Foi você quem me fez assim

O inesquecível sanduíche do Bar Jacinto

Ainda falando dos estabelecimentos comerciais clássicos de Pirajuí, impossível não lembrar do lendário Bar Jacinto.

Mais que um bar, boteco ou lanchonete, o Bar Jacinto foi símbolo de uma época: signo da boemia e do entretenimento no Centro da cidade de Pirajuí – como diz meu amigo Osmar Paterlini, da “Pedra”, nome que ele dá à região da Rua Treze de Maio próxima à Praça Dr. Pedro da Rocha Braga (O Jardim), hoje ornamentado com um moderníssimo semáforo (veja só)!

Quando contam sobre esse bar, dificilmente deixam de citar uma de suas delícias. Talvez das mais saborosas iguarias da história culinária de Pirajuí: o inesquecível sanduíche do Bar Jacinto.

Não vivi nessa época. Nasci décadas depois. Mas quando me contam sobre esse lanche, como leremos depoimentos de pirajuienses a seguir, é possível imaginar e até sentir o sabor do famoso sanduíche quentinho, feito na hora.

Bar Jacinto
A bela e romântica Treze de Maio na Pirajuí dos anos 1960

O Bar Jacinto

Mais uma vez, não temos aqui datas exatas. Estamos falando dos anos 1960. O belíssimo prédio foi construído na esquina da Rua Treze de Maior com a Avenida do Fundador João Justino da Silva – tendo o nosso belo Jardim como pano de fundo.

E quando falamos de uma bela construção, não há exagero. Até hoje a obra é imponente. Ocupou a esquina desde então e a ela imprimiu identidade. O prédio do Bar Jacinto é quase um símbolo de Pirajuí. Estou errado?

No andar de cima, há uma diversidade de salões, com acesso por uma escada lateral. E, no bar em si, foi construído um reservado, para os clientes ocuparem as mesas ao saborear as delícias do cardápio.

No Facebook, uma pirajuiense observou de forma muito curiosa que o granito do lado de fora da esquina do Bar Jacinto estava sempre brilhante, polido pelas crianças que desciam da escola (Pujol e Bilac) e esfregavam as roupas na parede!

Bar Jacinto
Na foto Jorge, com seu lápis na orelha, ladeado do irmão Pedro. (Essa linda foto é do acervo familiar da Maria Lucia, filha do Sr. Pedro)

Os irmãos Ferreira

O nome do bar é Jacinto – pois homenageia o patriarca. Quem comandava o balcão e todo o resto eram os seus filhos Jorge, Pedro e Luis Ferreira (todos já falecidos — agradeço à Luciana Beraldo, neta do Sr. Pedro, pelas informações)

Algumas das informações desse texto – e o emocionante acervo fotográfico – vieram do neto do Jacinto, aliás, seu homônimo: Jacintho Ferreira Neto.

Há quatro décadas longe de Pirajuí, Neto é Sargento da Polícia Militar, com passagens pela Força Tática na cidade de Mauá, região do Grande ABC.

Após um período de muito sucesso comercial, o estabelecimento foi vendido para o Roberto Mangolin (in memoriam) que, pelo que consta, manteve o nome Bar Jacinto. Posteriormente, seria vendido ao Argemiro Guermandi, que começaria uma nova era com o também famosíssimo Miru’s BAR (esse também merece ter sua história contada, hein pessoal)

O Cardápio

Não era merceria. O Bar Jacinto era, de fato, um bar-lanchonete.

No estabelecimento era possível tomar os deliciosos refrescos, experimentar um frapê ou comprar cigarro. Isso sem falar nas bebidas alcoólicas (quentes e geladas), tomar um Campari, uísque ou batida.

Os holofotes iam sempre para os sandubas. Quando pergunto para o meu pai como era o sanduíche ele apenas resume: “o lanche era chique demais”. Chique no sentido de saboroso, feito com bons ingredientes e extrema habilidade.

Mas é importante lembrar que o chique também tinha uma questão social: nem todo mundo, naquela época, tinha dinheiro sobrando em casa para simplesmente parar na esquina do Centro e comer um lanche. Acho que isso também tornava a experiência de comer no Bar Jacinto inesquecível!

Bar Jacinto
O prédio do Bar Jacinto em uma versão mais recente – mas ainda antiga. Hoje é uma loja de roupas

Com a palavra, os clientes

Toda vez que se fala do Bar Jacinto no Facebook, logo chegam dezenas de depoimentos de pirajuienses nostálgicos pelo estabelecimento…

O nosso querido leitor José Roberto Pavão, o “Bell” – que não demoraria muito para deixar Pirajuí, na década seguinte – lembra que saía das matinês do Parque Clube com um dinheirinho contado, o troco que sobrara da folia.

O motivo? Passar no Bar Jacinto e saborear um Bauru feito pelos irmãos Ferreira, bebendo um geladíssimo frapê de coco.

O balcão e as cadeiras do saudoso bar também marcaram a infância do José Manoel Ricardo, o conterrâneo “Picolé”. Aos domingos à noite, lá estava o futuro jogador do Palmeiras, bebendo os famosos e variados refrescos ali servidos.

E assim, de copo em copo, de lanche em lanche, ficaram marcados na trajetória de Pirajuí as histórias, causos e lendas do Bar Jacinto – que foi tão especial que, até hoje, passados mais de 50 anos, seu nome ainda escapa nas conversas dos pirajuienses. “Eu vi Fulano passando em frente onde era o Bar do Jacinto”.

 

Leia também:

O eterno Bar da Palmira (ou Bar da Tia)

Reflexões sobre o tamanho do hambúrguer em Pirajuí (e no Interior)

« »