Sentado em minha poltrona com uma boa dose desse Jack Daniel´s novo que vem misturado com mel e que às vezes fica tão doce na boca que parece um Naldecon Gotas tive uma epifania ao ligar o televisor e me deparar com a estreia de uma nova atração matutina.

Vi Celso Zucatteli, Edu Guedes e Mariana Leão, ao lado deles estava João Kleber e Ronnie Von, quando pensei, caramba em algum momento de minha vida ouvi que as baratas, os escorpiões e os tratoristas seriam os seres mais preparados para um eventual Apocalipse (não bíblico, mas hollywoodiano).

Pensei comigo: talvez esses apresentadores de programas matutinos também estejam entre os homens mais resistentes a uma eventual hecatombe.

Eles são muito {emoção}. Dão gargalhadas, sorriem, se deliciam diante de um manjar de pêssego com aquela ameixona em cima, choram copiosamente ao ver um reencontro familiar ou animalzinho perdido. Eles transmitem tanta emoção e tão logo cedo que parece, ao mesmo tempo, que eles não estão realmente sentindo esses sentimentos. São corações blindados?

Visualizei uma Nova Iorque devastada, com hominídeos de rosto em forma de caveira, altos, caminhando entre o que restou da civilização. Entre nuvens de gases roxos venenosos, está uma mulher, uma das últimas da espécie, ainda mais alta que os ciborgues: é Ana Hickmann, ela exibe um óculos de sol nas mãos e com um sorriso capaz de reviver Adão e Eva, explica que as lentes possuem exclusiva proteção UV e que eles despacham a mercadoria para todo o Brasil – vem com dois anos de garantia total.

Uma luz muito intensa se abre no horizonte em forma de flash e revela ninguém menos que César Filho, com um terninho acinturado, ele está revoltadíssimo com uma árvore de titânio que caiu em uma alameda e agora os mutantes humanóides têm que desviar e passar pelo rio Pirajussara, feito de puro ácido. Ele grita revoltado e pede atitudes às autoridades androides, não é possível viver em um mundo já devastado com tanto descaso.

Corta a câmera para Edu Guedes, que está cozinhando uma capivara transgênica ao molho de poeira radioativa. Ele pede mais foco da câmera para mostrar como, utilizando uma pinça, ele consegue retirar fragmentos de minas atômicas do simpático mamífero roedor do Armageddon.

Zucatelli está emocionado. A produção do programa conseguiu recuperar um gatinho-robô de uma garotinha-robô que estava sofrendo muito com a perda – sua mãe gostosa-robô chegou a fazer apelos na internet que o software da filha estava até apresentando defeitos de tanto que ela chorava com o sumiço do robot-pet.

Outra lágrima de Zucatelli encontra o chão. O contato do líquido humano com a árida superfície terrestre de Chicago (mas não era Nova Iorque cacete?) causa um barulho de fritura. O universo tornou-se bastante inóspito. Celso está chorando por Britto Jr. e Chris Flores. O primeiro, ao deixar os matutinos, perdeu a invencibilidade cibernética necessária para sobreviver ao caos supremo. Já Chris (linda, adoro), deixou o programa da Rede Record e negou o convite para as manhãs da RedeTV, ou seja, pegou o mesmo rumo que 99,9% da humanidade: foi pro vinagre.

Um barulho ensurdecedor vem do horizonte, um urro que se desenrola dos mais profundos confins da galáxia, um odor forte, meio enxofre, meio carniça cruza os céus – seria esse o cheiro da morte? Ele antecede um tremor que derruba os já capengas edifícios restantes. Numa imensidão verde, disforme e gigantesca, em que penas se misturam a tentáculos, uma voz aguda e levemente enrouquecida disfere um cumprimento: Bom Dia Meninaaaa!

É a forma pós-apocalíptica de Louro José. Por não ser humano, mas um fantoche de neoprene, a transição da guerra nuclear e as etapas que vieram em seguida (congelamento pleno, vulcanização atmosférica e aquelas cadeiras de massagem de shopping center) transformaram-no em um verdadeiro Kraken dos departamentos de pelúcia. Ele carrega no pescoço, em um colar, sua eterna e amada chefe, Ana Maria Braga, que anuncia a próxima atração: uma caixa de som com os restos mortais e relíquias da banda Sorriso Maroto, que foi sucesso naquele longínquo 2015 com a música Um metro e sessenta e cinco.

O vento na sacada de meu apartamento me acorda do torpor. A nova atração Melhor Pra Você está nos comerciais. Dou mais um gole no uísque e reflito: como é doce esse Jack Daniel´s, rapaz, estou pra te dizer que acho que eles erraram a mão nesse mel, viu.

 

Uma pequeniníssima homenagem ao #DiaDaToalha

O programa Melhor Pra Você é exibido diariamente nas manhãs da RedeTV às 9h30