Se você está aqui diante deste texto, certamente foi impactado pela campanha da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Rússia e, mais especificamente, pela atitude de nosso maior craque ao final do jogo contra a Costa Rica: o choro de Neymar Jr..

Após uma partida recheada dos mais primitivos sentimentos, o Brasil marcou dois gols já nos acréscimos – o que levantou a nação, que urrava a vitória, mas revelou um atacante sob pressão.

Neymar Jr. se ajoelhou no gramado e, com as duas mãos no rosto, tal qual Jesus naquela música dos Racionais MC’s, chorou.

O choro de Neymar não era marra, nem fingimento, nem ação de marcas de cueca ou lojas de departamento que têm aquela tag de plástico pendurada nas roupas. Eram lágrimas de alívio, barra pesada, cobrança de 200 milhões de brasileiros (fora os gringos metidos a torcer para outra nação).

Já falei por aqui neste Homem Benigno que não é nada fácil ser Neymar, mas faz-se necessário pontuar algumas reflexões.

Choro de Neymar e a função (carreira) de Neymar

É preciso encarar a ascensão e o brilho do jogador como o do atleta que sai do nada e abraça o mundo. Atravessa o continente e ultrapassa a condição de homem: vira marca, signo.

Claro que estou falando de esportes milionários. Nem se compara com a abnegação de um atleta como o mesa-tenista Hugo Hoyama que vem participando de Olimpíadas desde a época que elas eram na Grécia e as raquetes eram esculpidas em pedra polida – e ainda assim tem que caçar patrocínio.

O que quero dizer é: no esporte, a pressão é o combustível da porra toda.

Quando criança, tinha uma bibliotecária na escola que bradava: “ai Jesus, lá vem esses moleques retirar livros, DE NOVO”! Mas, espere aí, não é uma biblioteca?

Ou então o agente penitenciário que pediu para chamar a chefia logo no primeiro dia de trabalho, pois alegava que o edital do concurso não deixava tão claro que ele de fato teria de lidar com detentos.

O fato é que, diferentemente de outros jogadores, a carreira de Neymar Jr. foi (e vem sendo) “desenhada” – e aí vocês até podem inserir a figura de Neymar Pai – para que esse tipo de cobrança viesse pesada. Os louros serão potencializados, porém, os tombos, se vierem a acontecer, serão de uma altura maior.

Brasileiro de alma lavada

Não sou bidu, manjo zero de futebol e, para se ter uma ideia de minha racionalidade, uma vez cheguei a perder a tampinha do pen drive dentro do meu próprio bolso da calça – imagina se eu tenho condições de portar um revólver.

Mas o que posso dizer para vocês é que o choro de Neymar vai lavar nossa alma na Copa do Mundo da Rússia – mas a água será salobra.

Eu tinha um vizinho que falava “salobre”, mas acho que o termo correto é salobra mesmo, não consegui procurar no Google pois o micro estava fora da tomada.

A água salobra é a H2O salinizada. É uma natureza de fonte natural bastante comum no período Mesozóico, em terrenos com alta incidência de partículas vulcanizadas e em Lins (SP).

Um amigo meu trabalhava num frigorífico linense e contava que, ao tomar banho, depois de desossar umas 15 vacas, o sabonete parecia não sair do corpo. A água salobra lava e limpa, também, mas parece que você está sempre ensaboado.

Qualquer dúvida perguntem ao Mário Prata, acho que ele é de lá (ou tem parente lá, se não me engano).

Tenho a impressão que a Seleção e nós (povo) sairemos dessa competição vitoriosos, com aquela sensação de dever cumprido. O Brasil será HEXA! E nosso Neymar será parte importante dessa conquista.

Mas aí entra aquela velha mania besta de misturar futebol com outras coisas: tudo o que estamos vivendo, os desmandos, as incertezas, essa mentiraiada que todo mundo está compartilhando o tempo todo nas redes sociais, os inocentes morrendo ou vivendo de forma indigna.

Para mim, o momento mais lindo dessa Copa do Mundo até o momento foi o daquela genial fotografia do menino morador de uma favela no Rio de Janeiro, assistindo ao jogo do Brasil com uma camiseta amarela improvisada, com o número e o nome do jogador Phillipe Coutinho feitos no pincel atômico (aliás, gente, nessa cultura da paz, está na hora de mudarmos o nome dessa caneta hein!?).

O evento na Rússia vai deixar Neymar mais rico, Coutinho também, Galvão Bueno também, talvez até os cabeleireiros e os “parças” vão ter seus méritos – e quero deixar claro que são todos merecedores. Lutaram para estar lá.

No entanto, se ao final de tudo isso, esse menino da favela, o pequeno Wallace, também enriquecer, mesmo que seja apenas com uma oportunidade, acho que vai tirar um pouco essa sensação de que ainda estamos com o corpo ensaboado.

Reprodução da GENIAL imagem feita pelo fotógrafo Bruno Itan

 

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