Foi você quem me fez assim

Você já viu o quadro do dinossauro na rodovia? Onde?

Em Pirajuí, nos anos 1980 e 1990, dar um pulo na Rua 13 de Maio, ponto mais central do município, significava comer no Suco 13 – e, assim, ver o Dinossauro na Rodovia.

Eu explico: além do balcão em forma de U e as banquetas redondas fixadas no chão, que circundavam a sempre abastecida e deliciosa estufa de salgados, havia detalhes na parede: os quadros!

Me lembro de uma fotografia, que trazia uma macaco jogando tênis e, é claro, a grade atração: o quadro Dinossauro na Rodovia.

O famoso quadro Dinosaurier auf der Autobahn, de Giuseppe Reichmuth, que ficava no Suco 13 em Pirajuí

Era espetacular… No meio de uma estrada bem larga – o título original já a identifica como Autobahn, as imponentes rodovias europeias – um braquiossauro gigante, tão grande que faz um carro arrebentar o guardirreio e gera aquele trupé no trânsito todo. Um caos!

O realismo do traço simplesmente me fazia pirar. A comida ficava em segundo plano, tamanho era o encantamento com a cena jurássica que juntava esses dois mundos bem ali na nossa frente.

O Suco 13

Como já contamos por aqui em outras ocasiões, o Suco 13 era (e é) uma instituição local.

Para muitos, era a escapada para um salgado saboroso no meio da tarde, que lembra a infância. Suco de laranja sem igual e a abacatada que move gerações em Pirajuí. Para outros tantos, diante do baixo preço da unidade, um salgado do Suco 13 é o que dá para se ter de almoço – e sustenta, viu!?

Foi do saudoso Sr. Aido, que fez história e montou essa parede com o quadro-tema deste artigo e, posteriormente, o estabelecimento foi vendido para Vanilto Natal, que também já se consolida como um dos mais longevos comerciantes do ramo de alimentação local.

Alguns integrantes da equipe atravessam gerações, como é o caso do Amarildo, que está há uns 30 anos já atrás do balcão, sempre com o copo do liquidificador em uma das mãos – sem falar que arranja tempo para ser o mais experiente paraquedista de Pirajuí .

O Suco 13 e as gerações: o fundador Aido, o atual proprietário Vanilto, Gu, que trabalhou muitos anos na equipe e Amarildo – todos ao melhor estilo Gracie

Estive na terrinha há alguns meses e tive a oportunidade de perguntar ao Amarildo: “De onde o Aido arranjou esse quadro Dinossauro na Rodovia”?
Não soube responder… aliás… foi ele quem me atentou para uma outra questão importante. Ali não era o único dinossauro existente na parada.

Onde você já viu o Dinossauro na Estrada?

Amarildo disse (e depois a Telma, filha do Aido, que mora em Londrina, PR, onde comanda o site O Londrinense, também confirmou) – o quadro também estampava a parede da filial do Suco 13, em Garça, que era “tocada” por um concunhado.

Mas daí, meus amigos, já estamos na era da internet e, apenas uma tuitada sobre o assunto foi suficiente para saber que o quadro estava espalhado por todo Brasil.

No antigo restaurante Casarão, em Leme (SP), em fliperamas em Poços de Caldas (MG) e por aí vai, sem contar as inúmeras paredes de casas de avós e tios. Aliás, escreva abaixo nos comentários onde você já viu esse quadro!

Diante da constatação, impossível não ficar curioso: de onde vem essa arte, qual a história do quadro do Dinossauro na Estrada?

Dinosaurier auf der Autobahn

Alguns blogs como o Amigos do Fórum e o Data Marcos fizeram excelentes posts sobre esse assunto, que serviram como referência para este artigo.

Falar do quadro Dinossauro na Rodovia significa fazer uma viagem até os anos 1980, para conhecer o trabalho do recluso artista suíço Giuseppe Reichmuth, hoje com 75 anos.

O autor, Giuseppe Reichmuth – foto: site oficial do artista

Formado na conceituada Kunstgewerbeschule Zürich, a Escola de Artes Aplicadas de Zurique, curiosamente tem os grandes sucessos em sua trajetória em excessões na sua técnica.

Os dois quadros que lançaram Reichmuth para todo o planeta são hiper-realistas – uma prática que ele não voltaria a visitar em sua obra, que prossegue na ativa até hoje.

O primeiro foi Zurich Ice Age, de 1975, uma belíssima paisagem que trouxe um ousado e maravilhoso resultado final – e que se transformou em populares cartões postais à época.

A belíssima e ousada obra, que mescla pintura a óleo com guache: Zurich Ice Age

Em seguida, em 1980, chegava a hora de produzir o Dinossauro na Rodovia.

Albert Ernst, um suíço dono de um atelier que havia conduzido a impressão dos pôsteres e postais anteriores, fez então uma encomenda ao artista.

Queria uma quadro para a exposição Grün 80, na cidade da Basileia. Com a temática “verde”, como diz o nome, para a exposição foi feita uma colina diante do belo céu azul – notem que a placa na Autobahn indica a Basileia (Basel) como destino.

Como o quadro não ficou pronto a tempo, Ernst pediu algo mais pitoresco e, imediatamente, o artista teve a ideia de botar um dinossauro na estrada – “assim, no tempo presente, e o caos do tráfego que surgiria de lá”, revelou em texto no seu site oficial.

Já que era uma encomenda, entregou a arte para o cartaz e cobrou 4 mil francos. Tanto que o nome de Reichmuth sequer aparece assinado. “Alguns anos depois, as pessoas dos EUA voltaram e disseram que tinham acabado de ver o dinossauro como em cartazes, mas também em camisetas”.

Ou seja, a década seguinte seria simplesmente tomada pelos dinossauros na rodovia – mas a grana dessa explosão, infelizmente, não chegaria aos bolsos de Reichmuth. Mas, como é possível notar em entrevistas e perfis com o artista, não é algo que ele carregue como uma grande mágoa ou drama.

O quadro do dinossauro no Brasil

Ao que sabemos até agora, essa mesma onda que levou a imagem do Dinosaurier auf der Autobahn para os Estados Unidos, também chegou ao Brasil.

Não sabemos qual foi o meio inicial que propiciou essa verdadeira mania nacional, com os dinossauros espalhados por todas as paredes.

Mas, nos comentários dos posts de blogs que já falaram sobre o assunto, foi possível encontrar a importância de uma empresa paulistana nessa difusão.

Não sabemos se foi ela quem, inicialmente, espalhou o quadro do Dinossauro na Rodovia, mas a Litogravura Martinelli passou a aproveitar o momento.

Estabelecimento familiar muito tradicional nas artes paulistanas, tem sua fundação ainda em 1935, por Silvio Martinelli, fabricante de estampas religiosas.

Diante do sucesso de Reichmuth, surge uma nova figura na história, o artista plástico carioca Valentim Keppk. Sob seu pincel, os dinossauros passam a invadir outros cenários, como corridas de Fórmula Indy e, até mesmo, a Praia de Copacabana.

O dino gostou tanto do sucesso que veio dar um pulo no Brasil, por Valentim Keppk – crédito, loja Martinelli

Até hoje é possível comprar as gravuras na loja online.

Isso foi o que consegui resgatar sobre o quadro Dinossauro na Rodovia, seja o do Suco 13 ou de qualquer outra parede espalhada por aí. Se vocês tiverem mais detalhes sobre a distribuição e vinda da obra para terras brasileiras, compartilhe com a gente.

Afinal, não é todo dia que um dinossauro desses aparece no meio da estrada.

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