O maratonista pirajuiense Silvio “Índio”, na década de 80, viajou com outros atletas locais para uma corrida em São Paulo. Era a primeira vez que eles disputavam na Terra da Garoa e, pouco tempo antes, o próprio Índio, exercendo sua liderança no atletismo local, tinha ido aos meios de comunicação (rádio e jornal) e denunciado que não estavam colocando os corredores em alojamentos decentes antes das provas.

Em resposta, o então secretário de esportes de Pirajuí, enviou a rapaziada para um baita “hotel 5 estrelas”, no coração da Capital. Claro que teve novidade…

 

O folclórico Índião

Quem é de Pirajuí provavelmente conhece ou já ouviu alguma história do Índio. Pedreiro e corredor, tem o dom da palavra, é um exímio contador de causos – que, por alguns, são chamados maldosamente de inverdades.

Índio exagera, aumenta, carrega na interpretação, mas sempre baseia suas narrativas em alguma situação cotidiana que, creio eu, de fato aconteceu.

Sentado alguns minutos na calçada do Bar do Papile™ semana passada, ao seu lado, repentinamente ele começou a descrever situações fantásticas. Contou de um cara, de Pirajuí, que era uma verdadeira máquina no corte da cana – o próprio Índio cortou cana durante um ano em uma usina local, pois acredite que esse rapaz, em apenas 40 dias de corte, tinha recebido a mesma grana que ele, em 12 meses de produção: o sujeito era uma colheitadeira ambulante.

Isso foi apenas uma história, contada ali, no susto. Ele é um baú de causos, como o da mutuca que ele “enganou” no arame farpado, do seu cavalo inteligente, do seu método de beber água do rio durante as corridas e, talvez a mais clássica, de quando foi caçar um tatu bola e só encontrou uma moranga gigante.

Na época do finado Orkut, criei uma comunidade chamada As Maravilhosas Histórias do Indião e, durante anos, dezenas de pessoas contribuíam com passagens desse figura. Esses causos já fazem parte do folclore pirajuiense, as histórias vão passando de pai para filho, muitas vezes alteradas. Outras nem saíram da boca do Indião, mas a ele já foram atribuídas. Tarde demais.

 

O atletismo em Pirajuí

No atletismo, Índio vem de uma época em que a cidade toda parava para ver o brilho de seus corredores. Na sua faixa etária, acredito que deva ter seus 60 anos, durante décadas ele teve seu rival das pistas: Gone.

As corridas em Pirajuí e região podiam ter centenas de inscritos, mas a verdadeira disputa era particular: Índio versus Gone – até hoje, durante os treinamentos diários dessa dupla de apaixonados corredores, é possível sentir um ar de rivalidade.

Vale ressaltar que, atualmente, pessoas ligadas ao esporte na cidade, como a equipe da RH (Rigobelo e Heloísa), além de militantes como o Celso Gustavo Vianna, têm investido no atletismo para todas as gerações na city e em grande região.

 

As histórias do Índio em São Paulo

O fato é que lá estavam, em meados da década de 80, Índio e seus comparsas de maratona em um belíssimo hotel, no alto de seus 30 andares. A partir daqui, passo a palavra para o próprio Indião:

Índio, semana passada, contando mais um causo.
Índio, semana passada, contando mais um causo.

“Rapaz do céu nós tava no 30º andar e não sabia nem o que fazer ali naquela altura. Nisso chegamos no quarto do hotel, gigante, coisa mais linda. Estava cheio de garrafinhas de bebidinhas espalhadas ao redor para todo o canto.

Nisso, a molecada já chegou com sede e começou a beber uma a uma as garrafinhas.

Eu cheguei quebrado da viagem e olhei aquela cama maravilhosa me esperando. No que eu pisei no carpete, Deus do céu, que coisa macia, o pé afundava naquele tapete fofinho, era uma delícia. O cansaço era tanto que eu fui passo a passo tentando chegar na cama, mas o tapete era tão fundo e macio que, juro por Deus, eu não aguentei e dormi ali mesmo, no chão.

No outro dia, ficamos sabendo que as garrafinhas eram importadas e todas cobradas a parte. A conta ficou caríssima para a prefeitura pagar, ficamos até suspenso de correr por um tempo.

Daí pra acabar, acordamos cedo e fomos pra porta do hotel, no que perguntei ‘moça, como eu faço para chegar no Ibirapuera?’ e ela respondeu que era só pegar o ônibus 4230.

Rapaz do céu, já era quase 2 hora da madrugada do outro dia e nós tava na frente do hotel e só tinha contado 4.002 ônibus que tinham passado ali naquela avenida, você acredita?” 

Grande Índio.