Foi você quem me fez assim

João Luz: o comunicador que tinha a voz do povo

O radialista e comunicador João Luz nos deixou precocemente, numa triste sexta-feira do ano de 2012.  Hoje o Homem Benigno vai lembrar um pouco dessa figura tranquila e carismática, que trouxe aos ouvintes de rádio de Pirajuí e região uma nova maneira de entretenimento.

As experiências vividas na região metropolitana de São Paulo deram a João Luz uma bagagem diferenciada na hora de fazer suas locuções. Sem impostar a voz, seus programas eram basicamente conversas intimistas com o público. Seu tom de voz, as palavras que usava, a maneira como noticiava e anunciava: eram muito parecidas com a voz do povo nas ruas.

Nas épocas da Pirajuí Rádio Clube, fazia parte das quatro vozes de ouro do sertanejo da emissora, ao lado do grande Compadre Juca, do saudoso Edu Nascimento e do meu professor José Wilson Martins.

O Radialista

Conheci o João nos corredores da Pirajuí Rádio Clube, no final dos anos 1990, nos meus primeiros dias na emissora (posteriormente ele trabalharia também na Rádio Jornal FM). A primeira coisa que pensei ao cumprimentá-lo: ele demonstrava uma calma muito grande para o tamanho de homem que era.

Alto, com braços de quem fazia academia, corrente no pescoço, ele tinha todo o tipo de ser um sujeito de botar medo numa briga – era só impressão! Seu cartão de visitas era o jeito suave de ser e tratar as pessoas e o trabalho. Comunicador nato, era praticamente impossível não deixar-se contagiar por sua simpatia logo nas primeiras palavras.

A mesma maneira tranquila estava no estúdio de locução, no anúncio das músicas e até na leitura de anunciantes – era marca registrada. Nem mesmo nas apresentações de eventos, em meio a tanta gente e sob a acústica geralmente sofrível, ele perdia o tom e o bom humor.

Aliás, para mim, sua maneira de comunicar foi uma escola. Durante os eventos que eu apresentava, notá-lo nas arquibancadas do Gigantão lotado, sempre de braços dados com a sorridente esposa Irene, me transmitia uma segurança ainda maior. Era como se, repentinamente, eu estivesse “em casa”.

Homem bondoso

Era um final de tarde, não saberia dizer qual o ano ao certo, um ouvinte telefonou para a Rádio Jornal para denunciar um grande buraco numa rua da Vila Araújo, que estaria gerando transtornos à comunidade (um carro estava com a roda enfiada na cratera!!!).

No local, lá estava João Luz, prostrado frente ao buraco, com o telefone celular na orelha, no ar na programação da rádio. Ele estava passando por lá quando viu todo o caos acontecendo. A revolta dos populares dava para ser ouvida nas ondas da FM durante o improvisado boletim ao vivo.

Mas João era um sujeito tão bonzinho, sempre tão atencioso que, até na reclamação, era possível notar o seu jeitão de bem com a vida, brincalhão e pacato. Nas palavras dele, o buraco mais parecia um pequeno furo no asfalto. Era sua maneira bondosa de encarar o mundo.

Religioso, amigo, espirituoso, discreto, tocador de violão, talentoso e sempre disposto a ajudar o próximo. Esse é o João Luz que conheci e que até poucos dias antes de sua partida, ao me encontrar, onde quer que estivesse, mesmo que do outro lado da rua, fazia questão de abrir o seu sorrisão e emitir, na voz de locutor, um “Marrrrrrrrrcelo Daniel”!

Na hora eu também retribuía o sorriso amigo e respondia: “João da Luz”! E era bem assim mesmo, uma pessoa que sua presença (seja ao vivo ou nas ondas do rádio) trazia iluminação para nossa jornada. 

Artigo originalmente publicado no semanário O Alfinete, com modificações, em 2012

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