Em meados da década de 1990, dois adolescentes perambulavam pela praça Dr. Pedro da Rocha Braga, em Pirajuí, em busca de entrevistados, preferencialmente de idade avançada, para uma pesquisa que seria publicada num jornal local. Encontraram um senhor grisalho, de óculos de aro grosso, mas com visual de aspecto jovem: camiseta pólo, bermuda, tênis esporte e meias esticadas até a canela.
O entrevistado era João Batista Labriola.
Antes que os garotos fizessem a pergunta ligada à pesquisa original, uma frase numa das camisetas fez com que o interlocutor tomasse a ação da fala: “aqui está escrito ‘skate’, esse é um verbo em inglês, ‘to skate’, que significa patinar”. Ali começava uma incursão na curiosa mente desse senhor, que convidou os jovens a caminhar uns 100 metros até a sua casa, ali pertinho – local onde foram ministradas, durante aproximadamente três horas (!!!), aulas de Geografia, Teologia e conhecimento de vida.
Nascido em Itatiba, em junho de 1914 e que, durante seus 95 anos de vida literalmente rodou o mundo, até que o destino o colocou na cidade de Pirajuí, município onde se aposentou como gerente do extinto Banco Comercial (prédio onde hoje se encontra o Escritório Contábil Coltri) e que viria a falecer, por causas naturais, num dia 29 de março – coincidentemente, no aniversário da sua amada Pirajuí, em 2010.
Figura carismática, era frequentemente avistado na região central da cidade, pelas ruas, na praça já citada acima ou na varanda de casa. Outros locais frequentados eram as igrejas de toda região, durante as celebrações das missas.
Labriola fez da fé um instrumento de vida – integrava a Terceira Ordem Franciscana, destinada a leigos, ou como descrito pelo site Franciscanos: “tratava-se de pessoas que procuravam viver a sua fé nas suas famílias, nas suas profissões e através de seus afazeres dentro da sociedade”.
Labriola, o religioso
Seguiu à risca a missão de evangelizar. Durante anos publicou no jornal Gazeta de Pirajuí a coluna “A Palavra de Deus”, proveniente de uma folha A4, datilografada frente e verso com os ensinamentos bíblicos. Os capítulos e versículos surgiam por entre as palavras, encaixados pelo total domínio do autor por cada trecho do Livro Sagrado. A máquina de escrever foi uma eterna companheira, já que o computador, mesmo presente em casa, não era utilizado.
Duas décadas antes, perdera a parceira de jornada, a esposa Aldenora. De personalidade marcante, foi professora primária no Olavo Bilac e figura presente na formação de toda uma geração.
O garçom de Getulio Vargas
Aos 86 anos, João Batista realizou um grande sonho e percorreu a Europa, numa viagem que rendeu-lhe um caminhão de histórias e registros fotográficos da Itália, Paris, Londres, os quais eram constantemente exibidos a familiares, amigos e curiosos. Os Estados Unidos da América e o Egito também constam do rol de destinos já visitados pelo viajante.
A idade nunca foi um empecilho, pelo contrário – os próprios estudos de formação técnica em contabilidade só puderam acontecer quando ele já estava na casa dos 30 anos. Exemplo mais notório da disposição eram suas aparições vespertinas na academia de ginástica do Parque Clube de Pirajuí, no alto de seus 90 e tantos anos.
Filho do meio de três irmãos, Labriola teve seis filhos, que residem em Pirajuí, Bauru, Lins e Maringá, no Paraná. Deles resultaram 12 netos e quatro bisnetos. Aos mais novos, a figura do avô (e bisavô) remete a conversas longas, explicativas em tom professoral, nos idiomas inglês, latim e um pouco de italiano.
Histórias fantásticas de uma vida intensa, como a da vez em que, trabalhando como garçom em um hotel, serviu ninguém menos que Getúlio Vargas. Ou, ainda sob o mesmo tema, quando aos 18 anos se viu defronte à Revolução Constitucionalista de 1932.
Naquela tarde ensolarada, eu era um dos garotos do começo desse texto. Nós saímos boquiabertos diante do mundo totalmente novo que conhecemos naquela casa. Conhecemos ali o universo de João Batista Labriola, que deixou a marca de discípulo dos ensinamentos de Deus, da eloquência para abordar os mais diversos assuntos e, principalmente, a história de um homem bom.
Texto publicado originalmente em abril de 2010, na versão impressa do Semanário O Alfinete, de Pirajuí.
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Claudine Pereira- Deiê
07/06/2018 — 17:26
Olá meus amigos do IEDAP, como era antigamente no meu tempo, ou mesmo E.E.Dr. Alfredo Pujol; Esta figura impoluta, Sr, Labriola, como era conhecido, eu tive o prazer de conhecer e em muita vezes até dialogar com ele, pois o seu filho João Norberto Labriola, popularmente conhecido em Pirajuí, como JONÔ, que foi meu amigo de infância e juventude, do grupo escolar até o ginásio e uma de suas irmãs Rosilene, casada com Orlando Pandolfi (Titão) que é meu primo irmão, e voltando ao Sr. Labriola, ao meu ver ele era muito sério quando eu e Jonô “aprontávamos” alguma coisa errada, mas era um gentil e brincalhão quando íamos sair de sua casa para andamos de Bicicleta e que a Bike do Jonô, era Feminina, talvez de uma de suas irmãs. Adorei ver mais um relato que não conhecia deste senhor, pois saí de Pirajuí quando estava com 16/17 anos. Parabéns e agradecimento desta matéria. Claudine Wanildo Alves Pereira- Deiê.
funcionário Marcelo
07/06/2018 — 17:37
Belas memórias, Deiê! Obrigado pela leitura!!!
jose carlos miranda jorge
08/06/2018 — 12:31
Homenagem mais que merecida, 3 ba
luartes de nossa querida Pirajuí
Cristiano Santana
02/05/2020 — 22:24
Eu sou megaaaa Fã dessa página e suas publicações.
Obrigado por se manterem firmes e apaixonantes.
E confesso que nesses dias de quarentena que vivemos, uma das coisas que me fazem falta é poder visitar minha amada PIRAJUI, coisa que faço junto à família a cada 90 dias aproximadamente.
Obrigado
funcionário Marcelo
13/05/2020 — 19:01
Valeeeeeu Cristiano!