Olha, eu vou falar para você, eu gosto bastante de séries, viu. Antes eu não gostava, ficava mais é trabalhando mesmo, procurando serviço para fazer (sangue italiano), mas daí eu comecei a perceber o tanto de esforço que esse povo coloca nessas séries: diretor, assistente de direção, estagiário, motorista, dublê e serviços de catering (hora boa), e pensei, pô, acho que vou começar a dar uma força para essa turma aí – e passei a assistir.

Agora, uma coisa é assistir a séries. Outra coisa totalmente diferente é assistir a Game of Thrones. Meu amigo, assistir a uns dois episódios seguidos de Game of Thrones usa o mesmo esforço do cérebro que prestar o vestibular da Fuvest sentado atrás de um japonês que passa em 1º como treineiro desde os 12 anos de idade.

Game of Thrones tem uns 160 personagens. E cada um é de um tipo, de uma família, de uma localidade, com uma certidão de nascimento emitida em um cartório diferente. E é um monte de país, uns territórios cada um com os seus costumes… Olha, era mais fácil eles terem feito um livro (ou até mais) com essa história toda aí, para depois eles filmarem o seriado.

Se me perguntarem para onde esse povo tanto corre em Game of Thrones eu confesso que nem sei mais te dizer. Tá um rolo isso. Não sei quem está correndo atrás do que, nem para onde. Para te falar a verdade eu nunca vi esse tal de trono aí cheio de espadas na tela da TV – já vi num shopping aqui de São Paulo, um dia que eu fui pegar um desses iogurtes gelados com gosto de isopor, a cadeira estava lá em exposição.

Sei que tem uma família lá, os Stark que são tipo os Mezenga, da novela Rei do Gado. Mas aí é uma filharada, filho dos outros, filho bastardo, já perdi até a conta.

Do outro lado tem os Lannister, uns loirãos bonitos, diz que pagam todo mundo, mas tenho minhas dúvidas – como diz meu pai, “o dinheiro para fiado não acaba nunca”. Tem um filho deles, um anãozinho, esse daí é porreta. Lembro dele no Nip Tuck, ali eu já via que ele ia fazer sucesso nos reinos.

E tem a Daenarys, que é filha dos Targaryen, que eu nem sei o que ela está fazendo por lá ainda. Acho que foi uma personagem que criaram só para que os viciados em séries pudessem se fantasiar como ela nas Comic-Con da vida.

Eu fiquei cansado só de escrever um parágrafo curto para essas três famílias. Meu sobrinho, ainda tem um caminhão de gente, um povo que ninguém entende como chegou lá, se prestou concurso, ou se foi cargo arranjado.

Ontem começou o primeiro episódio da sexta temporada de Game of Thrones. Comecei a ver animado, esperei um ano para que esse povo liberasse as fitas para a HBO passar. Os primeiros quinze minutos eu acompanhei até que bem, daí eu fui buscar um pedaço de pizza na cozinha, rapaz, pior cagada que eu fiz. Já perdi o fio da meada, não sabiam se tava matando ou fazendo coceguinhas. Já confundi todos os guardas daquela Ronda Noturna lá, uns trouxas que ficam em cima de uma muralha esperando o mundo acabar – nunca vi gente mais passiva, eu é que nunca ficaria lá confinado… tá doido? Eu pegava uma pousadinha em Caraguatatuba R$ 100 a noite pelo Trivagas e tchau e bença!

Fiquei vendido! Totalmente. Foi quenem no final do ano, véspera de natal, que resolvi dar um pulo no Shopping Tatuapé para comprar um tênis e enquanto eu experimentava o calçado, distraído, uma pessoa pegou o meu tênis usado, experimentou, gostou, comprou e levou embora. Eu não gostei do calçado que estava experimentando e tive de voltar pelo shopping descalço, feito o maratonista etíope Abebe Bikila.

Fico pensando, esse diretor do Game of Thrones podia simplificar essa história. Fazer quenem um Friends, já pensou? Friends é sempre aquilo lá, tem a minazinha neurótica (Mônica) que ficou procurando um monte de namorados, só relacionamento fita errada: ou o cara já tinha uns filhos problemáticos que já iam chamando de “tia”, ou era estrangeiro e ia embora logo, ou era o Magnum. Mas essa busca não ia demorar muito, logo ela se casaria com o filho do Arquette. O Ross é um bobão, mas, enfim, tem um emprego bom, no museu, tem sexta parte e licença-prêmio.

Ou então a Jennifer Anniston, que no seriado chama Raquel, que é linda hein, tá inteirona. Bobo do Brad Pitt que saiu fora dela. Eles brigavam muito, eu lembro. Ficava aquele climão nos churrascos que a gente participava junto. Eu sempre levava maionese de batata, mas com produto bom! Sempre compro ingredientes da melhor qualidade.

Tem o Joey e o outro lá que se casou com a Monica, mas que eu nunca lembro o nome, ninguém nem lembra. E a outra é a Phoebe, engraçadona, mas que ficou presa para sempre no mesmo papel. Agora parece que ela está fazendo sucesso na pele da vice-presidente dos Estados Unidos, em Veep, né? Algo assim.

Se Game of Thrones fosse quenem o Friends – e tivesse mais ou menos uma meia hora de duração só –, certamente ia ter mais audiência, vocês não acham? Ou então o pessoal da HBO tem que fazer uma tabelinha, tipo uma tabuada, para que a gente possa decorar o nome daquele povo todo.

 

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