*Texto publicado em junho de 2011 no Semanário O Alfinete, em Pirajuí. O engenheiro agrônomo Edson Pfeifer faleceu em 2006 e foi um pioneiro da divulgação da sustentabilidade entre alunos desde o Ensino Infantil na cidade
Linda, branca e esguia, uma garça cruza o céu azul do primeiro dia de inverno e pousa na margem do rio. Lá, percebe que não está sozinha, outros dois espécimes semelhantes ficam na sombra, entre uma e outra bicada na água, em busca de peixes ou pequenos anfíbios, enquanto desviam de variados tipos de plantas verdinhas do local.
A cena acima não causaria nenhum tipo de estranhamento se fosse na zona rural, ou mesmo de alguma área de preservação. O espanto surge pelo fato de ocorrer em área urbana da cidade de Pirajuí, mais precisamente, no espaço entre as pontes da avenida Nelson de Carvalho Guerreiro, no início do Jardim América e da Avenida Orestes Quércia.
Esse resultado não é fruto apenas da mãe natureza. No início da década de 90, um engenheiro agrônomo muito conhecido da cidade interrompia aulas de centenas de crianças do ensino fundamental da Escola Estadual Olavo Bilac.
Na rua, ônibus estavam preparados para carregar esses jovens diabinhos até a região mais baixa da cidade, onde fica o Córrego Douradinho Leste. De turma em turma, com muita simpatia e paciência, esse profissional mostrava o local, todo abandonado, um descampado seco, com um fétido fio de água no meio. Em seguida, incentivava os alunos a plantar uma muda de árvore.
Há quase vinte anos, Edson Carlos Pfeifer tomou essa iniciativa com praticamente todas as crianças em escolas de Pirajuí. Explicou às jovens mentes a importância da mata ciliar, a vegetação que preenche as margens dos rios e córregos, que favorece a fauna e evita deslizamentos e erosões.
Pirajuienses falam sobre Edson Pfeifer
De acordo com engenheiro agrônomo Galeno Loureiro Sobrinho, “o próprio conceito de mata ciliar em espaço urbano é complicado, já que ele aplica-se mais à zona rural”. No entanto, Galeno, que conheceu Edson Pfeifer ainda na Faculdade de Agronomia de Paraguaçu Paulista, é enfático ao abordar o seu papel visionário de consciência ambiental, numa época em que o assunto estava distante dos noticiários – “um ambientalista que trabalhava com as bases: as crianças”.
Seu fascínio pelo meio ambiente gerou, na mesma época, o sonho da criação do Zoológico Municipal. Mesmo sem a longevidade esperada, a proposta marcou época e foi um raro exemplo de lazer e entretenimento aplicado na história de Pirajuí.
Para Luís Gustavo Martins de Barros, autor do livro Conheça Pirajuhy, Edson foi “o maior plantador de árvores da nossa história”. Ele lembra também a febre dos simpáticos adesivos com araras, em apoio à criação do Zoológico, presentes em quase todos os carros.
Edson Pfeifer partiu bem cedo, em fevereiro de 2006. Sua consciência ambiental e o amor à natureza foram presentes que ele deixou para a posteridade, como as garças que hoje homenageiam, diariamente, seus esforços no córrego Douradinho Leste.
Tudo isso para aproveitarmos o momento e colocar em prática aquela frase que ele sempre dizia: “E aí, gente boa! Você é que sabe viver a vida”!
*A imagem de capa é uma montagem feita a partir de uma fotografia do acervo do Rodrigo Schias