No dia 28 de agosto de 1938 o mundo era, literalmente, diferente – e Pirajuhy também!
O planeta estava prestes a se deparar com a Segunda Guerra Mundial, que deixaria reflexos por décadas à frente e mudaria a constituição da ordem mundial.
Pirajuhy, por sua vez, ainda engatinhava com seus 23 aninhos de vida – até seu nome ainda trazia os radicais mais próximos da língua indígena.
No entanto, mesmo com pouco mais de duas décadas sendo um município, tratava-se de uma cidade em crescimento efervescente.
Aos olhos do Brasil, Pirajuhy era uma cidade do futuro. Tanto que, ao final do mês de agosto de 1938, foi tema de uma reportagem especial, de página inteira do extinto jornal Folha da Manhã, do Grupo Folha, com circulação nacional.
A reportagem fez um interessante apanhado, que ela chamou de “eloquente”, com enfoques social, cultural, lavoura, comércio, indústria e, é claro, do povo pirajuiense.
Mas não pensem que foi uma simples e pura homenagem à Rio do Peixe Dourado – o especial sobre Pirajuhy foi amplamente patrocinado, com anúncios de comerciantes e empresários locais, que preencheram as páginas.
Dentre eles, saudosos conterrâneos e suas casas de comércio: Irmãos Neme, Irmãos Negrisoli (com direito ao Bar do Boia), o joalheiro Palmyro Torquato, Valentim Grava, Antonio Sadao Ono com sua “Photographia Japoneza”, entre tantos outros que tentaremos reproduzir neste artigo.
Uma Pirajuhy em evolução
Para contar do futuro da cidade, o texto começa no passado com uma resumida e precisa linha do tempo:
- Em 1902 é criado como Patrimônio de Pouso Alegre;
- Em 1904 é rezada a Primeira Missa, na capela construída por João Justino da Silva;
- Em 1907 é criada a denominação do Distrito de Paz, já como Pirajuhy, pela Lei nº 1.105;
- No final de 1914 é criado, por lei, o município;
- Em 29 de Março de 1915 o município é instalado, em cerimônia solene;
- Em 19 de Dezembro de 1919, é elevada à categoria de comarca regional.
Em 1938, ano da reportagem, Pirajuhy tinha 75.000 habitantes! Mas, antes que vocês se assustem, como muitos já sabem, não significa que a população simplesmente encolheu.
Desse total, apenas 15.000 residiam na área urbana de Pirajuhy – por volta de 59.000 estavam na zona rural.
Posteriormente, cidades vizinhas, que eram distritos que pertenciam ao nosso município (como Uru, Guarantã, Pongaí), foram emancipadas, o que também contribuiu para que a população de Pirajuí ficasse entre os 20.000 e 25.000 habitantes das últimas décadas.
Como era o centro de Pirajuhy
Nessa época, de acordo com dados da gestão do Prefeito Dr. Pedro da Rocha Braga, a cidade contava com 867 prédios, “quase na sua maioria obedecendo aos preceitos da arquitetura moderna”.
O Centro da cidade, ao que tudo indica, já trazia um charme. Notem o apreço pelos hoje não tão queridos paralelepípedos da região central. Leia o que o repórter escreveu à época:
O centro urbano de Pirajuhy impressiona muito agradavelmente aos forasteiros pelos seus jardins, pelos seus prédios e pelas suas ruas muito bem calcadas a paralelepípedos muito limpas.
Folha da Manhã (1938)
A impressionante estrutura de educação
Os números do segmento de educação no período são impressionantes. À época, para dar conta de tamanha população urbana e rural, a região de Pirajuhy contava com 56 escolas públicas – sendo 28 mantidas pelo governo do Estado e 24 mantidas pela municipalidade.
A conta ainda mantém um grupo escolar em Guarantã e outro em “Santo Antônio do Uru”. À época, estava em construção a unidade escolar em Pongaí.
Parque Clube
O nosso amado PCP já era elencado como grande polo de lazer e atividade social do município. Era nele que estavam as “associações recreativas, literárias e esportivas”.
O prédio era elogiado, chamado de luxuoso, com salas decoradas, “muita luz e muita ventilação”.
Além dos salões de dança e buffet, ressaltam os inúmeros bilhares, piscina, quadras de tennis e de “bola ao cesto” além de, pasmem, uma rinha para briga de galos!
A reportagem exalta a estrutura do Parque Clube: “muitos poucos similares têm no interior do Estado em matéria de agremiação elegante”.
Ainda no quesito “social”, a Folha da Manhã ressalta a existência de dois jornais locais: “O Nacionalista” e o “Pirajuhy-Jornal”.
A rica economia de Pirajuhy em 1938
Governar a cidade também era uma atividade diferente diante do panorama que Pirajuhy apresentava, principalmente motivado por sua rica agricultura.
