Celso Barros é um pirajuiense de muitas histórias.

Amigo de seu neto Henrique que sou, durante anos estive em sua casa e ouvia seus causos diversos, sempre com seu jeito peculiar de narrar.

Em um de seus contos que mais gosto, ele se sentiu mal, em Pirajuí, e não pensou duas vezes. Pegou o telefone (fixo, é claro, não havia celular ainda) e tratou de ligar para São Paulo.

A linha direta era com o consultório do cardiologista pirajuiense Dr. José Pedro da Silva, em uma das alas que dirigia (e dirige) no Hospital Beneficência Portuguesa.

– Alô, quero falar com o Chinês (apelido carinhoso e pirajuiense do médico).

– Então, Senhor, infelizmente ele está no meio de uma cirurgia de coração, não pode atender.

– Por favor, diga a ele que é Celso Barros, de Pirajuí.

A ligação ficou muda por alguns instantes e, logo em seguida, lá estava ele no outro lado da linha.

– Oi Celsão, o que está acontecendo?

*

Para uma pessoa nascida em Pirajuí, parece até ficção acreditar na trajetória de vida de um profissional como o Dr. José Pedro da Silva.

Sua trajetória é cercada de uma força de vontade inspiradora; uma persistência sobre-humana e, posteriormente, um brilhantismo em uma carreira única, que revolucionou os anais da medicina brasileira (e até mundial).

Considerado um dos cinco profissionais de medicina mais relevantes do Brasil, ganhou recentemente um centro cirúrgico com seu nome: NOS ESTADOS UNIDOS!!!

Uma biografia de perseverança

Dr. José Pedro da Silva nasceu nos anos 1940, na Fazenda da Faca.

Mas os pais, trabalhadores da roça, tinham em casa um garoto que não estava predestinado à vida no campo.

Mesmo na escola rural, já mostrava seu interesse de dar voos mais altos – tudo isso acompanhado de sua privilegiada inteligência. Zé Pedro tem um QI de 140. Só para contextualizar a média em geral fica entre 80 e 110.

Já morando na cidade, o sustento da família pelo pai, Pedro Quirino, vinha de uma verdadeira marca registrada de Pirajuí: a venda de amendoim na rua.

“Olha o Viagra! Olha o Viagra!” – Quem não se lembra do Sr. Pedro nas arquibancadas do Campão, no Cine São Salvador, no Jardim ou nas ruas oferecendo seu delicioso amendoim, caprichosamente embalado numa página de papel jornal?

Aqui faço duas observações:

1. Sr. Pedro Quirino hoje tem 98 anos – e mesmo com todo o sucesso profissional do filho médico, nunca deixou de exercer sua profissão nas ruas, sob sol e chuva;

2. Como será que o Sr. Pedro usava o jargão para vender o amendoim antes da indústria farmacêutica ter descoberto o Viagra, não é mesmo?

José Pedro morou em um seminário e estudava com apostilas emprestadas. Entrou logo de primeira na faculdade de Medicina na Unesp de Botucatu.

Para se sustentar em Botucatu, usou de um outro talento que possui, a pintura. Desenhava debutantes e vendia os retratos. Fez certo sucesso, o que lhe garantiu verba para terminar o curso.

Desde então, fez residência em cirurgia cardiovascular no Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe, 1974-1976) e aprimoramento em cirurgia torácica e cardiovascular nos Estados Unidos da América (EUA) na Cleveland Clinic Foundation, em Boston, onde se desenvolveu nas principais técnicas de cardiopatias congênitas complexas e na Universidade de Stanford, na Califórnia, onde acumulou trabalhos em transplantes cardíacos no centro mais avançado à época.

É titular e emérito da cadeira nº 21 da Academia de Medicina de São Paulo.

Dr. José Pedro da Silva é pai de três filhos.

Ala no hospital dos Estados Unidos homenageia o pirajuiense

O UPMC Children’s Hospital of Pittsburgh anunciou a criação do Silva Center for Ebstein’s Anomaly, estrutura vinculada ao Heart Institute (Instituto do Coração) daquele hospital e que homenageia o médico pirajuiense José Pedro da Silva, cirurgião cardíaco da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

A homenagem se deve pelo fato de Chinês ter desenvolvido a técnica conhecida como procedimento do cone, utilizada como padrão mundial para o tratamento da anomalia de Ebstein, uma cardiopatia congênita rara que pode causar insuficiência cardíaca no bebê, podendo afetar, inclusive os pulmões da criança.

Dr. José Pedro também conduziu o transplante com dois corações e, em 1988, fez o primeiro transplante cardiopulmonar da história do Brasil – e o 13º do mundo!

Orgulho de ser conterrâneo do Chinês

É muito difícil escrever qualquer artigo sobre Dr. José Pedro da Silva. Há muitos anos, seu talento na medicina e as conquistas por ele desempenhadas são temas de reportagens nos principais veículos e revistas do Brasil e do mundo.

No entanto, como este Homem Benigno tem o objetivo de lembrar dos filhos da nossa terrinha. Escrever sobre o Chinês é especial.

Dá orgulho saber que das mãos desse garoto, nascido na Fazenda da Faca, uma infinidade de vidas foram salvas. Como certa vez declarou em uma reportagem para a revista IstoÉ: “Meu coração dispara quando o dos outros ameaça parar”.

Parabéns, Zé Pedro, o Chinês!

Foto de capa: Ricardo Cury; Colaboraram com informações: Marcus Liborio e Vitor Oshiro

Designed by Sergey_kandakov

Leia também:

Os 30 anos do Restaurante Castelinho em Pirajuí