Frank Underwood está atrasadíssimo para um compromisso. Uma obra na Consolação fez com que a Rebouças parasse inteirinha — ele até poderia ter virado na Brasil antes, mas estava ouvindo um concurso de perguntas e respostas da Tropical FM e God dammit perdeu a chance de sair do congestionamento.
Pelo menos está no ar condicionado, diferentemente de sua esposa, Claire, que atualmente está usando o Fiat Palio que era da equipe de segurança e só tem aquele ar quente, só que quando liga sobe um cheiro de óleo díesel tão forte que até a meia calça dela fica parecendo aquelas estopas de frentista da Texaco. A loira saiu de casa às 15h para dar uma olhada numa dessas casas de paisagismo mas errou a ponte da Marginal Pinheiros e, perdida, já foi e voltou até Jundiaí (Jundiaí County) duas vezes tentando acertar o caminho. O GPS do seu celular não está adiantando porque agora tem aquele lance da franquia de 3G que para no meio e o device passa servir apenas para jogar Candy Crush.
Meechum e Doug Stamper estão em outra vibe. Como estão solteiros, vivem a vida à maneira dos serventes de pedreiro, ou seja, por dia. Estão animadíssimos comprando roupas para a balada em um outlet na região do Tatuapé, mas até agora as opções estão um tanto limitadas — o contâiner que a loja buscou no Porto de Santos só tinha camisetas pólo iguais, todas da mesma cor, ao melhor estilo guarda-roupas da personagem Mônica, do empresário Mauricio de Souza. No final das contas Meechum conseguiu pegar uma baby look amarela com um furinho bem pequeno próximo à gola porque abateu no preço.
A congressista Jacqueline “Jackie” Sharp está elegantérrima, está usando nos cabelos um produto novo de tubo roxo de uma marca australiana que o pessoal compra por 60 reais na Liberdade mas que nos Estados Unidos é o preço de bala halls. É com ela o importante encontro profissional que Frank Underwood certamente chegará atrasado. Sabendo da informação, ela ficou revoltada, pois tinha saído mais cedo do seu curso preparatório para concursos na região da República.
O telefone de Claire toca, é um número desconhecido, mas o DDD é 21. Ela faz uma pesquisa rápida no site de buscas Bing e descobre que é do Rio de Janeiro. Ao atender, se assusta. A situação é a seguinte dona nós tamo com seu marido aqui com a gente… Meu Deus, com o Frank!? Esse memo sinhora, O FRANK e o caldo vai entorná se a madame não depositá um dinheiro aí pra gente. Oh my God como assim… Me dê as coordenadas que vou fazer o depósito já. Issumemo vem cá meu irmãozinho, desce aí do beliche pra passar o número pra sinhora.
Já passa das dez da noite e Meechum e Doug Stamper estão na porta da casa noturna Villa Country, na zona oeste de São Paulo. A fila está bombando — os assessores dos Underwood acabaram de ter a informação que naquela noite haveria apresentação de Cristiano Araújo, com o show do seu badalado DVD In The Cities. Com mão na cintura ao melhor estilo policialesco, Meechum é incumbido a utilizar a técnica denominada no mundo ocidental como carteirada (In The Wallet) ao que é abordado pela chefia de segurança. O sr. é polícia federal? Negativo, mestre, Ci Ai Ei (CIA), polícia americana. Ô meu querido você vai me desculpar mas de quinta-feira e ainda mais com esse menino Cristiano hoje até delegado tá pegando fila.
Frank Underwood finalmente chega ao seu destino. Sua esposa Claire acaba de mandar uma mensagem dizendo que é para ele ficar tranquilo pois já pagou o resgate do sequestro. Ele não entende nada e nem se esforça para pensar no assunto; chega a entrar no condomínio de Jacqueline Sharp e resolve chamar o elevador mas ele se fudeu, porque é um prédio chiquetoso daqueles que só a proprietária consegue autorizar a subida através de senha — e “Jackie” não vai ouvir o interfone nunca porque tá com o beats na orelha assistindo Netflix.
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