Foi você quem me fez assim

O grande filatelista de Pirajuí: Amir Maggi

Não sei por qual motivo, houve um momento no início dos anos 1990 em que a molecada em Pirajuí resolveu se meter a colecionar moedas e cédulas antigas – e de outros países.

Era comum ver os adolescentes pelas ruas com caixas contendo as coleções. Buscavam as notas entre seus familiares mais velhos, ou pessoas de Pirajuí que por uma razão ou outra tinham esse material em casa e gostariam de se desfazer.

Tinha até um sujeito em Bauru, acho que era Aguinaldo o seu nome, que possuía uma pasta repleta de notas de todas as épocas e localidades do mundo – e as vendias por um dinheirinho bem alto para a época. Ainda mais para uns moleques pés-rapados como éramos.

Enfim. Foi por meio da numismática que fiquei sabendo da existência desse senhor Amir Maggi.

Amir Maggi foi o maior colecionador da história de Pirajuí

Logo de cara já soubemos que cédulas e moedas não eram muito bem a praia desse homem que morava na Rua Rachid Cury, mas sim os selos: era filatelista – e dos bons!

Amir Maggi era um homem muito alto, corpulento, de ombros largos e cabelos brancos impecavelmente penteados para o lado e para trás. Estava sempre com camiseta colocada por dentro da calça ou bermuda e mantinha um semblante sério, que às vezes até parecia bravo.

Mas era sempre atencioso e cordial quando conversávamos com ele – afinal, não é qualquer um que dá atenção para um bando de moleques, não é mesmo?

Sua paixão pelos selos começou ainda criança, aos 12 anos de idade. Nos deixou em janeiro de 2005, aos 75 anos e colecionando. Foram mais de 60 anos de dedicação à filatelia.

Era um defensor implacável do colecionismo. Sempre que podia, estampava esse tema em sua coluna Filatelia & Numismática que foi do jornal A Gazeta de Pirajuí e, posteriormente, para o semanário A Cidade de Pirajuí, ambos do Orlando Moreira.

Coluna essa que era sua grande paixão. Quando eu já trabalhava com jornalismo em Pirajuí, pude acompanhar as entregas dos textos de Amir Maggi ao jornal. Sua preocupação com detalhes na diagramação e, posteriormente, com a expedição desses exemplares para clubes de filatelia de todo o Brasil eram gigantescas. Sempre foi muito perfeccionista.

O filatelista reconhecido nacionalmente

A morte de Amir Maggi não marcou apenas o encerramento, em 2005, da Associação Filatélica de Pirajuí no mapa de colecionadores, mas também deixou uma marca em toda a rede de filatelistas do Brasil.

A edição 145 da revista da FILACAP, do ano de sua morte, registrava o passamento do icônico colecionador. Na nota constava: “Filatelista, pesquisador e jornalista filatélica atuante, o falecimento de Amir Maggi deixa uma imensa lacuna na filatelia paulista”.

Sua outra paixão: a Variant

amir maggi
Variant 1972 quase que totalmente original de Amir Maggi – sua outra paixão

Se você não tinha conhecimento da trajetória de Amir Maggi como o grande filatelista pirajuiense, é provável que certamente se lembre de seu xodó, a Volkswagen Variant ano 1972, que foi mantida em sua garagem extremamente conservada – quase intacta –, até tempos depois de sua morte.

Conversando com sua filha Eliane – a quem agradeço imensamente por fornecer dados para esse artigo –, soube que o amado carro foi vendido apenas ano passado. Um colecionador sortudo se apaixonou pelo modelo e comprou a relíquia, que estava quase que totalmente com componentes originais.

Infelizmente, o zelo e a paixão pela filatelia de Amir Maggi eram tamanhos que, nesse tempo todo, apesar de ter influenciado toda uma geração de colecionadores, não conseguiu prolongar o seu legado para integrantes da família. Era uma dedicação só sua – quase religiosa.

A forma como ele cuidava, observava, pesquisava, catalogava e divulgava seus selos – e até mesmo a maneira quase única com que cuidou de seu carro – mostram o tipo de ser humano que foi Amir Maggi. Uma pessoa única, inimitável.

Certa vez eu estava ao lado enquanto ele conversava com uma terceira pessoa. Ao falar com o colecionador, o sujeito o chamou equivocadamente de “Almir”. Maggi não pensou duas vezes: com dedo em riste (e sua coluna semanal no jornal debaixo do braço) ele reforçou: já te falei um milhão de vezes que meu nome é A-mir, AMIR!

O maior filatelista da história de Pirajuí!

 

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