, a atual diretora, Maria Aparecida de Oliveira Pagliacci, é uma grade amiga de minha família, mãe de meus amigos de infância.  

Equipe de futsal da Industrial em 1959. Em pé: Waldemar Ferreira de Souza, Aurélio Mendes Filho e Akio Kanto; Agachados: Mário Beraldo e Miguel Mourão

O legado eterno de um grande educador

Lembrar da atuação de Miguel Mourão no colégio e na vida pública é, muitas vezes, pensar em um diretor rígido mas, ao mesmo tempo, paternal. 

Dos longos anos em que viveu na residência ao lado da Praça Dr. Pedro da Rocha Braga, coração de Pirajuí, é fácil recordar de seus passeios com seu cachorro magrelo pelos trajetos circulares do nosso jardim. 

Morreu em Bauru, aos 87 anos, após alguns anos já fora da cidade.

Seu falecimento deixou uma marca única na história de Pirajuí: A lembrança de um educador nato.

De uma pessoa que veio para nossa cidade com a determinação de fazer a diferença na formação dos jovens alunos. Oferecendo-lhes educação de qualidade e um ofício para crescer na vida.

Veio determinado e conseguiu. 

Obrigado, Diretor!

Banda Marcial da Escola Artesanal em formação em 1960

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