Foi você quem me fez assim

Novo MasterChef Brasil fala mais sobre nós mesmos que sobre comida

Lá pelos idos dos anos 1260, o grande Kublai Khan tornava-se o líder supremo na Mongólia. A gente fala Mongólia mas aquilo ali era um salseiro: envolvia territórios de toda Ásia, como a China, Vietnam, além da Rússia, vinha aqui para cima beirando a Polônia e chegava até Presidente Epitácio, região do Paranapanema, no Estado de São Paulo.

Kublai era neto de Gengis Khan (Khan era o título máximo – eles eram os Kaghan, os Khans Supremos), ou seja, já começou com o pé direito o garoto. Governou com pulso firme esse que foi um dos maiores impérios da história da humanidade, assim como o avô. Seus súditos melavam a zorba diante do líder, sua figura obesa, onipotente exalava sabedoria, um peculiar senso de justiça e uma obstinação que talvez tenha simplesmente se esgotado em sua linhagem: esse desejo doido doido de conquistar o mundo.

No entanto, foi um italiano o responsável por um dos mais interessantes capítulos na biografia de Kublai: Marco Polo. Esse jovem rapaz, com nome de frota de linha de ônibus intermunicipal, marcou época na dinastia Yuan.

Talvez pela primeira vez, de frente para o poderoso Khan, alguém teve coragem de falar o que realmente pensava, ou melhor, acreditava – mesmo que fosse de encontro com a ideia do grande (e sangrento) imperador. Ele, estrangeiro, foi aceito no império. Mais ainda, teve papel fundamental em batalhas importantíssimas do período. Agora o resto eu não sei mais contar porque só teve uma temporada da série até agora na Netflix.

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Essa história toda aí de cima é coisa muito antiga, uma época em que o mundo ainda não estava preocupado em transformar o Minhocão de São Paulo no parque suspenso High Line, em Nova Iorque. Mas o que assistimos ontem, na TV Bandeirantes, na estreia da nova temporada do MasterChef Brasil, mostra que alguns preceitos ainda estão quicando por aí, na humanidade – e, principalmente, em nós mesmos.

Amo a Ana Paula Padrão. Amo não, vai, gosto bastante. Como amiga. Uma irmã. Mais que uma irmã: uma prima-irmã. Mas, como bem disse esse que vem sendo o Khan dos tempos da transmissão em duas telas na internet, arroba Chico Barney, o papel da jornalista tem ficado cada vez mais secundário.

 

O que realmente conta ali na parada é a relação Candidato/Rango/Chefs Jurados, no caso o motoqueiro das panelas Henrique Fogaça, o misto da alta culinária francesa com o estilo de um tio rico rabugento de Erick Jacquin e a argentina Paola Carosella, uma das mulheres mais belas da atualidade.

Ou seja: os aspirantes a cozinheiros estão fazendo o que realmente são bons ou tão encenando o que talvez os três jurados acreditem ser bom?

Tudo bem, esse é o papel do jurado. Mas o próprio sucesso da edição anterior gerou aí uma arapuca: Quem são esses jurados? Os arquétipos iniciais foram perdidos. O tatuado malzão às vezes se mostra mais emocionado que a figura feminina, que em algumas situações encarnou um papel mais maternal. O Jacquin então mostrou-se tão carismático que agora ficou quase impossível dividir a exigência de um restaurante cinco estrelas rankeado noCatálogo Pneus e Rolamentos Michelin de um ato do falecido stand up comedy.

E não vai embora não que agora que eu quero ver: e você. E VOCÊ? Está fazendo o que você quer, o que acredita? Ou está atuando em algum jogo proposto pelos jurados do MasterChef desse reality chamado vida?

E aí eu estou falando do seu chefe, da sua namorada, desse seu noivo que não desliga esse videogame por nada, seu mecânico, etc.

Quem vai ser o ganhador do novo MasterChef Brasil? Não sei, não assisti direito, estava cortando a unha ao mesmo tempo – eu tive unha encravada quando moleque então tenho que ficar de olho.

Mas uma coisa eu busco saber, sim: quem vai ser o Marco Polo, no MasterChef Brasil e, também, na nossas vidas?

 

foto de capa: reprodução Band.com.br
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