Foi você quem me fez assim

Valdick: Memória viva do esporte de Pirajuí

Prestes a completar 72 anos, é um grande privilégio para Pirajuí ter Valdick e seus registros enciclopédicos sobre o esporte local, em especial o futebol.

Poucos pirajuienses não conhecem Valdeci Souza, o Valdick. Ou o conhecem pela sua atuação como historiador e cronista do esporte ou, então, de vista mesmo.

Até pouco tempo atrás, era comum ver esse homem de estatura alta, sempre bem vestido, com camisa de botão e calça vincada, com cabelos grisalhos bem aparados e o imponente bigodão branco desenhado no rosto (no passado, vejo mos registros, era o mesmo bigode, só que preto!).

Com a mobilidade um pouco prejudicada nos últimos tempos, não é mais tão frequente vê-lo pelos bancos da Praça Dr. Pedro da Rocha Braga. Sempre pronto para uma boa conversa e, constantemente, com algum caderno, recorte de jornal ou documento nas mãos.

O autor e seu acervo. É inestimável o volume de materiais e registros históricos que Valdick mantém sobre o esporte de Pirajuí

O historiador do esporte pirajuiense

É impossível descrever, em um único artigo deste Homem Benigno, a grandeza da mente e da memória de Valdick.

Amante dos esportes, passou a ser um narrador, um colecionador de fatos, dados e causos da atividade esportiva em Pirajuí.

Apesar de ter um olhar para todas as modalidades, é no futebol local que seu acervo reúne as maiores riquezas e raridades.

Dos tempos de times mais clássicos de nossa história, como a lendária formação do Fortaleza Esporte Clube, que fez história com nomes como Coti, Pedrinha, Quinzinho, Ananias, Miúdo, Galdino e até um talentoso Chauki, filho de libaneses, nascido na Estiva Grande e que viria ser conhecido mundialmente na música, como Tito Madi.

Posteriormente, depositou sua paixão em acompanhar, escrever e registrar a fase áurea das equipes pirajuienses, com a constituição das lendárias formações do Pirajuí Atlético Clube (PAC) e do Flamengo Futebol Clube.

Poucas pessoas em Pirajuí conseguem descrever com a riqueza de detalhes, como eram as partidas e, principalmente, a sensação única de emoção e disputa que pairava sobre o Estádio Municipal Francisco Nazareth Rocha no dia do “Derby” – que era o nome que a cidade deu às partidas entre os rivais PAC e Flamengo.

Elias Neme, o Griça, Joaquim “Joca” Martins, Picolé, goleiro Caum, entre tantos outros craques que passaram pelo gramado da terrinha, todos têm seus feitos, jogadas clássicas e resultados anotados na mente e nos cadernos de Valdick.

Ao lado do jogador Marcelinho Carioca – é bastante comum ver Valdick sempre alinhado, na estica

E não apenas em Pirajuí – impressiona também o olhar do cronista para o universo do futebol local e regional com muita atenção e carinho.

Possui acervo sobre a forte Associação Cafelandense de Esportes, em especial nos anos 1970 e, também, a imbatível equipe da Usina Miranda, nos anos 1960, com nomes como Arrebite e Chiquinho Taxista (In Memoriam).

Uma das formações clássicas do forte e imbatível time da Usina Miranda

O Valdick paulistano

Como acontece com muitos conterrâneos – inclusive com este que vos escreve –, em determinado momento da vida, Valdick teve de deixar Pirajuí para buscar novos caminhos em São Paulo.

O menino nascido numa fazenda próxima ao trevo de acesso a Reginópolis, que gostava da vida simples e das coisas do campo, se viu em um dos mais agitados bairros do centro de São Paulo, a região entre Santa Cecília e Higienópolis.

Ali passou a exercer a fase mais “acadêmica” de sua biografia, onde foi funcionário, por muitos e muitos anos, do corpo administrativo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Conheceu São Paulo como a palma de sua mão. Suas belezas, curiosidades, nas esquinas e praças, na gastronomia, na cultura e todo resto.

Mesmo após 35 anos vivendo na “selva de pedra”, o menino da fazenda no trevo de Reginópolis ainda mora no coração de Valdick

Conta-me que via, com frequência ali pelas redondezas, o nosso querido amigo Professor e Poeta Omar Khouri, que há muitos anos vive na mesma região.

Morou 35 anos em São Paulo. Em 2000, o coração pirajuiense bateu mais forte, foi quando voltou à terrinha. Junto com ele, é claro, a esposa, minha querida amiga Cleonice, e a filha Camila “Kine”, de quem também gosto muito e admiro demais!

Em 2004, um evento marcaria com chave de ouro o seu retorno: uma partida realizada no Campão, com os atletas das formações clássicas do Atlético reunidos.

Ali estavam Didi, Caum, Franzé, Zé Andrade, Zé Correia, Fordinho (dois deles, idênticos), Bode Faria, os saudosos Griça, Ficão, Alan Kardec, entre outros bambas.

Ah! Agachado também estava o chamado “coringa” do Atlético. Isso mesmo, além de historiador, o próprio Valdick foi um atleta de destaque da equipe local – certa vez, fez até um gol decisivo, de orelha!!!

Mas independentemente de ser do Atlético, quando se fala em futebol, o nome de Valdick é sempre lembrado. Recentemente, se não me engano, o amigo Luizinho Freitas (Maluf) organizou na AABB um reencontro da equipe rival, o Flamengo. E lá estava o Valdick, com direito a serenata do figura Ramildo Zancan (Cabeleira).

Valdick ao lado dos grandes nomes do Pirajuí Atlético (alguns já nos deixaram): Elias Neme, Joca, Marinho, Zé Andrade, Luiz C. Franzé, Didi, Caum, Alan Kardec, Renato Coltri, Lenita e Léo; Agachados e na mesma ordem: Valdick, Bode, Zezinho, Zé Correia, Fordinho 1, Ficão, Ricardo e Fordinho 2

O livro de Valdick

São décadas de história espalhadas em artigos nos mais diversos jornais de Pirajuí, em suas colunas onde sempre assinava “Escreve Valdeci Souza ‘Valdick'”.

Além disso, há postagens diversas em seu blog “Recordar é Viver” e muitos, muitos arquivos e escritos em seu acervo.

Todo esse material tem um objetivo: a edição do seu amplamente divulgado livro “Paixões, Glórias e Histórias dos Desportos Pirajuienses”.

E aqui gostaria de utilizar este espaço para fazer um apelo.

Eu entendo que existem outras demandas na cidade e que, a questão da memória e valorização do nosso passado, nem sempre, pode ser colocada como prioritária.

Mas, no caso do Valdick, que está aí conosco, com todo esse material reunido, eu gostaria que as autoridades locais, vereadores e em especial da área de cultura e, talvez, esportes, olhassem com carinho para esse nosso tesouro.

Não sei como está o andamento editorial do livro “Paixões, Glórias e Histórias dos Desportos Pirajuienses”, mas, se for do interesse do Valdick, seria muito legal que fossem oferecidos meios para que essa obra fosse impressa.

Assim, as presentes e futuras gerações de leitores seriam agraciadas com a riqueza de nossa história no esporte – e, também, com o incomparável cérebro e talento do nosso cronista maior: Valdick!

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