Foi você quem me fez assim

San Remo 35 anos: a pizzaria que mudou Pirajuí

Hoje em dia fala-se muito em empreender, inovar, dar as caras, ser o próprio patrão etc. Em meados dos anos oitenta, esse assunto não era nem comum e nem incentivado. Foi assim que nasceu a Pizzaria San Remo – que hoje completa 35 anos!

Num dia 27 de janeiro de 1987, o Jorge Caires Aguiar era um jovem idealista, que trocava uma talvez promissora carreira como bancário, com uma família em construção, para arriscar tudo o que tinha naquele momento para abrir o próprio negócio: uma pizzaria.

E não pense que foi algo da noite para o dia. Ah, não. Vocês não conhecem esse cidadão que, a partir daquele ano, deixou de lado um pouco o sobrenome, e passou a ser conhecido apenas como “Jorginho da Pizzaria”.

Perfeccionista, antes de dar início à jornada, analisou tudo o que precisava ser providenciado. Fez a lição de casa. Em São Paulo, buscou uma das mais refinadas casas da Capital da Pizza no Brasil (terra onde são produzidas mais de 500 mil pizzas por dia!!!), para aprender os segredos.

Nem todos sabem: mas esse produto que você consome em Pirajuí, há 35 anos, tem massa, recheio e técnicas de preparo baseados em estabelecimentos premium paulistanos – com preços lá nas alturas, acredite.

Mas o fato é que o aprendizado serviu, apenas, para ser a base: hoje a pizza da San Remo é 100% a pizza da San Remo, com toda sua história, variedade e qualidade – aliás, esse é um termo que merece um parágrafo à parte.

Não existe a seguinte frase: “hoje tal pizza do Jorginho não estava boa”. E isso é proposital. O planejamento para a operação é tamanho, que passa a ser quase religioso. E os produtos adquiridos prezam sempre pela primeiríssima qualidade, com fornecedores com quem se relacionam há décadas, garantindo sempre o melhor produto final.

Pizzaria San Remo e seus sabores: patrimônio pirajuiense

Pizzaria San Remo e a mudança cultural

Basta clicar em alguns posts aqui deste Homem Benigno para saber como era forte a influência da Praça Dr. Pedro da Rocha Braga na cultura jovem pirajuiense, não é mesmo? O footing, o flerte, os carrinhos de pipoca etc… Em Pirajuí, a sociedade local ainda desfrutava de outros points como o restaurante Castelinho e o Pirajuí Atlético Clube (PAC).

No final da década de 1980, a pizzaria San Remo foi um dos estabelecimentos pioneiros a simplesmente transportar os jovens do point no centro para a região mais alta da Rua Riachuelo.

Começava uma nova era. Sair à noite, se preparar para os bailes, os carnavais, as comemorações de jogos de futebol etc. Existir em Pirajuí só fazia sentido se fosse em frente à pizzaria San Remo e aos demais estabelecimentos que ali se instalavam.

E isso se arrastou por mais de dez anos – e, até hoje, mesmo que discretamente, ainda tem alguns ecos desse movimento. Foi uma mudança de cultura!

Atrás do balcão, Jorginho gerenciava a operação, literalmente, com a mão na massa, e a esposa Cristiane Teixeira Garcia Aguiar era uma mistura de atendimento, financeiro, gerência de RH, relações institucionais etc. Ali eles movimentaram uma cidade inteira, e criaram uma família – aliás, toda essa família passou a fazer parte da pizzaria San Remo, trabalhando nos mais diversos setores.

O grande e saudoso Chada ao lado de Cristiane, no balcão da Rua Riachuelo (anos 1980); família sempre unida na operação

O primeiro delivery

Quando falo que houve uma mudança radical na forma como o pirajuiense se relaciona com o lazer gastronômico, não há exagero.

Sabe esse lanche ou pizza que você pede facilmente pelo smartphone hoje em dia? Em Pirajuí, foi uma ação pioneira da Pizzaria San Remo. A partir de então, com um simples telefonema, as redondas saíam quentinhas do forno na Riachuelo e corriam para as casas da cidade com os motociclistas, carros e, às vezes, até a lendária Perua Kombi do Fabinho Chada (hoje DJ e organizador de eventos em Marília), integrante da família.

Forno da pizzaria na Rua Riachuelo

O novo ponto e o retorno às entregas

No dia 3 de março de 2000, a pizzaria San Remo deixava a desbravadora Rua Riachuelo rumo às belas e aconchegantes instalações na Rua Aviador Major João Durval de Lion.

Foi um sonho de Jorginho e família que parecia muito distante, mas com muito, muuuuito trabalho e horas a fio na beira do forno quente, foi realizado com excelência.

A proposta agora era outra. Sai a explosão juvenil revolucionária e entra o espaço família, aconchegante, com um cardápio ainda mais incrementado e o atendimento de garçons priorizado.

Foi um sucesso. Pessoas vinham de toda a região para sentar à varanda arejada, conversar e saborear tantas pizzas inimitáveis e a incomparável porção de borda. Foram anos dourados para a pizzaria San Remo, que, mais uma vez, inovava e deixava sua marca na história gastronômica da cidade.

Atualmente, os incansáveis Jorginho e Cristiane estão em outra fase, com o atendimento focado, apenas, no delivery, em ponto na Rua 7 de Setembro. Para concretizar essas décadas nos dois estabelecimentos anteriores, a família sacrificou férias e feriados – afinal, quando o cliente descansa, é nesse dia que ele quer estar sentado nas cadeiras da pizzaria, certo?

E para entregar um produto tão perfeito, a dedicação sempre foi imensa. Não sei se algum de vocês se recordam de ter tentado conversar com o Jorginho quando ele estava lá no preparo perto do forno; ele sempre respondia, educadamente, com um sorriso no rosto, mas era nítido que a atenção dele não estava em você, mas era aquele olhar da preocupação com o que estava para ser servido. É uma dedicação natural, que nasce com a pessoa.

Lindos detalhes do prédio construído na Rua Aviador Major João Durval de Lion

35 anos de pizzaria San Remo

Em tempos tão difíceis, com tantas dificuldades econômicas, é raro encontrar um restaurante que sobreviva por cinco, no máximo, dez anos. Nesse sentido, a pizzaria San Remo comemorar 35 é motivo de efusivos aplausos – e o mais impressionante, com a mesma qualidade estupenda de sempre!

Às vezes fico me perguntando, será que o Jorginho, nos almoços do dia de folga, quando ele vai para o fogão, de avental amarrado, enquanto ponteia e canta com a viola que tanto ama, tem noção da revolução que essa sua pizzaria fez em toda uma cidade?

O menino do campo, filho de um homem matuto, o saudoso Augustinho, que criou seus três meninos desossando bois e engordando porcos, de chapéu na cabeça até os 90 anos. O jovem que trabalhou desde cedo, dos balcões da extinta Casa Brasil, direto para o banco Bradesco… Hoje tudo isso parece tão distante, já que a sua imagem parece ser indissociável da figura do Jorginho da Pizzaria.

Repito, será que ele tem noção disso? Claro que não: ele está preocupado com o próximo ponteio na viola e também com o recebimento do fornecedor no outro dia logo cedo. Afinal, já no finalzinho da tarde do dia seguinte o (14) 3572-2099 da pizzaria San Remo vai estar bombando! Parabéns!

Jorginho e a viola (filho Leonardo aos fundos)
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