Comprei The Elder Scrolls V: Skyrim (PS3, XBox360 e PC) em junho de 2012. Na verdade não comprei, eu ganhei de presente um som de carro mas, como havia colocado um Pionner recentemente, troquei o presente na loja pelo game.

Fiquei louco. Skyrim é muita coisa, é muito mais que um jogo, é quase uma filosofia de vida. Quando você está jogando ele, as coisas que acontecem dentro do jogo parecem interferir na sua vida. Tu tá na rua, começa olhar para cima se não vai aparecer dragão. Pega um jornal, começa a procurar nas notícias se tem alguma coisa sobre a guerra civil por terem assassinado o Alto Rei, etc.

Porém, uma coisa tem me encucado nos últimos tempos. Jogo Skyrim até hoje. Pelo menos uma vez por semana estou lá na lida, sempre tem alguma missão para finalizar, tô com uma casa nova, sempre tem algum ajuste pra fazer, uma mobília para ajeitar – vocês sabem como são essas casinhas medievais né.

Sempre joguei com o mesmo personagem J.B. (vou usar só as iniciais para não causar-lhe nenhum constrangimento). Estamos sempre juntos ali, nas batalhas, no entanto, diferentemente de outros jogos, em hipótese alguma eu consigo pegar amor pelo meu hominho.

Em outros jogos, por exemplo o GTA V, você fica muito próximo das personagens, pega carinho pelos problemas de meia-idade do Michael, tenho um conhecido que se envolveu numa mini-suruba e até pensou alto: “putz isso aqui é a cara do Trevor”!

Mas no Skyrim não.

Vem um dragão e me frita na baforada. Não tô nem aí.

Uma aranha gigante me envenena: eu ando mais dois dias passando mal e sequer me preocupo em correr atrás de um antídoto.

Se o jogo é tão bem feito. As personagens tão complexas. O enredo quase infinito. Por que diabos o meu hominho nem fede e nem cheira para mim?

Você pode estar prestes a matar a mais temida personagem mitológica, mas seu personagem se comporta como se estivesse renovando a carteira de motorista
Você pode estar prestes a matar a mais temida besta mitológica, mas seu personagem se comporta como se estivesse renovando a carta de motorista

Sobre o amor ao videogame

Hoje em dia tudo é amor, já reparou? Comida é amor, prefeito é amor, disco novo do Racionais é amor. Que amor é esse que vocês tanto falam?

Na minha história com os videogames, lembro que em Pitfall! (Atari) eu ficava bem triste quando o sujeito caía no fosso dos crocodilos, para mim aquilo era uma decepção muito grande. Acabava com o meu dia.

No entanto, em Bobby Is Going Home (Atari), eu estava pouco me fudendo para o que rolasse com aquele molequinho cabeçudo. Se perdeu de casa, vacilão? Bota sua roupinha de canguru e dá seus pulos. Escroto.

Cuidado com o crocodilo menino! Pitfall era bom demais. No detalhe, Bobby Is Going Home... Tenho nojo desse sujeito
Cuidado com o crocodilo menino! Pitfall era bom demais. No detalhe, Bobby Is Going Home… Tenho nojo desse sujeito

E por aí foi, sempre me identifiquei muito com as personagens dos games. Mario? Nossa mãe, eu gostava tanto do personagem que parecia que ele era um parente meu. O Luigi sempre foi um estorvo, tem aquele jeitão de ovelha negra, aqueles filhos que não arranjam emprego, vive endividado, etc. Zelda é muito bom, principalmente depois que eu descobri que Zelda era na verdade o nome da menina e que o dele era Link: mas que nominho fraco, hein funcionário?

Sonic é bom, mas é muita politicagem envolvida. A turminha do Resident Evil é bacana. O carinha do Doom é meio brucutu mas é boa gente. Do Tekken então, eu faria um churrasco tranquilamente com aquela rapaziada – menos com o tal do Yoshimitsu aquilo ali não é uma pessoa, é uma gambiarra, Deus me livre.

 

Chama os Nord

Skyrim é o nome de uma província, tipo um estado. Bendizer, Skyrim é mais ou menos São Paulo. Whiterun é a Capital, centralizadora e Morthal é mais ou menos Presidente Prudente.

Os humanos de lá são os Nords (meu persona, o J.B., é Nord). Mas tem orc, um povo com cara de gato, com cara de lagarto, elfo, elfo negro. Tem de tudo por lá. E as pessoas nas ruas vão te julgar por isso – pelo resto de sua vida no jogo. Esses dias mesmo eu estava testando um arco e flecha novo e, sem querer, dei uma flechada na nuca de um Orc que estava vendendo umas ervas na beira da estrada. Pedi desculpas e tudo, mas não adiantou: sou persona non grata entre a raça. Se tiver um Orc na fita, nem adianta me chamar que eles não ficam. Me agridem, vem para cima – e vocês sabem que o pai aqui não tem sangue de barata e o chicote estrala.

E uma vez que você está inserido no universo - é cada tipinho que você vai trombar que dá até desgosto. Se eu soubesse nem vinha
E uma vez que você está inserido no universo, prepare-se:  é cada tipinho que você vai trombar que dá até desgosto. Se eu soubesse nem vinha

Tirando as missões principais, que são ligadas à geopolítica da província e uma repentina volta dos dragões naquelas terras, a vida em Skyrim é a de um chapa de beira de estrada. É um simulador de chapa. Porque lá no seu tempo livre você fica caçando, plantando rabanete, fazendo serviço de ferreiro, mexendo com couro, etc.

É uma vida ali dentro. Quando jogo muito, chego a sonhar que estou no jogo. Esses dias sonhei que eu ia no posto de gasolina, o frentista se aproximava, eu apertava X daí a câmera focava nele e ele perguntava: “É gasolina ou álcool” e eu escolhia a resposta nas legendas.

Mas não adianta, não pego gosto pelo personagem. Mudei o visual do J.B., arranjei armas novas, botas, comprei cavalo, arranjei uma mulher, comprei uma casa, a mulher começou encher o saco, comprei outra casa, ela encanou de novo, passei a mulher pra frente. E nada!

Agora não sei o que faço. Tentei levar esse lance para minha terapeuta e ela disse que, nesses assuntos, talvez o convênio não cobrisse o tratamento. Até pensei em fazer um personagem novo para ver se mudava, mas o Play 3 chegou a travar com a ideia.

Acho que vou arranjar um serviço então, para ver se essa frescura passa.