Atribuem a Vinícius de Moraes aquela frase “O uísque é o melhor amigo do homem: é um cachorro engarrafado” – eu não manjo muito da obra dele (talvez um pouco apenas dos seus sucessores, a dupla João Bosco & Vinícius), portanto vou confiar na Wikipédia, que sempre deu a maior força pra gente.

No entanto, apesar da glamourização etílica, noto um ar de felicidade infinita na figura do sujeito que NUNCA bebeu. A experiência máxima da não absorção de álcool no organismo em nenhuma ocasião na vida – nem mesmo em um quentão de festa junina, nem mesmo em um bombom com licor de cereja (aquele que você usou como desculpa diante do policial militar munido de etilômetro naquela blitzgrieg da Lei Seca).

Esse cara que jamais botou álcool na boca não tem um fígado, mas uma Lamborghini Gallardo Spyder abaixo dos pulmões. Uma comidinha um pouco mais engordurada, um risóles que ele coma, e é possível ouvir a maior glândula do seu corpo trabalhando vrum vrum vrum. Ao término de um exame, seu gastroenterologista está emocionado, orgulhoso do órgão que acabou de examinar e chora, tal qual o sujeito que você conheceu no Badoo durante o filme A culpa é das estrelas.

Mas para esse ser humano que jamais consumiu bebida alcoólica, a sensação mais recompensadora vem no day after (em tradução livre do site, seria algo como “o dia que aparece de forma subsequente ao que você bebeu”). A glória máxima da vida ao abrir os olhos numa manhã seguinte à bebedeira, como um dia 25 de dezembro, por exemplo, para os que comemoram o nascimento do Menino na manjedoura, e as pálpebras simplesmente se levantarem, de forma mecânica e ergonômica. A deliciosa sensação de abrir os olhos e ficar sentado na cama, sem que tivesse a impressão de estar içando, na nuca, um container da Hamburg Süd no Porto de Santos.

E o gosto na boca? Quem nunca bebeu tem a rara sensação de apenas observar o inocente sabor de uma noite de sono bem dormida, aquele gostinho de vitória sobre o cansaço, que é revigorante e muito apreciado pelos casais de namorados nos primeiros três meses da relação – depois entra em cena o Listerine de 2 litros no criado mudo.

Sob a égide de uma noite de bebedeira, a boca e a língua sentem o efeito reverso. O sabor da bebida em excesso, da cerveja empapuçada, do vinho tinto e da caipiroska, se fundem ao que restou da comida: do amendoim japonês, da carne de churrasco que passaram naquela assadeira requentada, do kibe do habib que veio com o limão ensacado… Um compadre meu bebeu uma caixa de cerveja numa noite e, na manhã seguinte, tinha a impressão de estar mastigando o solado de uma botina na goela. Foi até o lavabo e, ao colocar a mão na garganta, retirou ali uma sola cinza, emborrachada, de uma bota cano médio West Coast, ao olhar ainda pode ver as inscrições BRA 41 EU 38 EUA 7.

Por fim há, ainda, a pior das ressacas: a moral. O sujeito que nunca bebeu jamais vai ter que se lembrar, envergonhado, do exato momento em que se exaltou dançando Macarena e derrubou o xaxim de samambaia na cabeça da avó da aniversariante. Ou quando, com o uísque na mão, perguntou para a esposa do chefe sobre o tempo de sua gravidez – sendo que ela jamais esteve grávida. Dentre tantos outros assuntos que envolvem urinar nas calças, em gavetas ou no jardim do seu zelador.

Por essas e outras eu desejo um MEGA Feliz Natal a todos que nos acompanham seja aqui no Homem Benigno, seja em nosso Twitter @marceloindaniel, seja na nossa Snapchat marceloindaniel.

Porém, dedico essa crônica de Natal em especial para essas pessoas que não bebem! Que mantém a opinião forte e não fazem parte dessa categoria cujo primeiro concurso teve o edital assinado pelo deus Baco (Bacchus).

Mas quando a gente vê essas bebida no copo, principalmente essas vermelhas, que  vão Campari, dá uma vontade de experimentar, não dá?