Foi você quem me fez assim

O desenho que gerou o rótulo do Guaraná Noroeste

É talvez um dos símbolos mais famosos de Pirajuí – acho que é, até mesmo, mais popular que o Peixe Dourado: o rótulo do Guaraná Noroeste.

Hoje fomos agraciados por um verdadeiro presente, enviado do arquivo particular do colega de crônicas e reportagens, Fagner Rossi.

Acreditem vocês que ele, simplesmente, me enviou uma fotografia com a seguinte mensagem: “esse é o desenho original que gerou o rótulo do Guaraná Noroeste”. Eu quase caí de costas.

Após entrevistar o autor do desenho, o centenário (isso mesmo, centenário) Joaquim Affonso de Brito, ou “Joaquim Borracha”, ele foi agraciado por esse maravilhoso presente.

O desenho maravilhoso feito pelo Joaquim Borracha nos anos 1930. Acervo: Fagner Rossi

O Guaraná do Cavalinho

A arte produzida pelo engenheiro é bem rudimentar, quase um rascunho, feito a lápis. À época, ele era um dedicado aluno do IEDAP, chamada atualmente de E. E. Alfredo Pujol.

Da obra inicial, é possível enxergar todo o conceito do rótulo do Guaraná Noroeste, que foi produzido posteriormente por um artista que não tenho a identificação (nem mesmo da gráfica que rodou o material). Se alguém tiver, por favor nos informe.

No esboço de Joaquim Borracha, já está uma característica marcante – e até semiótica – do produto: o conceito infinito gerado pelo fato de o índio estar carregando uma garrafa que tem no rótulo um índio carregando a garrafa e por aí vai…

Sr. Joaquim ao lado de sua criação, na comemoração dos seus 100 anos!

A criação do rótulo do Guaraná Noroeste

Para falar do Guaraná Noroeste, desde os seus primórdios, é necessário entender um pouco da biografia do pioneiro Manuel Pereira Eça.

De acordo com o livro Pirajuí, 100 anos, Pereira Eça chega a Pirajuí em 1920, como tantos outros do período – inclusive meus bisavós – vindos da Europa, para tentar a vida no interior de São Paulo.

Nasceu no distrito de Aveiro, região central de Portugal e passa por diversas cidades até chegar na terrinha. Trabalhou muito: foi oleiro, açougueiro e pedreiro. Nunca deixou o espírito empreendedor sair do seu caminho.

Em 1925, se casou com a mineira Januária Lopes da Silva. No mesmo período, inaugurou em um barracão a Destilaria Noroeste, que além de refrigerantes, também produzia cachaça, vinho, groselha e vinagre.

Imagem raríssima da Fábrica do Guaraná Noroeste ainda nos primórdios do município. Acervo: Silvio Borba

A indústria de bebidas seria apenas um de seus negócios na cidade: também teve empresa de torrefação de café, fábricas de sabão, gelo e ladrilhos. Até na imprensa atuou, com o jornal histórico A Vanguarda.

Segundo informações passadas pelo Sr. Joaquim ao Fagner Rossi, nos anos 1930 a Destilaria Noroeste passava a investir em uma outra variedade de refrigerante, de sabor mais adocicado.

Coube ao seu filho, o então jovem Silvio Pereira Eça, experimentar as provas até que chegasse ao sabor ideal, docinho, docinho,… Pronto! Nascia o até hoje lendário Guaraná Noroeste.

Silvio Pereira Eça, filho de Manuel. Coube a ele experimentar a nova fórmula

Para fazer o rótulo, de maneira bem criativa, o Sr. Manuel propôs um concurso cultural, entre os estudantes para se chegar até o vencedor.

Sr. Joaquim participou da proposta e, segundo sua filha Rita, concluiu a tarefa com apenas 10 anos de idade! Um detalhe que enriquece a narrativa: ao seu lado, nos bancos escolares, estava também Maud Pires Arruda, que viria a ser um dos maiores expoentes da arte, comunicação e ensino de Pirajuí.

O resto, todos sabemos, é um lindo e refrescante capítulo de nossa linda história!

Em tempo, após passar por outros proprietários, como a família Vital, o Guaraná Noroeste hoje é produzido em Birigui (SP), mas ainda tem uma legião de fãs!

Aliás, o desenho do índio que deu origem ao rótulo do Guaraná Noroeste encontra-se emoldurado na casa do Fagner Rossi, Merece, né?

Assinatura de Joaquim Borracha no envelope que guardava o desenho. Não sei o significado do número, algum registro do antigo IEDAP, será?

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