A pedido do Carlos Cury, escrevi esse texto que narra um pouco da história do Restaurante Castelinho, mais antigo estabelecimento de gastronomia em funcionamento de Pirajuí – e sob gestão da mesma família. Ele foi publicado originalmente no jornal A Gazeta de Pirajuí, em 26/07/2014.

Três décadas do nosso famoso Castelo

Restaurante Castelinho marcou época tanto na vida noturna quanto gastronômica de Pirajuí. Conheça sua história

 

Ele fica a uma quadra do coração da cidade. Para quem chega da estrada, basta seguir em linha reta e, pronto, já está bem perto dele. Motoristas perdidos pelo Centro geralmente o tem como ponto de referência nas explicações para reencontrar seu caminho. Quem mora na cidade certamente já não sabe mais viver sem sua figura altiva na esquina das ruas Riachuelo com a 9 de Julho.

De arquitetura imponente – ideia do primeiro proprietário Chiquinho Martins -, o Restaurante Castelinho completa neste mês 30 anos sob a atual gestão dos irmãos Carlos e Ricardo Cury.

Sua fachada, telhado e grandes janelas triangulares lembram uma fortaleza medieval e o nome do estabelecimento acompanhou o visual. Várias reformas foram feitas, interna e externamente, mas a proposta inicial não sofreu alterações.

Seja o prato comercial com tempero caseiro e a saborosa farofa, seja o preferido da clientela, o famoso filé à parmegiana, almoçar no Castelinho significa viver um pouco o dia a dia da cidade, observar o movimento das ruas e do comércio através das janelas ou pela varanda do restaurante.

Uma experiência que pode ser vivida tanto pelos moradores, visitantes ou então os representantes comerciais, viajantes que marcam presença diária nas mesas e fazem dali um pedacinho de seus lares naqueles minutos reservados para o merecido almoço.

Uma outra especialidade tradicional da casa é a entrega da refeição nas residências. Logística que movimenta o local na hora do almoço com a saída das marmitas – e, acreditem, há clientes fiéis em Pirajuí que as recebem todos os dias, desde que o restaurante foi inaugurado.

 

O início

Luvas descartáveis, máscaras, obturações e instrumentos odontológicos. Esse era o dia a dia a que os irmãos Carlos e Ricardo estavam acostumados quando foram procurados pelo tio, Tuta Cury e sua esposa Ana, com a ideia de montar uma lanchonete.

E assim foi feito. Em julho de 1984 eles inauguravam o novo Castelinho, que abria durante o dia e atravessava a noite, até o último cliente.

Numa época em que a região mais alta da Rua Riachuelo ainda não era o “point” da noite, a vida noturna da cidade se dividia entre o estabelecimento da família Cury e a também famosa Lagoinha, na entrada da Nova Pirajuí.

Com a música ao vivo, estar no Castelinho significava ver e ser visto. Era difícil conseguir uma mesa diante de tanta popularidade – algumas pessoas que frequentavam o lugar na época garantem que, em certas noites, o movimento era tão intenso que era difícil até entrar para usar o banheiro.

Com a chegada dos anos 90 e a inauguração de novos bares na cidade, o fluxo da vida noturna também mudou, mas, ainda assim, o estabelecimento abriu durante a noite por 25 anos. Hoje em dia, funciona apenas para o almoço.

Com o passar dos anos, há uma mudança entre os sócios do restaurante, mas a gestão ainda permanece em família, dos irmãos Carlos e Ricardo, com o apoio da mãe Geny e do pai Gidala Cury.

A localização privilegiada e a fama consolidada do local o fez palco de presenças ilustres degustando seu menu a la carte. Bastava um visitante estar na terrinha que, na hora da fome, lá estava sendo servido nas mesas do Castelinho.

Nessa lista de famosos estão as duplas Chitãozinho & Xororó, Gian & Giovani, os grupos Negritude Jr., Adriana e a Rapaziada e a equipe inteira da Seleção Brasileira de Vôlei. No patamar político, foi ponto de encontro de prefeitos de toda região, deputados e até governadores.

No entanto, os proprietários guardam particular orgulho da presença no restaurante do mais ilustre filho de Pirajuí, o cantor e compositor Tito Madi, que vive no Rio de Janeiro.

 

Equipe

Às 7 horas da manhã já é possível acompanhar a movimentação na esquina. As primeiras funcionárias da equipe, cozinheiras, auxiliares e os responsáveis pela limpeza e entrega já preparam mais um dia de trabalho no restaurante – um ritmo acelerado que permanece até o último cliente do almoço, no meio da tarde.

Durante praticamente os seus 30 anos, o Castelinho sempre manteve uma média de 15 colaboradores fixos na equipe. Em datas especiais, como o tradicional almoço de Dia das Mães, entre outras ocasiões, há ainda uma equipe adicional para reforçar.

Uma outra característica da casa: geralmente seus funcionários trabalham por muitos anos, o que os torna íntimos dos clientes.

Em alguns casos, eles são até um tanto folclóricos,  como o Toninho Savae (in memoriam), cujo apelido carrega seu próprio ofício, “Toninho Garçom”.

Quando passou a integrar a equipe do Restaurante Castelinho, ainda na década de 80, Toninho já era um profissional das mesas bastante conhecido nos eventos do Parque Clube de Pirajuí. Na nova função, trabalhou por dez anos.

Seu carisma era único e trazia consigo um humor quase natural ao lidar com os clientes. Era sempre muito requisitado e arrancava gargalhadas com suas tiradas espontâneas. Certa vez a freguesia perguntou qual era o prato do dia, ele respondeu que era peixe. Mas que tipo de peixe, questionaram, e Toninho emendou: “Ah! Um peixe aí que esses turcos inventaram”.

Sem ter estudos, impressionava por sua rapidez no raciocínio e na matemática – lembre-se que era um dos restaurantes mais frequentados da região, com lotação diária. Sem saber escrever, usava letras e símbolos para se virar nas anotações de pedidos do cardápio.

Uma fama tão grande que, segundo consta, despertou a atenção do saudoso humorista Chico Anysio, grande amante da cultura popular, que, durante passagem pelo município, quis saber um pouco mais dos causos do tal “Toninho Garçom”.

Personagens que marcaram época, funcionários que fizeram história no restaurante, clientes que durante anos frequentaram e ainda frequentam o local, seja para almoçar, saborear uma porção, beber uma cerveja gelada, um café, ou mesmo uma água fresca… Apenas para desfrutar o prazer de observar o ir e vir da cidade, de dentro do castelo.