Foi você quem me fez assim

Dino e Amilton: Pai dos Pobres e o Pai da Cidade

Em tempos de pandemia, com tantas coisas tristes ocorrendo ao redor do planeta, Pirajuí não estava preparada para o baque do último dia 27, com o falecimento de Dr. Dino e Amilton Salles Milanezi.

Cada um ao seu modo, foram personagens marcantes da história do município. Cidadãos que, em vários momentos de sua biografia, abdicaram de seu tempo pensando no outro, no próximo, no mais necessitado.

O mínimo que podemos fazer, diante da tristeza dos amigos e familiares, é lembrar um pouco do brilho que esses personagens tiveram em nossa história.

Dino, o segundo pai dos pobres

Dr. Dino em foto quando foi prefeito de Pirajuí, nos anos 1990

Se fecho os olhos, consigo lembrar da minha amada e saudosa avó Amélia falando sobre o “pai dos pobres”. Ela não se referia ao Dr. Dino, mas a um outro médico que marcou época em Pirajuí, na primeira metade do século passado.

Estamos falando do Doutor e, também, ex-prefeito nos anos 1930, Jorge Meirelles da Rocha.

Minha avó sempre teve essa imagem mítica do Dr. Jorge (até meu pai, que nasceu no final da década de 1950, na zona rural, ainda viveu sob a égide da fama desse benfeitor, no bairro Água Quente).

O que o fazia especial: ele olhava pelos mais necessitados. Em tempos dos grandes fazendeiros e dos sobrenomes de elite, Dr. Jorge sempre teve portas abertas para os mais humildes. Era o Pai dos Pobres!

Dino e Amilton
Raríssima foto do Dr. Jorge Meirelles da Rocha, o primeiro Pai dos Pobres de Pirajuí

Dr. Dino Miguel Nani Rinaldi não nasceu em Pirajuí, mas em Avanhandava (SP). No entanto, seu nome está cravado na história da cidade – e até em um dos mais populares bairros.

A figura de Dr. Dino nos corredores da Santa Casa de Misericórdia ou, então, atrás da mesa de seu consultório, está na memória de todo pirajuiense.

De olhar altivo, trajes brancos impecáveis, estetoscópio ao redor do pescoço – em ambientes abertos, era comum vê-lo com o cigarro na boca, uma marca registrada.

Caminhava pelo hospital local com a segurança de quem estava 100% no seu habitat. Sabia tudo. Conhecia cada detalhe da rede de saúde local.

Mas se a forma como eu o descrevi mostra um sujeito elitista, é exatamente o oposto. Dino carregou durante toda sua trajetória profissional a mais completa humildade e o dom de atender a todos.

Imagine a pessoa mais pobre do mundo, nos mais simples trajes. Ela seria atendida pelo Dr. Dino, receberia sua atenção – seja no consultório, no hospital ou, até mesmo, na casa desse paciente.

Os mais ricos, também. Dino olhava por todos. Fazia visitas constantes e preocupadas às casas de enfermos e, em alguns casos, às vezes nem as cobrava, para surpresa das famílias.

Na política, teve sua incursão entre o final dos anos 1980 e a década de 1990 – foi prefeito, vice-prefeito (quem não se lembra do jingle “Ortega e Dr. Dino” sobre a música Florentina Florentina, né?). Com a saída do titular, passou a ser chefe do Executivo municipal de novo, onde mais uma vez exerceu seu estilo “portas abertas”, dessa vez à toda população.

Dar atenção diária a uma multidão é para poucos.

Faleceu aos 90 anos, já afastado da atividade médica (que prolongou-se até a idade avançada). Deixou uma nação de pessoas gratas.

Salvou a vida de muitos e, como obstetra, trouxe ao mundo uma infinidade de pirajuienses. De todas as raças, crenças e classes sociais.

Depois do Meirelles, Pirajuí perdeu essa semana o seu segundo Pai dos Pobres. Que seu legado inspire os novos médicos nessa tão abençoada profissão.

Amiltinho, o Pai da Cidade

Dino e Amilton
Amilton Milanezi em seu melhor estilo: leve e sorridente

O nome de Amilton Salles Milanezi sempre esteve ligado às boas causas de Pirajuí.

Nos últimos 60 anos, em tudo o que era para construir, ajudar e abrilhantar a cidade como um todo, lá estava o Amiltinho.

Na inauguração da então maternidade da Santa Casa, lá estava o Amilton na equipe organizadora e gestora.

Nos melhores momentos da história recente do Parque Clube de Pirajuí, lá estava o Amiltinho, atual diretor de Patrimônio, olhando com atenção para que tudo saísse muito bem.

Boas ações, campanhas e eventos da maçonaria de Pirajuí – lá estava o Amiltinho. Se não me engano, também esteve no Rotary.

Onde havia seu toque, existia a certeza da perfeição, do capricho, do brilho. Um estilo que só o Amiltinho sabia fazer.

Sempre fui da comunicação e, por isso, posso afirmar que aquilo que ele faz sobre o palco, com o microfone nas mãos e a caneta no papel, tem algo de único.

Uma estrela brilhava para a eloquência de Amiltinho.

Comerciante nato (fez história nas Casa Moreira e na sua Delta Tecidos), orador impecável, organizador incansável, filantropo por natureza.

Não bastassem todos esses adjetivos, Amilton, à época já sexagenário, poderia muito bem descansar, pois havia feito muito pela sociedade local.

Nada disso. Nas últimas décadas de sua vida, assumiu o papel de zelador do município de Pirajuí, com uma itensidade ferrenha.

O que fez pelo Jardim dos Turcos, pela sua área verde, seus bancos, o lendário coreto… é algo único, impecável e impagável.

Como escreveu no Facebook o meu amigo Fabinho Chada, o que Amiltinho fez pela cidade, poucos políticos e governantes tiveram a coragem de fazer.

Lembro de uma história que sempre me marcou. Posso estar enganado (se estiver, me corrijam). Mas aquele ex-morador de rua de Pirajuí, que era chamado de “Cobra da Mata”, que vivia ao relento na cidade, comoveu o comerciante.

Por conta própria, Amiltinho procurou os órgãos responsáveis, justiça, INSS, familiares. Resumo da ópera: ele aposentou o Cobra da Mata, que passou de uma pessoa sem nada para um pensionista.

Algo que ele tinha direito e que foi fundamental para que tivesse uma nova chance de reencontrar sua família em outra cidade.

É preciso dizer algo mais do Amiltinho? Descanse em paz, “Pai da Cidade”.

Dino e Amilton

Se por um lado há o vazio e a tristeza de uma despedia em épocas tão difíceis, por outro, fica um legado único, uma trilha de boas ações.

Aos familiares do Dr. Dino e Amilton Milanezi, em especial ao meu caro Russlan Salles, meus mais profundos sentimentos.

Que honra ter patriarcas como esses dois ligados a seus sobrenomes.

O poeta Dominguinhos compôs uma música em homenagem e gratidão ao Dr. Dino
« »