Cara, o Pingo é um sujeito impressionante. Esse figura de Pirajuí possui um humor próprio, um estilo único e está sempre no alto astral. Mas na cidade sua fama está mesmo relacionada ao rango. Há décadas ele vem fazendo sucesso com suas empreitadas gastronômicas.

O que começou com um trailer de grande sucesso, passou por diversos lugares até chegar ao Recanto do Pingo™, um restaurante/rancho/museu ao ar livre localizado no meio do mato e onde aos domingos era possível ter um delicioso almoço de família, sentado em mesas feitas de troncos de madeira, no chão de terra, cheios de badulaques pendurados nas paredes: como uma câmera filmadora pré-histórica simulando um monitoramento 24 horas; uma placa fenomenal onde se lia MUTUCA E PERNILONGO GRÁTIS, etc.

Maravilhoso cardápio do Recanto do Pingo onde era possível comer um ATROPELEI UM PORCO
Maravilhoso cardápio do Recanto do Pingo onde era possível comer um ATROPELEI UM PORCO

Impossível não lembrar também de uma das maiores intervenções artísticas que faria inveja ao próprio funcionário Marcel Duchamp: uma árvore com um aviso POR FAVOR NÃO ALIMENTE O MACACO  em que, ao curvar a cabeça, era possível enxergar um macaco hidráulico pendurado nos galhos.

Há mais ou menos um ano, o tão adorado Recanto foi completamente destruído por um incêndio 🙁 .

Mas isso não fez nem cócegas no Pinguinho, que já está a todo vapor em um novo empreendimento em Pirajuí, ao lado do Parque do Povo (El Parque Del Pueblo).

X-Tudo magnífico do Recanto do Pingo que quase não cabe na nossa lente ULTRA angular
X-Tudo magnífico do Recanto do Pingo que quase não cabe na nossa lente ULTRA angular

Todo esse folclore que envolve o personagem ainda tem um outro detalhe magnífico. No final dos anos 90, quem não conhecia o Pingo soube dele após o sortudo tirar um bilhete premiado na loteria. Uns tempos atrás ele narrou para mim como foi o fatídico dia da conquista. Já publiquei esse depoimento na Gazeta de Pirajuí, mas hoje chegou a vez de botar ele aqui, no Homem Benigno ===>

 

“Ô fio, tá tudo certinho aí?”

É com toda simpatia do mundo que Pingo chega mais perto e volta no tempo para narrar um dia mágico, que aconteceu na tarde de um domingo em 1998. Eram tempos difíceis, em que os negócios andavam apertados, mas que não dispensavam um pequeno lazer. “A gente tinha lá uns 100 contos no bolso, que eram para pagar um fornecedor na época, mas eu pensei: vamos dar uma pescada com a família e depois entra mais dinheiro e pagamos no decorrer da semana”.

Mas antes, era hora de conferir o resultado da loteria, uma prática quase religiosa de Pingo, que sempre sempre sempre jogou – e joga até hoje.

O resultado veio de uma vizinha, escrito em papel. Com vários jogos nas mãos, era hora de bater os números sorteados com os feitos. São escolhidos 20 números, de um total de 50 – no caso de Pingo, os mesmos 20 eram repetidos há tempos.

Um susto: nenhum dos números jogados estava ali. Quem não marca também ganha uma bolada. Outro susto: o resultado da vizinha viera incompleto, faltavam dois números para serem revelados. Foram até lá… Era o tudo ou nada. Sua esposa, diante do veredicto, anunciava aos poucos: “O primeiro não saiu, Pingo”. “Ai meu Deus do céu, muié”. “O segundo também não”! Agora era oficial, algum prêmio tinha saído ali naquele momento.

Era domingo, Casa Lotérica fechada, correram para a residência dos proprietários, invadiram um churrasco de família com a informação de uma possível conquista. O assunto era sério e o dono largou a churrasqueira e foi para a frente do computador com o ansioso casal. Os tempos eram outros e a internet andava feito tartaruga com reumatismo.

Pingo estava nervoso, não parava de perguntar sobre o prêmio ao rapaz. “Vai dar para comprar uma televisão?”; “Vai, Pingo”; “Vai dar para comprar uma bicicleta para as crianças?”; “Vai, Pingo”; “Vai dar para comprar…”; “Faz o seguinte, Pingo, olhe você na tela o valor do prêmio”.

Suas finas pernas começaram a tremer. “Amor, tamo ricos! Ganhamos R$ 27.500”!!! Foi quando a esposa olhou bem para a tela e disse: “Pingo! Leia direito, nós ganhamos R$ 275 mil”!!!

Ele quase caiu no chão. A partir daí foi só alegria, correu para casa, encontrou uns pares de caixas de rojão, que pipocaram nos céus de Pirajuí. Não era política, não era time de futebol ou festa de igreja. Aquele estouro deu nome àquele dia: foi o “Domingo do Pingo”!

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