Os votos de protesto no urubu Getúlio

O advento da urna eletrônica interrompeu aquela mania de declarar a insatisfação nas eleições simplesmente votando em animais populares

Não sei de onde, muito menos qual o motivo de sua imigração, mas, em meados da década de 90, um urubu passou a frequentar a região central de Pirajuí. Batizado de Getúlio – também não me perguntem o porquê ou por quem -, a ave trocou o habitat dos lixões e matagais em busca de carniça pelo telhado do fórum, do cinema e os arredores da praça Dr. Pedro da Rocha Braga.

O urubu invadia supermercados, locadoras de vídeo, aparecia nos quintais (inclusive certa manhã perambulou pela garagem de minha casa).

Outra vez, num descuido, até tomou um choque num fio enroscado no galho de uma árvore bem no centro da cidade. Na ocasião testemunhas ouviram uma pessoa bastante conhecida da cidade, numa crise histérica, bradar diante do pássaro que se estrebuchava no chão:

– Vocês não estão vendo que o Getúlio tomou um choque? Por favor alguém chame uma ambulância meu Deus do céu…

Enfim, agora eu não lembro direito se esse fato foi só um susto ou se, na verdade, era um primo-irmão do Getúlio que tinha levado o choque.

O fato é que ele continuou firme e forte. Tanto que, nas eleições municipais daquele ano, acreditem se quiser, lá estava o nosso urubu com uma expressiva quantidade de votos nas cédulas.

Arca de Noé

No final da década de 50, o rinoceronte Cacareco teve mais de 100 mil votos para vereador na cidade de São Paulo. Na real, um jornalista da época tinha lançado ele como candidato em protesto contra a cena política local.

Em 1989, o finado Casseta & Planeta lançou o chimpanzé Tião como candidato a prefeito do Rio de Janeiro. Teve 400 mil votos, entrou pro Guinness e os cambau.

No caso do urubu Getúlio de Pirajuí eu não sei dizer se os votos foram para vereador ou prefeito, nem se foram considerados nulos automaticamente pela Justiça ou se ele desistiu de concorrer em cima da hora.