No final dos anos 1930, Pirajuhy ostentava 50.000.000 de pés de café! Além de algodão e cereais.
E era o café que moldava, também, outras atividades comerciais da cidade, como as máquinas para beneficiar o produto – como a existente na então estação da Noroeste do Brasil, atualmente, a Rodoviária e, também, uma máquina que seguia até o local onde estava a produção.
Além disso, era muito grande o número de corretores que residiam na cidade, como é o caso do citado na matéria, Henrique Milanesi, que comprava o café por conta própria e em larga escala.
Para manter as finanças da grande movimentação de capital da lavoura, estavam o Banco Noroeste do Estado, cuja foto estampa este artigo.
É possível notar, ainda, na indústria, a “Distillaria Noroeste” que, além do Guaraná do Cavalinho, devidamente ilustrado, mostrava ainda um outro produto do visionário Manoel Pereira Eça: a “Bahianinha” – Não tem cheiro, por isso é o aperitivo preferido pela elite paulista, dizia o seu slogan.
Na área de hotelaria, a Folha da Manhã ficou hospedada no Hotel “Keller”, “o mais antigo da cidade”. Também puderam caminhar pelas ruas do centro e visitar livrarias, papelarias, mercearias, salões de barbeiro, fábricas de móveis e alfaiataria.
Por fim, o repórter ainda conclui:
Por este pequeno resumo sobre Pirajuhy, os leitores podem avaliar a grandeza deste pedaço do território paulista, cujo porvir está coroado das mais promissoras realizações.
Folha da Manhã (1938)
Bom… Infelizmente, uma série de acontecimentos econômicos e políticos mudariam bastante o anunciado futuro promissor de nossa amada cidade, que era estritamente ligada ao café, não é mesmo?
Ficam as memórias e o belo registro histórico!
CELIO OLIVEIRA FRANCO JUNIOR
13/02/2020 — 22:04
Belas histórias da amada e saudosa Pirajui.
Muitas lembranças e inesquecíveis recordações dos queridos Familiares que viveram em Pirajuí.
Estas lindas matérias me fizeram voltar ao tempo de minha infância.
Saudades… Muitas saudades.
funcionário Marcelo
14/02/2020 — 14:59
Obrigado pela leitura, Celio!
Elisabete Valeriano
14/02/2020 — 20:26
Parabéns pelo post tão rico em detalhes que para muitas pessoas são inéditos.
Tenho esperança de ver nossa cidade crescer em tamanho e economia para que todos nós filhos de Pirajuí possamos voltar para nossa cidade tão linda e de pessoas de bem..
messias josé rodrigues
14/02/2020 — 21:21
LInda reportagem. Sem palavras para expressar tanta beleza nostálgica. Vivi nessa maravilhosa cidade por aproximadamente 10 anos e conheci quase todos os proprietários dessas empresas. Muita saudade, e dá um nó na garganta ao recordar aqueles tempos que se foram e não tem como voltar no tempo. Parabéns caro Marcelo.
Arceu mael
16/02/2020 — 01:16
Nasci. Em uru. Sai de pirajui a 60anis. Meu pai sempre fOi administradorealizada de fazendas na região. . Moro em campinas. Duas vezes por ano vou até uru. Passo pelas fazendas e durmo na casa de um amigo de pirajui.. amo este pedaço de terra até hoje
funcionário Marcelo
17/03/2020 — 04:54
São passagens inesquecíveis em nossas vidas! Impossível ficar distante, não é mesmo Arceu! Muito obrigado pela leitura!
funcionário Marcelo
17/03/2020 — 04:54
Messias, você é magnífico! Obrigado pela leitura!
funcionário Marcelo
17/03/2020 — 04:55
vamos torcer, Elisabete! De fato seria maravilhoso retornar a esses tempos áureos. Obrigado pela leitura e os elogios!
Luis Carlos Velazquez
25/12/2020 — 16:07
Que delícia de matéria, foi bom demais conhecer em detalhes a terra deliciosa do meu amigo PAULO ORDONES LÓPEZ, e do seu e meu grande amigo CORREIA, VIVA PIRAJUÍ e todo nosso querido ESTADO DE SÃO PAULO.
Valdeli Sales de Carvalho
06/01/2021 — 16:52
Gostaria de saber informações sobre o Padre Francisco Elias Vartalo; pároco que rezeu a primeira missa na Matriz de São Sebastião antes Capella Pirajuhy São Sebastião em 24 de novembro de 1904 portanto há 116 anos, curioso hein………………Obrigado
funcionário Marcelo
06/01/2021 — 19:16
É uma excelente sugestão de pesquisa, Valdeli, vou ficar de olho! Será que o pessoal do Blog da Diocese de Lins não tem algo?
Marisa Pavan
29/08/2021 — 22:48
Meu avô Angelo Pavan tinha fazenda na Estiva Grande e minha mãe nasceu em 1919! Muito legal saber as histórias dessa época!