Foi você quem me fez assim

9/7/1932: Pirajuí chorou pelo Voluntário Silvano de Lima

Onde estará o jovem Voluntário Silvano de Lima? Essa era a pergunta que não saía da cabeça do dono da Pharmacia Alliança, Adhemar Manso Monteiro da Costa Reis.

O “Coronel”, como costumava ser chamado, estava perdendo o sono com uma situação que se desenrolara após o sangrento confronto da Revolução de 1932, que se iniciou em um dia 9 de julho e que durou 87 longos dias.

O problema era o seguinte: já passava um bom tempo desde o término do combate e um conterrâneo, o jovem voluntário Silvano de Lima, simplesmente não dava notícias. A falta de informações sobre seu paradeiro marcou época, deixou a cidade e a região em estado de angústia – e chegou a mobilizar São Paulo.

É sobre ele que vamos falar aqui neste artigo.

Extinto prédio da Pharmacia Alliança, onde o Coronel Adhemar Manso esperava por notícias do desaparecido (Foto: Omar Khouri)

Pirajuhy na Revolução de 1932

Não se pode dizer que Pirajuí fugiu à luta. Pelo contrário, a representatividade de nossa cidade na década de 1930, às vésperas de ser considerada a maior produtora de café de todo o planeta (!!!) era muito grande.

Para quem não se recorda, resumidamente, a Revolução de 1932 foi um conflito armado dos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul com o objetivo de derrubar o governo do presidente Getúlio Vargas.

GV derrubara o então presidente Washington Luis em um golpe em 1930. A luta era por uma busca de uma Assembleia Constituinte – por isso o nome Revolução Constitucionalista. São Paulo perdeu nos campos de batalha mas, politicamente, a maior parte das reivindicações seriam atendidas. Ou seja, a democracia acabou vencendo – como podemos ver aqui nas consequências em Pirajuhy, que aconteceram nos anos seguintes.

Foto histórica: parte da tropa e alguns incentivadores em frente à fábrica do Guaraná Noroeste, de Manuel Pereira Eça (foto: Silvio Borba)

A mobilização em Pirajuhy foi muito grande. Além do então prefeito Joaquim Amaral Mello, era o próprio Coronel Adhemar Manso quem organizava e mobilizava a tropa de voluntários, que foi numerosa.

Foram muitos nomes de combatentes, como o corinthiano Adalberto de Mello Rocha (sua filha, Rute, inclusive ainda guarda seu capacete), Hermínio Paterlini, entre tantos outros. Na área da saúde, estiveram os doutores Pedro da Rocha Braga, Jorge Meirelles da Rocha, José Gomes da Silva (o Dr. Zico) e José Jorge Ferraz (Nenê).

Onde está o Voluntário Silvano de Lima?

Ao término do conflito, no “lado” de São Paulo, foram mais de 2 mil mortos. Infelizmente, dois combatentes de Pirajuí já estavam nessa lista: os voluntários Ruy Barbosa Lima e Benedito Pimenta.

Segundo registros extraídos de jornais da época, Lima teria sido atingido por um disparo na região do peito, em uma batalha em campo aberto. Não encontrei informações sobre Pimenta.

Mas o voluntário Silvano de Lima, preto, pobre e extremamente jovem – pela sua foto, parecia praticamente um adolescente, não retornou da guerra e não dava notícias.

A imagem do jovem combatente passou a ser veiculada em jornais de circulação nacional. Todos procuravam Silvano de Lima

Forte representantes do Partido Republicano Paulista (PRP), o coronel Adhemar foi comunicado sobre o sumiço. As informações que tinham eram poucas – lembre-se que estamos falando de uma época de pouquíssimos recursos de comunicação.

Ele lutava junto ao batalhão Coronel Euclydes de Figueiredo, com atuação numa das regiões mais sangrentas do conflito – o chamado setor de Silveiras, hoje município, local que estava bem próximo à divisa com Minas Gerais e, por isso, concentrava agitadas trincheiras.

Atuando sob as ordens de um tenente chamado Lyra, a informação recebida era a de que, terminado o combate, nunca mais se soube do jovem soldado.

Na primeira fila, à esquerda, está o dentista Dr. Jorge Ferraz (Nenê Ferraz). Na fila do fundo, à direita o médico Dr. José Gomes da Silva (Dr. Zico)

Há várias histórias como a de Lima, de pessoas que demoraram a retornar. Há até esse lindo relato, de Bebedouro (SP), em que um combatente, também negro, demorou anos para voltar à sua casa, magro e todo em farrapos.

O motivo: nos anos 1930 era praticamente impossível conseguir uma carona ou apoio nas cidades, devido a cor de sua pele.

“Um paulista morre, mas não se rende”

Essa frase ficou famosa no combate de 1932. Não foi dita pelo voluntário Silvano de Lima, mas, provavelmente, foi seu destino.

Primeiro Batalhão da Cruz Vermelha, com o dentista Dr. José Jorge Ferraz, de óculos, em pé à esquerda. (acervo: família Ferraz)

Três anos depois, em uma missa realizada num dia 9 de Julho, o então prefeito de Pirajuí, José Villas Boas, confirmava a informação em uma cerimônia em homenagem aos três pirajuienses mortos no combate. Os voluntários seriam então eternizados em nomes de importantes vias centrais, as ruas:

  • Voluntário Silvano de Lima;
  • Voluntário Benedito Pimenta;
  • Voluntário Rui Barbosa Lima.

Por um ideal, envolvido pelo clamor popular de uma guerra para a democracia, esse jovem conterrâneo teve sua juventude e, provavelmente, uma longa vida brutalmente interrompida.

Toda vez que estiver passando pela rua que leva seu nome, pense também na luta do jovem Silvano!

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