Foi você quem me fez assim

A indústria de açúcar da Usina Miranda

O anúncio abaixo é uma raridade do acervo da Biblioteca Nacional e retrata um momento muito único da indústria de açúcar da Usina Miranda.

O momento era setembro de 1939, com o mundo todo entrando na Segunda Guerra Mundial, uma época em que esse empreendimento agrícola (pertencente ao município de Presidente Alves, mas com propriedades em Pirajuí), vivia sua era de ouro.

Anúncio de revista em 1939

Muito se fala do açúcar da Usina Miranda, em lembranças, artigos e homenagens. Mas apenas as pessoas que, na era da prosperidade, conviveram na estrutura do local, conseguem lembrar das dimensões daquela comunidade.

Para este artigo, utilizamos os momentos finais da indústria de açúcar da Usina Miranda. Um registro de alta qualidade produzido pela Drone Filmes, do meu amigo Igor Paulovic.

Potência nacional

Na indústria, como podemos ver na imagem abaixo, era onde a “mágica” acontecia.

Até então reconhecido como maior município cafeeiro do mundo, Pirajuí, com as atividades do açúcar da Usina Miranda, passava a outro patamar na produção rural brasileira.

Foto da indústria de açúcar da Usina Miranda (autor desconhecido)

Do planta industrial eram produzidos açúcar cristal, moído, mascao e somenos.

Você sabe o que é açúcar somenos?

O termo açúcar somenos refere-se a o açúcar mal purgado e mal cristalizado. O subproduto origina-se da terceira ou, então, da penúltima parte do pão de açúcar – sendo assim, é considerado um açúcar de qualidade inferior.

E, é claro, havia ainda a produção do álcool.

Os trabalhadores do açúcar da Usina Miranda

Em determinado momento de sua história, a narrativa da Usina Miranda se confunde, também, com a do movimento trabalhista brasileiro.

Nos anos 1960, à época sob a gestão do então deputado J J Abdalla, que também foi secretário do trabalho do governador Adhemar de Barros, o empreendimento agrícola local passaria a fazer parte de um capítulo da história do Brasil.

Tristeza: uma das últimas imagens da estrutura da indústria poucos dias antes de ser completamente demolida

Em um dos primeiros grandes movimentos grevistas registrados, a Companhia de Cimentos Portland Perus, em São Paulo, que também era de Abdalla, iniciou uma greve que durou sete anos.

A resistência dos trabalhadores, que buscavam melhores condições de trabalho atravessou, inclusive, o Golpe Militar de 1964, resistindo por alguns anos durante o período da Ditadura.

Nessa época, por um período mais curto, em busca de seus direitos, os trabalhadores da indústria de açúcar da Usina Miranda também aderiram ao movimento.

Na história do movimento trabalhista do Brasil, esses integrantes da greve foram chamados de “Queixadas” e marcaram época dando importante passo na busca de direitos mais dignos.

Durante essa crise, em 1967, a Usina Miranda chegou a decretar falência sob, durante aquela gestão.

As saudades

É no grupo Usina Miranda – Pirajuí SP, no Facebook, que muitos ex-moradores e familiares se encontram para trocar reminiscências, fotografias e mensagens.

As chaminés que tantos empregos e tantos produtos forneceram a todo o Brasil, agora, deixaram de existir

Diante das imagens da era de ouro do local, perguntei a alguns dos participantes sobre quais eram as lembranças que mais marcaram sua vida na extinta Usina.

Aqui estão alguns depoimentos:

Nesta foto era o auge da nossa usina, era quando tudo funcionava bem; Nós éramos ainda pequenos e felizes – tínhamos nossos pais e tudo era lindo e maravilhoso.

Zoraide Xavier

Nasci na Usina, saí de lá pequena, porém retornei por volta de 1960, já com 6 anos. Eu admirava a fé das pessoas, as missas e celebração de cada data, os presépios de natal e novenas. As procissões e novenas em época de falta de chuva. Na Usina tinha pessoas de vários Estados do Brasil e até de outros países por isso tinha muitas diversidades. A água que jorrava da mina, dos rios e açudes, do pomar do Sr Albino…

Rosemarie Schaefer

Nós que morávamos do lado da represa, todos nós nascemos e se criamos neste paraíso chamado Usina Miranda

Jaime Santana

E você? Também nasceu ou morou na Usina Miranda? Qual a sua lembrança mais marcante? A igreja, o cinema, a moeda própria (o cascudo!), o lindo campo de futebol, a equipe imbatível, o grupo escolar?

Do que você se lembra do PLANETA USINA MIRANDA? Conte pra gente!

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