Foi você quem me fez assim

Maestro Villa-Lobos lançou a famosa Tocata em Pirajuí

Mais uma vez a história mostra que Pirajuí, em seu passado, foi palco de diversos fatos musicais de prestígio nacional: dessa vez, com o maestro Heitor Villa-Lobos.

Nos anos 1930, a cidade vivia uma época de grande efervescência social. Abrigando uma inestimável produção cafeeira, era considerado o maior município do mundo em número de pés e sacas.

Para a sociedade local, isso era sinal de grande prestígio, que atraía imigrantes de vários pontos do mundo, comerciantes e profissionais de diversas localidades em busca de novas oportunidades na promissora e jovem cidade.

Nesse período, politicamente falando, o estado de São Paulo era o foco da tensão com o Governo Federal. Getúlio Vargas havia deposto Washington Luis e as terras paulistanas, exportadoras de café pelo Porto de Santos, eram o centro do conflito.

Foi nesse contexto que Heitor Villa-Lobos, recém-chegado de Paris, sob efeito da crise mundial que atingiu o mundo com a Quebra da Bolsa de Nova Iorque de 1929, topa fazer um inovador movimento pelo interior de São Paulo, como descreve o autor Nataniel Marcos Bádue Filho na tese de pós-graduação da Unesp, intitulada A Excursão Artística: Villa Lobos pelo interior do Estado.

O jovem Villa-Lobos, em um registro compatível com a época em que visitou Pirajuí

Villa-Lobos, o Maestro

Um único artigo de blog não é suficiente para trazer a grandeza de Heitor Villa-Lobos.

Considerado como “a figura criativa mais significativa do Século XX na música clássica brasileira“, o carioca tornou-se o compositor sul-americano mais conhecido de todos os tempos.

Na música clássica, foi o primeiro a conseguir enxergar um olhar tipicamente brasileiro em suas composições. É considerado o maior expoente musical do movimento do modernismo no Brasil.

Exemplo de sua influência na música mundial são as suas Bachianas Brasileiras, conjunto de nove composições que, para resumir a genialidade, misturam folclore, música caipira e a erudição do estilo do compositor alemão, Bach.

Pirajuí e Villa-Lobos

E é justamente nas Bachianas Brasileiras, suas composições mais celebradas, que a história de nossa Pirajuí aparece.

Para ser mais específico, na execução da Tocata, última parte das Bachianas nº 2, e que também é conhecida como O Trenzinho do Caipira.

Nesse momento, o trem fazia parte da vida e da trilha sonora de Heitor Villa-Lobos. Com apoio do Governo de Getúlio Vargas, por meio do interventor paulista, João Alberto Lins de Barros, o maestro percorreu dezenas de cidades do interior, com o objetivo de mostrar e educar a população.

O projeto Excursão Artística Villa-Lobos teve início em 1931, com a participação de diversos outros músicos. Era marcado por uma série de “concertos de cunho didático, nos quais Villa-Lobos se apresentava com outros notáveis artistas e fazia, continuamente, sua preleção musical”.

Apesar de o movimento ter sido iniciado em 1931, a passagem por Pirajuí aparece nos registros como tendo se desenrolado em Janeiro de 1932.

Em uma apresentação na Rio do Peixe Dourado, fez história. Tocando um violoncelo, Villa-Lobos começou a imitar na música e no ritmo, o movimento da locomotiva nos trilhos.

Aparecia para o mundo ali, pela primeira vez, em Pirajuí, uma das mais conhecidas partes das Bachianas Brasileira, num arranjo de pouco mais de dois minutos.

Acompanhando o maestro, ninguém menos que João de Souza Lima, um dos mais ativos pianistas e regentes brasileiros nos anos 1940, 1950 e 1960. Dá seu nome a um famoso conservatório musical paulistano.

Ao contrário de outras cidades, não há mais detalhes sobre o local onde teria acontecido essa apresentação. Qual seria o prédio, há fotos desse evento? São perguntas que, quem sabe, um dia teremos a resposta.

Essa teria sido a primeira exibição pública da composição, que foi feita, literalmente, dentro de um trem entre Bauru e Araraquara. Consta que, inclusive, teve alguns erros durante sua execução, que rendeu broncas de Villa-Lobos a outros músicos.

Após Pirajuí, a Excursão Artística ainda passou por Cafelândia, Lins, Promissão, enfim, seguiu a Noroeste.

Souza Lima, um dos mais conhecidos pianistas do Brasil, também esteve em Pirajuí em 1932

Pirajuí e a música

Não é a primeira vez que Pirajuí cruza os caminhos da história da música. Para relembrar dois casos marcantes: sabia que Tião Carreiro e Pardinho se conheceram em Pirajuí.

Da terrinha, para a revolução da música caipira brasileira.

E sem falar de Tito Madi, que nasceu na terrinha, brincou muito na Estiva Grande, falou nos microfones da Rádio Pirajuí, foi para o Rio de Janeiro, fez o alicerce da Bossa Nova, influenciou Roberto Carlos, Djavan e foi até cantado em inglês pelo The Platters.

E para quem não conhece a canção de nome, feche os olhos, aperte o play, e tente pensar que essa belíssima canção, foi apresentada ao mundo, pela primeira vez, em nossa amada Pirajuí. Viva Villa-Lobos!

foto de capa: Museu Villa-Lobos

Outras fontes que citam Pirajuí como a cidade onde foi lançada a Tocata: aqui e, também, aqui.

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