Foi você quem me fez assim

Ainda sobre 50 Tons de Cinza

Esse Cinquenta Tons de Cinza é maravilhoso, não? Livro e filme. É eu acho que são. Na verdade eu só assisti ao filme e não gostei muito, sabe, mas é muito deprê começar um texto falando negativamente de algo né – mesmo que esse algo seja um produto dessa era consumista das massas, culturalmente mais rasa e desprovida da riqueza intelectual exigida. Mas vem cá, o que esses eternos críticos querem? Que o povo ande pela rua lendo Balzac e essas tretas que só se lê na faculdade (porque é obrigatório) e o resumo ainda por cima?

Vocês conhecem a história do 50 Tons de Cinza? Tenho certeza que sim. Mas eu vou recapitular. Tem uma mina, coisa mais linda, novinha, inteligente, estudiosa, boa filha, boa amiga de república. Só que ninguém entende por que uma mulher dessas trampa numa loja de ferragens. Não essas Leroy Merlin da vida, negativo, uma daquelas pequenas, familiares, tipo da Rua do Gasômetro em São Paulo ou a do Ricardo Darín, no filme Um Conto Chinês, aquela produção Argentina que ganhou o Oscar esses tempos, porque fala de um crime e um cara apaixonado que não tomava a iniciativa.

Então rapaz, você acredita que do nada, essa mina aí se depara com um sujeito milionário. Milionário não. TRILHARDÁRIO. O homem tem de tudo, carrão, helicóptero e um closet do tamanho de uma dessaas casinhas do Minha Casa Minha Vida inteirinha para guardar paletó e gravata.

Aliás, esse galã aí só usa gravata cinza –  e chama Grey, que é um nome estrangeiro né, não é muito comum alguém chamar Grey aqui por esses lados. Acontece que grey é cinza em inglês, então fica 50th Shades of Grey, aliás, 50th não, senão fica Quinquagésimo Tons de Cinza hauhauh. Eu ouvi uma conversa besta que a primeira prova do livro em português ia chamar 50 Tons de Wanderley, que seria o nome do milionário, mas aí deixaram essa história de lado.

Agora imagine você, esse tal de Sr. Grey é um homem bonito, rico, novão, não bebe, não fica gritando “Vai Corinthians” nos semáforos, não briga com caixa-rápido do Pão de Açúcar por causa de fila… É claro que a mina se apaixonou.

Ficou doidinha, rapaz. Ela gostou do cara, de verdade.

Só que aí que vem o ponto-chave da história (tanto do livro quanto do filme): esse sujeito aí não era um namoradinho daqueles que faz carinho e fica assistindo Altas Horas comendo pizza com catchup no sofá. O homem era meio violento, gostava de uma pegada mais pesada, eles comentam que é o tal do sadomasoquismo né, que eu não tenho nada contra, pelo contrário, admiro.

O negócio é que para sentir uma tesã esse tipo queria amarrar a menina, dar uns tapas com a mão pesada, uns pescoção, dar aquelas saraivada com a toalha molhada. E o chicote? Esse cara ia transar com a princesinha e tirava um arreio de charrete do gaveteiro, você acredita? Ah, se eu sou amigo dessa mocinha do livro ela ia escutar tanto.

A verdade é que essa história mexeu com os leitores do mundo todo – principalmente com a mulherada. Tem um conhecido meu, meio rústico, que a esposa dele leu o livro e quis apimentar a relação. Ela comprou dois metros de corda e levou para “esquentar” o aniversário de casamento do casal. Só que o cara é caminhoneiro, mexe com mudança, você acredita que na hora do vamos ver ele amarrou a coitada com um nó carioca? E para desatar a cônjuge? Na carreta você vai puxando  e raspando na madeira, mas e no antebraço? Quase deu divórcio. Aliás até chegaram a marcar a separação com advogado, mas desistiram, ele é muito apegado à filha. A menina também adora ele, chora quando ele trabalha até tarde, ia ficar complicado.

E a febre dos Cinquenta Tons de Cinza ainda está longe de sarar, ainda hoje, passado um bom tempo do lançamento, ainda é a 4ª obra de ficção mais vendida no Brasil, segundo a Publishnews, com mais de 43 mil unidades. Cacete! O livro tem preços entre R$ 14 e R$ 30 em livrarias na internet.

E tem uma trilogia ainda né? Mas eu não vou ler mais não, você está louco. Se no primeiro esse rapaz já chegou a ripa nessa mulher, imagina o que vem depois? É capaz de ele amarrar a coitada pelada no alto de uma torre da Vivo ou fazer carinho na nuca dela com o cortador de unha (trim).

Mas não há como negar que o livro seja interessante. A história conquistou leitores do mundo todo. Fala dos limites do amor, da ousadia na hora do prazer. Vale ter uma pegada mais forte e ser um pouco mais agressivo nas horas mais íntimas?  Valer até vale, mas não precisa envolver um pau de cerca e um rolo de arame farpado, firmão sangue quente?

« »