Foi você quem me fez assim

Uma breve história do Aeroporto de Pirajuí

Este artigo só foi possível graças às informações e acervos dos conterrâneos Silvio Antonio Borba, Gustavo Barros, nosso eterno Maurinho Soares, Walter Pinatti Jr. e Jorge Forti.

O dia da Independência do Brasil foi comemorado de forma muito especial no ano de 1956 no município. Aquele sete de setembro marcou a inauguração do Aeroporto de Pirajuí.

As festividades cívicas não foram celebradas em frente à Prefeitura ou em algum outro ponto da cidade. Mas a três quilômetros de distância do centro, numa área isolada que, anos depois, seria ligada por uma vicinal que homenagearia o popular prefeito da época, a Estrada Vicinal Anibal Haman.

Hangar “Julio Costa” e seus desbravadores. Ao centro, de xadrez e óculos aviador, o pioneiro Luiz Loureiro – foto: Silvio Borba

Mais de uma década depois, a área receberia, também, a construção da primeira Penitenciária, a P1.

Naquela época não havia presos, mas aviões. O então prefeito, com apoio de políticos da época e de pirajuienses entusiastas da aviação, providenciou a inauguração do Aeroporto de Pirajuí.

Loureiro, o nosso “pai” da aviação

Se houve algum tipo de empenho para que Pirajuí tivesse o seu campo de aviação nos anos 1950, grande parte desse esforço partiu de Luiz Olímpio Loureiro (in memoriam).

A paixão de Loureiro pelos aviões, misturada com um insistente pioneirismo, possibilitaram a instalação do aeroclube local e do hangar “Julio Costa”, que recebia e guardava as aeronaves.

Luiz Loureiro ao lado da esposa Geni, na data de seu casamento. A juventude do nosso “pai” da aviação. Foto: Acervo Família Loureiro

Em depoimento nas redes sociais, a filha de Loureiro, a minha querida professora Maria da Graça, a “Dadá”, falou um pouco sobre as lembranças do pai e sua relação com a aviação local:

Muito me emociona toda e qualquer lembrança que mostra a braveza desse homem precursor: meu pai.

A população esteve presente em peso na inauguração do Aeroporto de Pirajuí. O evento foi marcante e inesquecível.

Outro patrimônio histórico e cultural do município lá estava, para celebrar com música esse novo momento dos transportes da Rio do Peixe Dourado: a Banda Marcial da Escola Industrial.

Orgulho da cidade em competições em todo o Estado, naquele ano, a fanfarra vivia o início de uma era de ouro que durou por décadas, sob a batuta do maestro Oity de Macedo.

Aeroporto de Pirajuí
Banda Marcial da Industrial se apresentando na inauguração do aeroporto, em 1956. Notem a torre aparecendo atrás dos músicos. Foto: Silvio Borba

Outros pirajuienses também tiveram forte relação com o aeroclube local, é o caso do Dr. Zico e Vanir Vespoli (ambos in memoriam), dentre outros.

O Aeroporto de Pirajuí

A torre do Aeroporto de Pirajuí foi construída pelo engenheiro/empreiteiro bauruense Alberto Bastazini, que também foi responsável por grandes obras na cidade vizinha, como o Liceu Noroeste.

Em Bauru, Bastazini tem até rua com seu nome.

Aeroporto de Pirajuí
Prédio abandonado do Aeroporto de Pirajuí. Como sede da Associação dos Funcionários da P2, passou por reforma e reparos. Foto: Professor Agabatan

Ainda hoje, é possível visualizar a construção da torre local, com sua imponência, atualmente utilizada como sede da Associação dos Funcionários da Penitenciária II de Pirajuí.

Na minha infância, entre os anos 1980 e 1990, lembro de visitar essa torre, deteriorada, com cacos de vidros e paredes sujas e danificadas. Atualmente, ao menos, há um certo respeito com essa peça de nossa história de uma passado próspero.

Ainda é possível ver, também, a pista de decolagem, de terra, com 971 metros de extensão (esse é um dado de registro online, não sei está correto).

Avião DC-3 da Real, durante escala em Pirajuí entre os destinos São Paulo-Cuiabá (MT). Quem será esse menininho? Foto: Silvio Borba

Real Transportes Aéreos

Com capacidade para receber apenas aviões de pequeno porte, uma das linhas que faziam parte do Aeroporto de Pirajuí era da lendária Real Transportes Aéreos.

Com slogan “Use a cabeça e voe pela Real”, a empresa tinha sua sede na cidade de Pirajuí, na Rua Riachuelo, na altura do numeral 1400.

Os aviões, como lembram os conterrâneos, passavam baixinho por Pirajuí, em direção à pista de pouso.

Na rota São Paulo – Cuiabá (MT), que partia do Aeroporto de Congonhas, o avião fazia escala em nossa cidade.

No geral, eram os modelos Douglas, chamados DC-3, que eram a espinha dorsal da Real e que ajudaram a “fundar” muitos aeroportos e linhas aéreas ao redor do Brasil.

A empresa foi extinta poucos anos depois, 1961, quando foi comprada pela Varig.

Foto das lendárias expedições comerciais para divulgação e venda do Guaraná Noroeste. De terno preto e sem chapéu, à esquerda da hélice, Manoel Pereira Eça. De preto, no canto direito, a jovem Carmem Mayrink Veiga. Foto: Família Pereira Eça

Fotos raras de passageiros

Após a grande repercussão do artigo sobre o Aeroporto de Pirajuí, como sempre, nossos leitores passaram a colaborar com fotografias e informações do nosso Campo de Aviação.

Abaixo, estão duas fotografias raras. Note que, numa delas, é possível ver a placa do aeroporto de Pirajuí e, na outra, a estrutura do prédio da torre de controle. Sensacional!

Numa delas, podemos ver o conterrâneo Walter Lopes Manso da Costa Reis que, por sua atuação na Petrobras, foi homenageado com o nome de sua terra natal no Petroleiro Pirajuí!

Na imagem, o saudoso Walter Lopes Manso da Costa Reis com a pequena Viviane. Vejam que maravilhosa a placa do aeroporto aos fundos! Foto: Viviane Manso Castello Branco
Família na sombra da torre do Aeropoto: Os avós, Adelmar Manso Monteiro da Costa Reis e Donha Filhinha; os netos, Viviane e irmão, hoje residentes no Rio de Janeiro. Foto: Viviane Manso Castello Branco

O fim do Aeroporto de Pirajuí

Infelizmente, como muitos assuntos presentes no nosso Homem Benigno, o Aeroporto de Pirajuí também ficou no passado, numa época em que a cidade era mais próspera, por diversos motivos – dentre eles, os milhões de pés de café que ainda estavam plantados.

Durante toda minha vida, em apenas algumas ocasiões, presenciei a vinda de um ou outro avião “teco-teco” que aparecia na cidade para vender passeios, em datas comemorativas.

Nunca tive coragem de subir num trem desses! hahah

Bate uma tristeza ver essas fotos, as aeronaves e a indumentária dos bravos desbravadores dos ares pirajuienses, não é mesmo?

Ao mesmo tempo, há o orgulho, pelas belas páginas que eles deixaram escritas em nossa história.

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